Rosto de fóssil humano mais antigo das Américas é reconstruído digitalmente

Eva de Naharon foi descoberta em uma caverna no México em 2002. Agora, podemos ver como ela se parecia.

Por Miguel Vilela
Publicado 22 de ago. de 2018, 17:54 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Rosto de fóssil humano mais antigo das Américas é reconstruído digitalmente

Já se sabia que o fóssil humano mais antigo das Américas pertencia a uma jovem mulher que morreu quando tinha entre 20 e 30 anos, há cerca de 13,6 mil anos. Apelidada de Eva de Naharon, ela media 1,41 metros e pesava mais ou menos 53 kg. Apenas agora, contudo, graças a um método de reconstrução digital em 3D, podemos ter uma ideia mais real de como era a Eva de Naharon.

O designer brasileiro Cícero Moraes, a pedido do pesquisador mexicano e explorador da National Geographic Octavio Del Río, do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (Inam), produziu uma reconstrução em três dimensões do rosto da mulher de Naharon a partir de fotos de seu crânio, encontrado no estado mexicano de Quintana Roo em 2003 por uma equipe de arqueólogos e espeleólogos co-dirigida por Del Río.

O nome Naharon é uma referência ao local onde ela foi encontrada: uma caverna que é parte de um grande sistema de rios e fossas submersas na Península de Yucatan, extremo sudeste do México. Com o nível do mar mais baixo há cerca de 10 mil anos, essas cavernas ficavam pelo menos parcialmente secas e serviam de abrigo e refúgio para as intempéries do clima e de predadores. Por isso, e também pela maior presença de mergulhadores e arqueólogos amadores, vários fósseis humanos e da megafauna do fim do Pleistoceno e início do Holoceno já foram descobertos na região.

Del Río liderou uma série de expedições de coleta de fósseis no fundo dessas cavernas e destaca que, além de Eva de Naharon, outros antigos restos humanos encontrados no sistema – entre eles a mulher de Las Palmas, também descoberta em Naharon, e Naia, uma garota de 15 anos encontrada no cenote Hoyo Negro, mais ao norte – possuem características que reforçam a teoria da origem asiática desses americanos.

O trabalho do designer Cícero Moraes "coincide com [a teoria de] uma possível migração desde o sul da Ásia, através do estreito de Bering até a península de Yucatan", disse Del Río em entrevista para a National Geographic Brasil. Para o pesquisador, a importância de se reconstruir o rosto da Eva de Naharon é trazer esses personagens da antiguidade para os tempos atuais. "Esse personagem histórico que conhecemos há 16 anos ficou 13,6 mil anos no anonimato", disse Del Río. "Agora, ela finalmente está aqui para se apresentar ao mundo".

Para o professor Alejandro Terrazas, que estudou o esqueleto de Naharon em 2008, o fóssil ajuda a aprofundar o conhecimento sobre o povoamento do sul do México, do Caribe e da América do Sul e complementa as importantes contribuições arqueológicas do sítio da Lagoa Santa e de outros descobrimentos no Brasil, mas não desvenda a fisionomia dos primeiros americanos. Por causa da existência de vários sítios arqueológicos muito bem datados e muito mais antigos – porém sem restos ósseos –, Terrazas disse em e-mail à National Geographic Brasil que "podemos afirmar que não conhecemos a aparência física dos primeiros americanos".

Design pré-histórico

O designer brasileiro Cícero Moraes é um especialista em reconstruções faciais forenses e tem um rol de personalidades históricas reconstituídas em seu currículo. Entre elas, a face de São Valentim e o rosto de Dom Pedro I, cujo processo se baseou em uma foto do crânio do imperador feita pelo fotógrafo da National Geographic Mauricio de Paiva.

Esse portfólio chamou atenção de Del Río, que entrou em contato com Moraes e propôs a reconstituição da Eva de Naharon. O processo se baseou em um conjunto de fotos de diferentes ângulos do fóssil. A partir das imagens, Moraes pôde criar um modelo tridimensional do crânio que, incompleto, precisou de um "enxerto". Como algumas partes foram desgastadas ao longo dos milhares anos que passou no fundo da caverna, os pedaços faltantes do crânio de Naharon foram preenchidos digitalmente com partes equivalentes de um crânio parecido – o da mulher de Las Palmas.

Para Moraes, o resultado do trabalho, como toda reconstrução facial, é apenas uma aproximação das feições da mulher ancestral. Mesmo assim, foi surpreendido quando chegou à imagem finalizada. Ele disse que esperava traços menos delicados para alguém que supostamente usava os dentes como ferramentas. "Normalmente, esperamos que esses fósseis tão antigos tenham deformações faciais e assimetrias", disse Moraes em entrevista à National Geographic Brasil. "Mas, quando montamos, tudo se encaixou perfeitamente e tivemos um rosto harmônico, agradável aos olhos”.

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