Bizarros caranguejos-ferradura são, na verdade, parentes das aranhas

Esses grandes habitantes do mar fazem parte da árvore genealógica dos aracnídeos, afirmam cientistas em novo estudo.

Por Nadia Drake
Publicado 23 de abr. de 2019, 11:17 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um caranguejo-ferradura fotografado em Money Island, Nova Jersey. Atualmente, há quatro espécies dessas criaturas pré-históricas.
Um caranguejo-ferradura fotografado em Money Island, Nova Jersey. Atualmente, há quatro espécies dessas criaturas pré-históricas.
Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

Apesar do nome, os caranguejos-ferradura, criaturas aquáticas estranhas e antigas, não se parecem com ferraduras e definitivamente não são caranguejos.

Eles são aracnídeos. Assim como aranhas, escorpiões, amblipígios, ácaros e diversos outros bichos de pernas longas que vivem em terra firme.

Essa foi a mais recente conclusão dos cientistas após realizarem o sequenciamento de uma grande quantidade de material genético de caranguejos-ferradura e aracnídeos, e se basearem nas sequências obtidas para desenhar uma árvore genealógica mais plausível.

"Essa parte específica da árvore da vida sempre foi bastante difícil de resolver", afirma o líder do estudo Jesús Ballesteros, da Universidade de Wisconsin-Madison, que recentemente relatou os resultados na revista científica Systematic Biology.

"Porém um aspecto surpreendente dessa análise é que independentemente de como os dados eram tratados, consistentemente obtínhamos os mesmos resultados... os caranguejos-ferradura estão sempre relacionados aos aracnídeos [na árvore genealógica]".

Uma história de grupos-irmãos

Os cientistas sabem há décadas que os caranguejos-ferradura e os aracnídeos, ambos pertencentes ao subfilo Chelicerata, estão estritamente relacionados, mas eles ainda desconhecem os detalhes dessa relação.

Os caranguejos-ferradura, animais de sangue azul do gênero Xiphosura, foram observados pela primeira vez no registro fóssil há cerca de 450 milhões de anos. Mais ou menos nessa época, os aracnídeos passaram a existir.

De acordo com a antiga versão da história, os aracnídeos e os caranguejos-ferradura possuíam um ancestral em comum, um quelicerado aquático qualquer, e então se dividiram em linhagens-irmãs. Uma linhagem rapidamente passou a habitar a terra firme e se diversificou em mais de 100 mil espécies, que hoje compõem os aracnídeos.

Caranguejos-ferradura, encontrados nos oceanos do mundo todo, são comuns nas praias do leste dos EUA.
Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

A outra, a dos caranguejos-ferradura, permaneceu inalterada e sobreviveu a grandes eventos de extinção em massa basicamente da forma como é atualmente. Hoje, há apenas quatro espécies sobreviventes de caranguejo-ferradura nos oceanos do mundo, algumas tendo mais de 30 centímetros de comprimento.

"O problema com os xifosuros é que há apenas quatro espécies existentes", afirma Matthias Obst, da Universidade de Gothenburg, na Suécia, que também estuda a relação evolucionária com os quelicerados.

Então, "a diversidade interna é muito restrita, o que normalmente ajuda a estabilizar certos grupos na árvore genealógica".

Aracnocaranguejos

Contudo, recentemente, os trabalhos de sequenciamento genômico realizados por Ballesteros e colegas têm desafiado essa história, sugerindo que, ao invés da existência de um grupo-irmão dos aracnídeos, os caranguejos-ferradura sejam aracnídeos.

Esse estudo mais recente chegou a essa conclusão após avaliar as árvores genealógicas capazes de explicar como as sequências genéticas são distribuídas entre 53 espécies de aracnídeos, caranguejos-ferradura e aranhas-do-mar (que, apesar do nome, não são aranhas de verdade, mas outra linhagem de quelicerado), bem como entre vários crustáceos e insetos.

A maioria dessas árvores genealógicas, quase dois terços delas, classificam o gênero Xiphosura, dentro da linhagem dos aracnídeos, como um grupo-irmão das aranhas-carrapato.

Mas Rosa Fernández, que também estuda a evolução dos aracnídeos no Centro de Regulação Genômica de Barcelona, diz que ainda há muitas incertezas. Por exemplo, um terço dos genes submetidos a sequenciamento mantêm os caranguejos-ferradura fora da classe dos aracnídeos.

"Os autores fizeram um excelente trabalho", diz Fernández. Mas "não ficaria surpresa se metodologias alternativas produzissem um resultado diferente no futuro".

Por terra ou mar?

Se esse resultado permanecer, a história da evolução dos aracnídeos precisará ser recontada. Basicamente os cientistas precisam explicar como uma pequena ramificação da árvore genealógica acabou no mar enquanto todos os demais habitam a terra. Os caranguejos-ferradura se dividiram dos aracnídeos terrestres e retornaram ao mar? Ou os aracnídeos passaram a habitar a terra firme mais de uma vez?

"Até agora, nós, ou pelo menos eu, achávamos que os xifosuros haviam evoluído de um ancestral marítimo parecido com uma trilobita, comum a todos os artrópodes", afirma Obst, se referindo ao grupo de organismos que inclui insetos e crustáceos, além de aracnídeos e outros. "Agora, parece que os ancestrais dos caranguejos-ferradura habitavam a terra e eram bem pequenos".

Ele acha isso um pouco difícil de explicar. Porém, independente do desfecho da história, uma coisa é certa: os caranguejos-ferradura continuarão sendo as criaturas mais estranhas já vistas.

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