Fósseis de aranhas com olhos que 'brilham' foram recentemente encontrados na Coreia do Sul

Esse primitivo aracnídeo apresenta uma importante adaptação para a visão noturna.

Por Michael Greshko
Publicado 7 de fev. de 2019, 20:40 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O espécime que definiu a Koreamegops samsiki, uma espécie recém-descoberta de aranhas que viveram onde hoje ...
O espécime que definiu a Koreamegops samsiki, uma espécie recém-descoberta de aranhas que viveram onde hoje é a Coreia do Sul, cerca de 106 a 112 milhões de anos atrás.
Foto de Paul Antony Selden

SE VOCÊ PUDESSE viajar no tempo até a Coreia, 110 milhões de anos atrás, testemunharia um misterioso espetáculo em uma caminhada noturna com uma lanterna: cada movimento da luz faria o ambiente brilhar com os inúmeros olhos de aranhas reluzindo no escuro.

Em um novo estudo publicado na revista científica Journal of Systematic Paleontology, uma equipe liderada pelo paleontólogo Tae-Yoon Park, do Instituto de Pesquisas Polares da Coreia, revelou dez fósseis de pequenas aranhas, cada uma com menos de 2,5 cm. Os restos desses animais incluem duas novas espécies e uma novidade para a paleontologia: a versão de óculos de visão noturna de uma aranha.

Antes desse estudo, todos os fósseis conhecidos de lagonomegopids—um grupo extinto de aranhas—haviam sido encontrados em âmbar, inclusive essa amostra de 99 milhões de anos. J. dalingwateri e K. samsiki são as primeiras lagonomegopids encontradas em rocha.
Foto de Paul Antony Selden

Nos globos oculares de alguns animais, há uma membrana chamada tapetum, localizada atrás da retina, que reflete luz de volta através dela. Sabe quando os olhos de um gato parecem brilhar na cor verde à noite? Isso é o tapetum deles em ação. Ao proporcionar às retinas uma segunda chance de absorver a luz, o tapetum reforça a visão noturna de mariposas, gatos, corujas e de vários outros animais noturnos. Assim como dessas aranhas primitivas, nas quais o tapetum prateado ainda brilha nos fósseis.

“São tão refletivos — eles claramente se projetam em você,” diz o coautor do estudo, Paul Selden, paleontólogo da Universidade do Kansas. “Foi como descobrir algo pela primeira vez.”

A descoberta esclarece um pouco mais sobre o comportamento primitivo das aranhas que, em número, são um dos mais importantes predadores da Terra moderna.

“Esses fósseis são extraordinários, e é sempre emocionante quando alguma parte do sistema visual é preservada,” diz por e-mail Nathan Morehouse, biólogo da Universidade de Cincinnati que estuda a visão das aranhas. “O mais animador, para mim e outros cientistas que estudam a visão, é o vislumbre proporcionado pelo tapetum do estilo de vida desses antigos animais. Provavelmente eram caçadores noturnos!”

Está nos olhos

Algumas das aranhas recém-descobertas pertencem a um extinto grupo chamado lagonomegopids, algumas delas lembram vagamente as aranhas-saltadoras de hoje. Os novos fósseis são os primeiros lagonomegopids já descobertos em uma rocha—todos os fósseis anteriores do grupo estavam em âmbar, que é uma resina fossilizada de árvores.

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    A perna direita da K. samsiki preserva traços dos pelos de sua perna.
    Foto de Paul Antony Selden

    O ambiente que essas aranhas conheciam era muito diferente da Coreia de hoje. Cerca de 110 milhões de anos atrás, a península sul-coreana era uma bacia rasa que se formou conforme um cume vulcânico expandiu. Peixes e bivalves se desenvolveram nos lagos e rios da bacia. Dinossauros e pterossauros viveram nas proximidades, a julgar pelos dentes que deixaram para trás.

    Após terem sido levados até um lago dentro dessa bacia, os corpos das aranhas acabaram sepultados nos sedimentos do lago. Então os minerais substituíram a carne da aranha: mesmo hoje, suas pernas exibem traços dos pelos que um dia as cobriram. As aranhas jaziam em paz até muitos anos atrás, quando coletores as encontraram em dois locais de construção próximos à cidade de Jinju, um deles é agora um estacionamento.

    Mais tarde, a equipe de Park descobriu que os fósseis eram de vários tipos diferentes de aranhas, incluindo as duas novas espécies de lagonomegopid. Uma das aranhas recém-descritas, Koreamegops samsiki, recebeu o nome do coletor coreano que a encontrou, Samsik Lee. A outra, Jinjumegops dalingwateri, foi batizada em homenagem ao aracnólogo britânico John Dalingwater, mentor de Selden que faleceu em decorrência de doença de Parkinson, em 2018.

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    Essas duas novas espécies possuem tapetum e olhos secundários aumentados, semelhantes às modernas aranhas-lobo e a aranha que lança redes sobre suas presas, Deinopis spinosa. Embora os olhos das aranhas fossilizadas brilhassem como os olhos das aranhas-lobo brilham hoje, está longe de ser um fato que elas caçavam suas presas de forma semelhante.

    “Os olhos [de K. samsiki e J. dalingwateri] estão localizados mais nos cantos de suas cabeças em vez de na frente, o que é um pouco misterioso,” diz Selden.

    Dependendo de como as retinas das aranhas eram formadas, o tapetum pode ter deixado a visão delas mais turva, acrescenta Morehouse. Hoje, as aranhas noturnas contornam esse problema espaçando as partes sensíveis à luz de suas retinas. Não se sabe se as primitivas aranhas atingiam um equilíbrio semelhante—encontrar mais fósseis poderia ajudar nessa questão.

    “A forma como esses fósseis manobraram tais características conflitantes provavelmente continuará sendo um fato desconhecido, a menos que um conjunto ainda melhor de fósseis seja descoberto,” escreve Morehouse. “Estou animado para ver o que futuros estudos irão desvendar.”

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