Carrapatos sugadores de sangue fazem cimento para grudar na pele
Cientistas acreditam que a cola natural dos parasitas vetores de doenças também pode ser útil para nós.
Os parasitas sugadores de sangue que podem transmitir doenças mortais criam seu próprio cimento para grudar nos nossos corpos, diz um novo estudo.
Carrapatos duros, uma família de 700 espécies que inclui o carrapato do veado, transmissor da doença de Lyme, usa pinças e bocas para se prender à pele do hospedeiro. Mas às vezes esse aperto não é forte o suficiente para o aracnídeo se fixar e se alimentar enquanto o hospedeiro se move.
Sylvia Nürnberger e alguns colegas descobriram que os carrapatos duros têm uma ferramenta extra que usam na pele dos seus hospedeiros, uma espécie de cola feita de proteínas em sua saliva.
"Nem todas as espécies o possuem e nem todas as espécies o possuem na mesma quantidade", diz Nürnberger, pesquisadora do Departamento de Ortopedia e Cirurgia de Trauma da Universidade Médica de Viena.
A descoberta do cimento poderia realmente beneficiar os seres humanos, ela informa, pois suas propriedades podem ser reutilizadas em um adesivo médico.
NADA a SE DESPREZAR
Para o estudo, os cientistas revisaram todas as pesquisas científicas existentes sobre a saliva do carrapato, o que lhes deu uma visão maior dessa substância anteriormente não relatada.
A saliva do carrapato é complexa e contém propriedades que suprimem o sistema imunológico do hospedeiro para mantê-los inconscientes da intrusão, suprimindo também a dor e a coceira, de acordo com o estudo publicado.
"De certa forma, eles brincam com o sistema imunológico do hospedeiro", diz Nürnberger.
O novo estudo é "uma revisão notavelmente detalhada de uma coisa bastante obscura", observa Tony Goldberg, professor de epidemiologia da Escola de Medicina Veterinária da Universidade de Wisconsin-Madison.
Todos os organismos que sugam sangue – não apenas carrapatos, mas sanguessugas e mosquitos – devem "lidar com uma variedade de defesas do animal de quem está se alimentando", ele observa.
Ele tem conhecimento pessoal disso: Goldberg descobriu uma nova espécie de carrapato preso em seu nariz depois de visitar Uganda há vários anos.
"Eu posso dizer que essa coisa tem uma cola poderosa", diz ele.
PARADOXO DO CARRAPATO
As propriedades na saliva do carrapato também reduzem as defesas do hospedeiro contra patógenos como a doença de Lyme, acrescenta.
"É um paradoxo. Uma das funções desse cimento é agir como antimicrobiano, de modo que os carrapatos não causam uma infecção que os impeça de se alimentar", diz Goldberg.
"No entanto, há uma enorme quantidade de horríveis doenças de carrapatos que se encaixaram nesse sistema e nos são transmitidas na saliva."
A técnica dos carrapatos para se retirarem da pele é menos clara, mas Nürnberger diz que os aracnídeos podem se separar movendo seu rosto e retraindo suas pinças. Eles também podem usar a saliva para dissolver o cimento.
O QUE NOS MACHUCA PODERIA NOS TORNAR MAIS FORTES
Apesar de fascinante, Nürnberger e os colegas não estudaram a saliva do carrapato apenas por diversão.
Eles estão estudando como recriar as propriedades do cimento que poderiam se tornar adesivos médicos ou selantes. Essas substâncias poderiam ajudar a curar lesões humanas e ossos quebrados, assim como os implantes de cola para o corpo.
Os cientistas já desenvolveram adesivos biológicos inspirados em percevejos, mexilhões e ouriços do mar, mas Nürnberger acredita que o cimento do carrapato pode ser mais promissor.
"O animal já usa essa substância para se colar no tecido humano", diz ela. "Então, achamos que isso pode ser muito compatível e muito bom em termos de força de vinculação."