Raríssimo tubarão-da-groenlândia é filmado sob o Ártico

A espécie rara habita as profundezas dos oceanos Ártico e Atlântico Norte e faz parte da família dos tubarões-dorminhocos, chamados assim pelos movimentos lentos.

Por Elaina Zachos
Publicado 2 de mar. de 2018, 13:04 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Raríssimo tubarão-da-groenlândia é filmado no Ártico
As imagem podem ajudar pesquisadores a conhecer melhor a espécie de profundidade pouco estudada.

Quando Brynn Devine e Laura Wheeland  foram ao Ártico Canadense para alguns levantamentos de rotina de ecossistemas subaquáticos, eles não imaginavam o que iriam encontrar.

Os pesquisadores da Universidade Memorial de Newfoundland trabalhavam com a Arctic Fishery Alliance para instalar câmeras subaquáticas em mar aberto. Eles esperavam encontrar alguns camarões ou lesmas de mar durante a pesquisa. Mas tinha uma pequena chance de encontrarem alguns raros tubarões-da-groenlândia.

Usando lulas como isca, eles conseguiram capturar imagens dessa espécie misteriosa. As descobertas foram publicadas no final de janeiro na revista científica Scientific Reports.

Atraindo os habitantes do fundo do mar

Para fazer as imagens, eles usaram uma câmera digital especial que fica presa em uma caixa-estanque. Anexados a uma armação metálica pesada e acompanhada de uma isca, a instalação pode filmar o mundo misterioso do que se passa abaixo da superfície do oceano por horas a fio.

"Nós simplesmente as instalamos e deixamos elas lá por oito a dez horas", diz Devine, candidato a PhD. "A câmera permitiu que nós observássemos o fundo do oceano."

Os pesquisadores instalaram 31 câmeras nas águas de Nunavut entre julho de 2015 e setembro de 2016. 80% dessas câmeras captaram imagens de 142 tubarões-da-groenlândia diferentes, identificados pelos pesquisadores com base em marcas únicas. Nas mais de 250 horas de filmagens, nenhum dos tubarões visitou as câmeras mais de uma vez.

Os pesquisadores conseguiram captar a lentidão dos movimentos dos tubarões nas imagens. Alguns tinham cerca de um metro e meio de comprimento, e outros tinham o dobro disso. Os pesquisadores dizem que quase todos os tubarões eram provavelmente jovens demais para se reproduzir.

A equipe da Universidade Memorial não é a primeira a obter imagens do tubarão-da-groenlândia, mas as imagens dos animais são raras. Em 2014, o engenheiro mecânico da National Geographic Alan Turchik ficou bastante impressionado quando um desses tubarões-dorminhocos passou em frente das lentes de sua câmera subaquática.

Pesquisando tubarões-dorminhocos

Devine diz que os pesquisadores não ficaram surpresos ao ver os tubarões-da-groenlândia, uma vez que essa espécie é conhecida por frequentar as águas frias e escuras dos oceanos do Ártico e do Atlântico Norte. Mas a pouca acessibilidade a essas águas profundas tornou o estudo dessas espécies difícil.

Muitas das informações que temos dos tubarões-da-groenlândia são de registros históricos da pesca comercial. Existem poucos registros, mas, aparentemente, seus fígados oleosos fizeram com que os tubarões fossem alvos de pescadores até a década de 60. Em termos de tamanho, os tubarões-da-gronelândia são semelhantes aos tubarões-brancos. Eles podem medir mais de 6 metros de comprimento, mas, ao contrário de seus famosos parentes, não nadam muito rápido – característica que os coloca na família dos tubarões-dorminhocos.

Estudos anteriores mostraram que os tubarões-da-groenlândia crescem apenas poucos centímetros por ano, e provavelmente não atingem a maturidade até que as fêmeas tenham quase 4 metros de comprimento e os machos tenham pelo menos de 3 metros. Alguns registros sugerem que eles podem viver por mais de 272 anos, o que poderia torná-los os vertebrados de vida mais longa do planeta. (Muitos tubarões vivem mais do que os cientistas imaginavam).

Como há pouca informação sobre esses animais, a sobrepesca e a perda de habitat podem prejudicar sua população. A técnica de fotografias com iscas é menos invasiva do que os métodos científicos passados de captura de tubarões-da-groenlândia em linhas de pesca, o que pode estressar o peixe e matá-lo.

A faixa geográfica exata do habitat do tubarão-da-groenlândia não é bem conhecida e a espécie ainda está sendo pesquisada.

"Esse trabalho é apenas um primeiro passo", diz Devine. "Há tantas áreas inexploradas e desconhecidas."

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