Bizarro peixe de águas profundas prende a respiração por 4 minutos

Espécie utiliza enormes guelras infláveis para encher o corpo de água do mar — a primeira descoberta do tipo já feita em um peixe.

Por Joshua Rapp Learn
Publicado 26 de jul. de 2019, 11:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O peixe da espécie Chaunax endeavouri está entre as mais de 20 espécies de coffinfish. Os ...
O peixe da espécie Chaunax endeavouri está entre as mais de 20 espécies de coffinfish. Os animais possuem nadadeiras peitorais especializadas que lhes permitem andar, ainda que com dificuldade, no fundo do mar.
Foto de Kelvin Aitken, Alamy

Com o nome de coffinfish (peixe-caixão, em tradução livre), não é nenhuma surpresa que essas criaturas de aparência estranha tenham evoluído para viver no sombrio fundo do mar.

Os cientistas já sabiam que esses moradores abissais (chamados às vezes de “sapos do mar”) possuem nadadeiras especiais para “andar” no fundo do mar. Mas novo estudo revelou outra adaptação do coffinfish: imensas câmaras de guelras infláveis que expandem o corpo do animal com água do mar e permitem que ele absorva mais oxigênio e prenda a respiração por até quatro minutos.

Esse comportamento (o primeiro já descoberto em um peixe) poderia ser um artifício para poupar energia em um ambiente de escassez de alimentos.

“É bacana, é um método diferente para inflar que nenhum outro peixe emprega”, afirma  Stacy Farina, coautora do estudo, professora assistente de biologia na Universidade Howard. O baiacu, por exemplo, ingere grandes quantidades de água do mar para expandir seus estômagos altamente elásticos.

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Estudar essas adaptações ocorridas em águas profundas ajuda os biólogos a ampliarem seu conhecimento sobre as diferentes evoluções dessas criaturas para sobrevivência em condições ambientais extremas.

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Há mais de 20 espécies de coffinfish, que, na verdade, é um tipo de peixe da ordem dos Lophiiformes, encontrado no mundo todo em profundidades de até 2,5 quilômetros aproximadamente.

“Eles estão completamente adaptados como animais do fundo do mar. Raramente nadam”, acrescenta Nick Long, coautor do estudo, que conduziu a pesquisa como aluno de graduação de biologia na Faculdade Dickinson na Pensilvânia.

“Alguns o consideram preguiçoso”.

Vida pacata

Para o estudo, Farina e Long dissecaram espécimes de coffinfish e os submeteram a tomografia computadorizada no Museu de Zoologia Comparativa na Universidade de Harvard, onde Farina foi bolsista de pós-doutorado. Eles também analisaram filmagens de várias espécies de coffinfish vivo feitas por drones operados pela embarcação Okeanos Explorer da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.

Segundo a pesquisa publicada recentemente no periódico Journal of Fish Biology, esses “sapos do mar” possuem câmaras de guelras infláveis capazes de expandir o volume do corpo em até 30%. Se fosse uma pessoa, significaria inflar os pulmões até atingirem o tamanho de todo o abdômen, ilustra Farina.

A equipe ficou especialmente intrigada com a capacidade singular do peixe de prender a respiração que, conforme sugerem as imagens, pode fazer parte de seu padrão normal de respiração. Esse comportamento é observado geralmente em animais com pulmões, embora o peixe-gato prenda a respiração esporadicamente em situações de pouco oxigênio, afirma ela.

Os cientistas suspeitam que o coffinfish infle o corpo para conservar energia: afinal, respirar requer algum esforço.

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    Ainda que o coffinfish coma tudo o que couber em sua boca — como peixes, polvos e anelídeos —“é pouco provável que sempre haja presas disponíveis”, afirma Long.

    John Caruso, professor catedrático emérito da Universidade de Tulane, que não participou do estudo, considerou isso “excelente”.

    Sua única preocupação, observa Caruso, é que o coffinfish da filmagem feita pelo drone pode ter prendido a respiração por ter se sentido intimidado pelas fortes luzes do drone subaquático. São necessárias mais observações para confirmar se a prática faz parte do comportamento de respiração normal, afirma ele.

    Na defensiva?

    Além de economizar energia, a expansão do coffinfish poderia ser um meio de defesa contra predadores, como ocorre com o baiacu, sugere o estudo.

    Contudo Hsuan-Ching Ho, professor associado do Instituto de Biologia Marinha da Universidade Nacional de Dong Hwa em Taiwan, que descreveu três novas espécies de coffinfish em 2016, duvida que isso seja verdade.

    A razão do ceticismo é que o baiacu prende a água do mar dentro de suas entranhas para manter o formato caso seja apertado ou mordido, ao passo que as câmaras de guelras do coffinfish ficam basicamente abertas, o que significa que a água simplesmente vazaria se ele fosse mordido.

    Caruso, entretanto, afirma que o mecanismo de defesa é uma “hipótese plausível”.

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