'Monstro marinho' fossilizado encontrado na Antártida era o mais pesado do gênero

Com 15 toneladas, o maior elasmossauro já descoberto corrobora a teoria de que a Terra abrigava um vibrante ecossistema marinho logo antes de os dinossauros serem extintos.

Por Joshua Rapp Learn
Publicado 7 de jun. de 2019, 18:32 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma ilustração mostra um elasmossauro nadando em águas turbulentas. O fóssil antártico é agora o animal mais pesado já conhecido nesse grupo de répteis marinhos pré-históricos.
Foto de Ilustração de STOCKTREK IMAGES, INC. / ALAMY

Foram necessárias décadas de resistência ao clima severo em uma pequena e desolada ilha na Península Antártica. Mas agora os cientistas finalmente descobriram o elasmossauro mais pesado já conhecido, um réptil marinho pré-histórico que habitava os mares do período Cretáceo na mesma época dos dinossauros. O animal teria pesado cerca de 15 toneladas, e é agora um dos fósseis de réptil pré-histórico mais completos já descobertos na Antártica.

Os elasmossauros compõem uma família de plesiossauros, que representam algumas das maiores criaturas marinhas do Cretáceo. Os plesiossauros geralmente se parecem com grandes peixes-bois, com pescoço de girafa e cabeça achatada, embora tenham quatro nadadeiras e não três.

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101 | Plesiossauros
Conheça os répteis marinhos que dominaram a Terra na época pré-histórica.

A equipe acredita que o peso-pesado recém-descoberto pertença ao gênero Aristonectes, um grupo cujas espécies são consideradas distintas de outros elasmossauros, pois diferem bastante dos fósseis descobertos nos Estados Unidos. Esse gênero, encontrado no hemisfério sul, é caracterizado por pescoço curto e crânio grande.

"Isso foi um mistério durante muitos anos. Não sabíamos se eles eram elasmossauros ou não", afirma José O’Gorman, paleontólogo do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica da Argentina (Conicet), sediado no Museu de La Plata, próximo a Buenos Aires. "Eles eram como plesiossauros estranhos que ninguém conhecia."

Os pesquisadores precisavam de um espécime mais completo e, conforme aconteceu, William Zinsmeister da Universidade de Purdue havia descoberto um possível candidato na Ilha Seymour – logo ao sul da porção norte da Península Antártica – durante uma expedição em 1989. Contudo, na época, ele não possuía os recursos para escavar o fóssil, mas informou pesquisadores na Argentina sobre a descoberta.

Escavações glaciais

O Instituto Antártico Argentino se envolveu e começou a escavar o fóssil como parte de suas expedições anuais de pesquisa, mas o gigante réptil foi sendo revelado em ritmo glacial devido às condições climáticas e à logística.

O’Gorman, que tinha cinco anos de idade quando o fóssil foi descoberto, começou a participar de viagens desse tipo em 2012. Somente era possível trabalhar em algumas semanas de janeiro e no início de fevereiro. Em alguns anos, não houve nenhuma atividade de escavação devido às condições do tempo e aos recursos limitados. Em dias de atividade, a equipe precisava esperar que o sol descongelasse o solo antes de conseguir escavar, e cada pedaço removido precisava ser enviado de helicóptero à Base Marambio, uma base argentina localizada a alguns quilômetros de distância.

"O clima é um dos problemas. O clima controla tudo. Talvez seja possível trabalhar em um dia e no outro não devido a uma tempestade de neve", afirma O'Gorman.

"Para começar, o processo requer um pouco mais de esforço e logística, sem falar que não é nada comum se deparar com um fóssil desses", concorda Anne Schulp, paleontólogo de vertebrados da Universidade de Utrecht na Holanda e do Centro de Biodiversidade Naturalis, que não participou da pesquisa.

Um colosso entre gigantes

A escavação finalmente terminou em 2017, tendo extraído uma grande parte do esqueleto do animal, descrito por O’Gorman e seus colegas em um artigo recentemente publicado na revista científica Cretaceous Research.

"Não conseguimos o crânio, mas temos muitos pedaços do animal", afirma O’Gorman.

Eles estimam que o elasmossauro, que ainda não tem nome, pesava entre 11,8 e 14,8 toneladas, e tinha 12 metros de comprimento, da cabeça à ponta da cauda. Ao passo que alguns Aristonectes anteriormente descobertos pesavam cerca de 11 toneladas, a maioria dos elasmossauros pesava apenas cinco toneladas.

"Esse cara é enorme!", disse Schulp ao olhar as fotos dos ossos.

Ele acredita que o trabalho foi bem feito e está contente com o fato de a equipe não ter se apressado para chegar a nenhuma conclusão – O’Gorman até mesmo hesita em afirmar se a espécie é mesmo do gênero Aristonectes, pois novas evidências podem classificar a espécie em um gênero diferente e totalmente novo.

O último chamado do Cretáceo

Schulp trabalhou com alguns plesiossauros na Holanda, mas ele afirma que os répteis aquáticos são muito diferentes no hemisfério sul. O novo espécime é também muito interessante porque é de uma época próxima ao fim do período Cretáceo – apenas 30 mil anos antes do evento de extinção em massa que dizimou os dinossauros terrestres há cerca de 66 milhões de anos.

Provavelmente havia muita vida marinha nesse período para saciar a fome de uma criatura tão grande. Então, o fato de que esses animais continuaram existindo até o fim do Cretáceo é mais uma prova de que pelo menos o mundo aquático estava muito bem até o repentino evento de extinção em massa.

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"Até mesmo na Antártida, havia inúmeros elasmossauros vivendo felizes", diz Schulp. A diferente morfologia da espécie também demonstra que ainda ocorria especialização nessa época tardia da existência dos plesiossauros. "É com certeza uma indicação de que [os plesiossauros] conseguiram aumentar seu repertório de alimentos no fim do Cretáceo", afirma Schulp.

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    Apesar da dieta exata do animal não poder ser conhecida sem um conteúdo estomacal fossilizado ou outras evidências, O’Gorman acredita que eles provavelmente se alimentavam de crustáceos e peixes menores, já que seus dentes são pequenos.

    O trabalho nos ossos escavados ao longo das últimas décadas apenas começou. Agora que os materiais estão em um museu, O’Gorman diz que há muitas outras pesquisas que podem ser feitas nesse espécime pré-histórico.

    Schulp também diz que o trabalho aumenta o conhecimento atual sobre os plesiossauros, e ele está animado em ver paleontólogos argentinos voltarem a explorar e encontrar mais fósseis.

    "O hemisfério sul, pelo menos no que diz respeito aos plesiossauros, com certeza poderia receber mais atenção", afirma ele.

    Quanto a O’Gorman, ele parecia entusiasmado com toda a experiência: "Fazia muito frio, mas foi muito legal. Foi uma aventura”.

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