Formigas mais rápidas do mundo atravessam o Saara a velocidades impressionantes

As formigas-prateadas conseguem percorrer o comprimento de seu corpo em menos de um centésimo de segundo — o equivalente a um homem correndo a 643 quilômetros por hora.

Por Jake Buehler
Publicado 31 de out. de 2019, 11:29 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma formiga-prateada-do-saara atravessa as areias quentes da Tunísia.
Uma formiga-prateada-do-saara atravessa as areias quentes da Tunísia.
Foto de Matthias Wittlinger

Como um míssil minúsculo e cintilante, a formiga-prateada-do-saara reluz sobre a areia quente em busca de animais mortos que sucumbiram ao calor. Agora, novo estudo revela que essas ágeis forrageiras não apenas são as formigas mais rápidas vivas, como também estão entre os insetos mais rápidos do planeta.

Em um experimento recente nas dunas ensolaradas de Douz, na Tunísia, os insetos percorreram cerca de 85 centímetros por segundo — ou quase 108 vezes o comprimento de seu corpo em apenas um segundo. De forma proporcional, essa velocidade equivaleria a mais de 643 quilômetros por hora no caso dos humanos.

As formigas ficam atrás apenas de alguns invertebrados, incluindo um ácaro da Califórnia, Paratarsotomus macropalpis, e um besouro-tigre-australiano, Cicindela hudsoni, que se locomovem a velocidades de 377 e 171 vezes o comprimento de seu corpo por segundo, respectivamente.

A super velocidade das formigas é provavelmente uma de suas formas de adaptação à vida no inóspito deserto, permitindo que se locomovam rapidamente sem cozinharem a temperaturas que atingem 60 graus Celsius. As formigas-prateadas-do-saara também são relativamente esguias, uma forma corporal que as ajuda a dissipar o calor com mais facilidade, e seus filamentos triangulares especiais refletem o calor e lhes conferem um tom metálico.

“Para resistir ao ambiente do deserto, é preciso ser rápido [para não acabar] vítima do calor e, por outro lado, ser capaz de encontrar comida suficiente para a sobrevivência da colônia”, diz Sarah Pfeffer, bióloga da Universidade de Ulm, na Alemanha, cujo estudo foi publicado esta semana no periódico Journal of Experimental Biology.

O estudo também pode oferecer possíveis aplicações técnicas aos seres humanos, diz Pfeffer, como no caso de robôs móveis ou veículos que precisam se manter eretos sobre a areia solta que se modifica rapidamente.

Pés elegantes

No Saara, Pfeffer e sua equipe localizaram diversos formigueiros subterrâneos e montaram pequenos canais de alumínio nos degraus da entrada. Eles também cobriram o chão dos canais com um pouco de areia. Os canais direcionavam as formigas forrageiras a um espaço mais bem controlado, para que os pesquisadores pudessem filmá-las de cima em câmera lenta enquanto passavam correndo.

Ao analisar o vídeo em câmera lenta, os cientistas conseguiram calcular o ritmo acelerado das formigas. Quando a equipe comparou esses números com a velocidade atingida por uma formiga do deserto, com parentesco próximo, mas um pouco maior, a Cataglyphis fortis, as formigas-prateadas foram duas vezes mais rápidas — apesar de terem membros proporcionalmente mais curtos.

Analisando as filmagens das formigas-prateadas-do-saara correndo, a equipe descobriu o motivo: as formigas-prateadas estavam simplesmente movendo suas curtas pernas a uma velocidade impossível de acompanhar, dando quase 50 passos por segundo. Elas conseguiram isso, parcialmente, evitando que seus pés tocassem o chão na maior parte das vezes, sendo que cada contato durava apenas sete milissegundos.

As formigas também apresentaram uma coordenação extraordinária sobre a areia, movendo perfeitamente os dois conjuntos de três pernas que trabalham em harmonia durante a corrida. Em velocidades mais altas, as formigas chegavam a galopar, levantando, em certos pontos, todos os pés do chão simultaneamente.

“Estou surpreso que as formigas-prateadas sejam menores e mais curtas, mas que consigam compensar isso com a frequência de passadas”, diz Alyssa Stark, bióloga da Universidade Villanova, na Pensilvânia, que não participou do estudo. É, sobretudo, surpreendente, ela acrescenta, considerando que ter pernas mais longas seria outra maneira de as formigas reduzirem o superaquecimento.

Amir Ayali, zoólogo da Universidade de Tel-Aviv em Israel, ficou impressionado com a abordagem do estudo que comparou as duas formigas de parentesco próximo.

“Seria extremamente interessante tentar observar se as diferenças relatadas entre as espécies também podem ser identificadas no campo da fisiologia muscular e até mesmo do controle neural”, diz Ayali.

Cozinha infernal

Então, por que andar tão rápido? Pfeffer e sua equipe sugerem que, a essa velocidade, as formigas conseguem encontrar e aproveitar suas refeições com rapidez e eficiência. Quando as formigas se deparam com um cadáver, elas removem certa quantidade e levam algumas partes de volta ao formigueiro subterrâneo para se alimentarem em paz.

De acordo com o estudo, as rápidas passadas e o contato limitado com a areia também podem impedir que deslizem ou afundem nas dunas enquanto procuram comida.

É possível que uma investigação mais aprofundada revele precisamente por que esses insetos são tão entusiasmos, mas, por enquanto, as formigas-prateadas-do-saara estão preocupadas apenas com o que fazem melhor: correr.

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