Pequeninas rãs recém-descobertas homenageiam indígenas e regiões amazônicas

Descrição de seis novos anfíbios por pesquisadores brasileiros joga luz sobre a diversidade do gênero Adenomera na Floresta Amazônica, que pode estar subestimado em pelo menos 50%.

Por Gabriel de Sá
Publicado 5 de ago. de 2020, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT

Uma das espécies descritas recebeu o nome de Adenomera kayapo, em homenagem às comunidades indígenas Mebêngôkre-Kayapó, por habitarem a mesma região. “O nome é uma maneira de reconhecer que os kayapós são um dos principais defensores da diversidade biocultural da Amazônia”, diz o biólogo Pedro Peloso.

Foto de Pedro Peloso, Divulgação

Minúsculas, amazônicas e relativamente pouco conhecidas: assim são as seis novas espécies de rãs descobertas e catalogadas por pesquisadores do Brasil e da França. Pertencentes ao gênero Adenomera, esses anfíbios, com menos de 3 cm de comprimento na fase adulta, foram descritos em artigo publicado esta semana no periódico Zoological Journal of the Linnean Society.

Até o ano 2000, apenas seis espécies do gênero Adenomera eram conhecidas pela ciência. Esse número quadriplicou até aqui, mas os pesquisadores desconfiam que ele esteja defasado em pelo menos 50%.

As seis novas espécies foram descobertas por diferentes pesquisadores, de instituições variadas e em momentos distintos, ao longo de vários anos, mas só agora foram descritas em um artigo acadêmico. A Adenomera amicorum, por exemplo, era conhecida desde o início dos anos 2000. As outras espécies foram nomeadas de Adenomera kayapo, Adenomera gridipappi, Adenomera tapajonica, Adenomera aurantiaca e Adenomera inopinata.

Para concluírem tratar-se de novas espécies, os pesquisadores analisaram fatores como a anatomia e a genética dos anfíbios, além de comparar a emissão dos sons por eles. Foram analisadas também fotografias tiradas em expedições a campo – um trabalho minucioso, já que, a olho nu, muitas das espécies parecem idênticas.

A Adenomera inopinata é a mais rara das espécies de rãs recém-descritas. O anfíbio habita a margem direita do médio Tapajós, no Pará.

Foto de Leandro Moraes, Divulgação

A compilação desses dados foi feita gradualmente pelo biólogo Thiago de Carvalho, principal autor do novo estudo. Foi ele quem contatou os diferentes grupos de pesquisa envolvidos. “Todo esse trabalho resultou em um artigo de revisão muito relevante para o entendimento da biodiversidade desse grupo de rãzinhas”, avalia Carvalho, pós-doutorando pela Universidade Estadual Paulista de Rio Claro (SP).

“O estudo mostra que conhecemos muito pouco a diversidade de anfíbios na Amazônia”, observa o biólogo Pedro Peloso, que é Explorador da National Geographic e colaborador do estudo. Segundo ele, até pouco tempo, pensava-se que existiam poucas espécies do gênero Adenomera com ampla distribuição na Amazônia. “Mas, na verdade, são muitas espécies com distribuição às vezes pequena e restrita a áreas com impacto ambiental muito alto”, explica Peloso.

Além de descrever as espécies de anfíbios, o novo estudo também investiga a história evolutiva dos sapinhos e a relação deles com o meio ambiente.

Modo reprodutivo peculiar

As espécies recém-descritas têm características bem peculiares, sobretudo no modo reprodutivo. “Quase todas as espécies são terrestres, no sentido de que suas larvas, os girinos, não têm dependência de água para o desenvolvimento até a fase adulta”, nota Thiago de Carvalho. O fato chama a atenção pois a dependência da água é observada na maioria dos anfíbios.

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    Os incomuns detalhes alaranjados nos braços e nas pernas desse animal renderam-lhe o nome de Adenomera aurantiaca.

    Foto de José Cassimiro, Divulgação

    Além disso, os machos da espécie cavam uma toca subterrânea onde, junto às fêmeas, fazem um ninho de espuma. Lá, os ovos fertilizados ficam protegidos e os girinos passam todo o desenvolvimento na espuma, sem a necessidade de serem transportados para corpos de água. Por fim, após a metamorfose, saem de dentro dos ninhos com a mesma forma dos adultas, mas em tamanho reduzido.

    As espécies foram descobertas em diversas regiões amazônicas. Algumas têm distribuição relativamente ampla dentro da região de ocorrência, enquanto outras são conhecidas em uma ou poucas localidades próximas. “A restrição geográfica e ecológica de determinadas espécies é uma informação crucial no entendimento dos riscos que cada espécie corre presentemente e potencialmente”, analisa Thiago de Carvalho.

    É possível que essas espécies novas sejam raras, mas ainda são necessárias muitas informações biológicas básicas para conhecê-las a fundo. Desse modo, será possível avaliar o estado de conservação de cada uma.

    Galeria: 12 fotos que revelam a beleza peculiar dos sapos

    Conheça as novas espécies

    Adenomera kayapo: homenagem às comunidades indígenas Mebêngôkre-Kayapó, pois a espécie ocorre na mesma região que esses povos vivem, entre os rios Araguaia e Tocantins e entre os rios Tocantins e Xingu, nos estados do Pará e Mato Grosso.

    Adenomera amicorum: em latim, ‘amicorum’ significa ‘amigos’. Encontrada em Santarém (PA) e arredores, o nome homenageia a equipe de pesquisadores e amigos que descobriu a espécie em 2000, liderados pela coautora do estudo Albertina Lima.

    Adenomera gridipappi: dedicada ao pesquisador brasileiro Marcos Gridi-Papp, atualmente professor associado da Universidade do Pacífico (Califórnia, EUA).

    Adenomera tapajonica: nomeada em referência à distribuição geográfica. Ela ocorre em localidades na margem esquerda do médio e baixo rio Tapajós.

    Adenomera aurantiaca: foi nomeada devido aos braços e pernas com coloração alaranjada vistosa, uma característica incomum nesse grupo de rãs.

    Adenomera inopinata: do latim ‘inesperado’, o nome faz referência à surpresa dos pesquisadores ao descobrirem a espécie na mesma região onde as duas anteriores haviam sido encontradas.

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