Primeira espécie de mamífero oficialmente extinta devido às mudanças climáticas

Cientistas alegam que o humilde roedor desapareceu de seu lar no leste do Estreito de Torres, na Grande Barreira de Corais.

Por Brian Clark Howard
Publicado 26 de fev. de 2019, 07:40 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Esta espécie de roedor do gênero Melomys é parente da que os cientistas afirmam ter se extinguido na Grande Barreira de Corais.
Foto de Auscape, UIG via Getty Images

Um pequeno roedor que vivia em uma única ilha perto da Austrália é provavelmente o primeiro mamífero do mundo a se tornar vítima fatal das mudanças climáticasrelataram cientistas em junho de 2016. O governo da Austrália agora reconheceu oficialmente o roedor da espécie Melomys rubicola como extinto.

Ao que parece, o animal desapareceu de seu lar no leste do Estreito de Torres, na Grande Barreira de Corais, alegam os cientistas. O animal foi visto pela última vez por um pescador em 2009, porém tentativas frustradas para capturar algum desses animais no final de 2014 levaram os cientistas a afirmar que ele está provavelmente extinto.

Também chamado de rato de cauda em mosaico, o nome popular do roedor em inglês é uma referência à Ilha de Bramble, uma ilhota que fica no máximo a 3 metros acima do nível do mar.

Os ratos foram vistos na ilha pela primeira vez pelos europeus em 1845 e havia várias centenas lá em 1978. Contudo, desde 1998, a parte da ilha que fica acima de marés altas encolheu de 4 hectares para 2,5 hectares aproximadamente, o que significa que a vegetação da ilha está encolhendo e os roedores perderam cerca de 97% de seu habitat.

"É quase certo que o principal fator responsável pelo extermínio dessa população foi a inundação dessa ilhota de baixa altitude pelo mar, muito provavelmente em diversas ocasiões, durante a década passada, causando uma drástica perda do habitat e talvez também uma mortalidade direta de indivíduos", escreveu a equipe, liderada por Ian Gynther, do Departamento de Proteção Ambiental e de Patrimônio de Queensland.

“Em ilhas de baixa altitude como a Ilha de Bramble, os efeitos destrutivos dos níveis extremos da água resultantes de fenômenos meteorológicos severos se somam aos impactos do aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas antropogênicas”, acrescentam os autores.

No mundo todo, o nível do mar aumentou 20 centímetros em média entre 1901 e 2010, um ritmo sem paralelo nos últimos 6 mil anos. E, ao redor do Estreito de Torres, o nível do mar aumentou quase o dobro do ritmo médio global entre 1993 e 2014.

Esse pequeno mamífero é, assim, apenas o primeiro de inúmeras espécies que sofrem riscos significativos resultantes do aquecimento climático, advertem os autores.

"Sabíamos que alguma espécie teria que ser a primeira, mas, ainda assim, é atordoante", afirma Lee Hannah, cientista sênior de biologia de mudanças climáticas da ONG Conservation International.

Hannah publicou estudos sugerindo que uma a cada cinco espécies poderá estar em risco em razão das mudanças climáticas. As espécies que habitam pequenas ilhas e montanhas estão mais vulneráveis porque contam com poucos lugares para fugir quando ocorrem mudanças, observa ele.

"Claro que algumas espécies serão beneficiadas pelas mudanças climáticas, porém a maioria terá redução na área de ocorrência", acrescenta Hannah.

Ainda assim, é possível tentar atenuar os piores impactos, afirma ele, designando áreas de proteção que possam acomodar as mudanças climáticas, transferindo animais silvestres conforme necessário e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.

"Essa espécie poderia ter sido salva", lamenta.

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