Sapo, perereca e rã: ameaçados de extinção, anfíbios brasileiros ganham banco de dados digital

Projeto une cientistas e instituições para documentar e analisar um dos grupos que mais correm risco no reino animal.

Por Gabriel de Sá
Publicado 13 de fev. de 2019, 16:45 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A bela perereca-de-capacete-do-rio-pomba (Aparasphenodon pomba) está criticamente em perigo, pois só é conhecida em uma única localidade, dentro de uma área particular no estado de Minas Gerais.
Foto de Pedro Peloso, Projeto Dots, Divulgação

Você sabia que, no Brasil, há pelo menos 41 espécies de anfíbios ameaçadas de extinção? Pois é: o grupo formado por sapos, salamandras e cecílias está entre os que mais correm risco de vida no reino animal. De olho neste problema, um grupo de biólogos decidiu documentar e estudar todas as espécies em situação de perigo no país.

Idealizado pelo biólogo e fotógrafo Pedro Peloso, Explorador da National Geographic e professor da Universidade Federal do Pará, o projeto DoTS (Documenting Threatened Species, ou, em tradução livre, “documentando espécies ameaçadas”) pretende ser um banco de dados e imagens de todas essas espécies vulneráveis, apresentando seu estado de conservação e detalhes como o hábitat natural. Além das 41 espécies em perigo, uma espécie de anfíbio é oficialmente considerada extinta no Brasil.

Esta é a rãzinha-de-Seropédica (Physalaemus soaresi). Devido à presença da espécie na Floresta Nacional Mário Xavier, o plano original de construção do Arco Metropolitano na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, teve de ser alterado. A obra demorou mais tempo para ser concluída e custou mais caro, mas salvou a rã da extinção.
Foto de Pedro Peloso, Projeto Dots, Divulgação

Segundo Pedro Peloso, o projeto quer fazer com que todos conheçam melhor os anfíbios do Brasil, especialmente os ameaçados de extinção. “Muitas dessas espécies são totalmente desconhecidas pelas pessoas e temos uma tendência a dar mais importância a coisas que temos mais apego, que conhecemos melhor”, observa ele.

“Entre as espécies ameaçadas, existem bichos únicos: alguns são muito raros, outros têm aspectos da sua biologia bastante interessantes e outros são simplesmente lindos”, conta Peloso. “É essa diversidade de motivos para preservar os anfíbios que queremos mostrar com o projeto”.

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    Em mais de uma década de viagens mundo afora em busca de répteis e anfíbios, Pedro Peloso já descreveu – ou ajudou a descrever – 20 espécies de sapos e lagartos. Peloso é biólogo, fotógrafo e Explorador da National Geographic.
    Foto de Pablo Cerqueira

    Além de documentar as espécies ameaçadas, o projeto visa divulgar o trabalho dos cientistas que lutam para preservar esse grupo de nossa fauna. “Ao unir toda essa informação num só lugar, vamos amplificar a voz desses pesquisadores e, quem sabe, fazer com que mais pessoas prestem atenção nesse tema tão importante”, torce Peloso.

    O DoTS é liderado pelos biólogos Pedro Peloso, Iberê Machado (Instituto Boitatá) e Guilherme Becker (Universidade do Alabama, nos EUA). Até agora, a equipe realizou duas expedições nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, e encontrou oito espécies consideradas sob risco de extinção. Agora, elas estão devidamente documentadas e podem ser estudadas com mais precisão.

    Fungo é vilão para anfíbios

    Uma das principais razões para a vulnerabilidade dos anfíbios é a infecção pelo fungo quitrídio Batrachochytrium dendrobatidis. Esse super-vilão ecológico levou mais de 200 espécies de anfíbios à extinção ou quase extinção, transformando radicalmente ecossistemas em todo o planeta.

    Reportagem da National Geographic mostrou que o fungo, chamado também de Bd, é mortal devido à sua ação na pele porosa dos anfíbios, que os animais utilizam para respirar e beber água. O Bd quebra as proteínas da pele e se alimenta dos aminoácidos. Ao fazer isso, os animais infectados ficam letárgicos, perdendo sua pele em um espiral da morte que termina em insuficiência cardíaca em questão de semanas.

    Em comunicado sobre o DoTS divulgado à imprensa, Guilherme Becker aponta que há uma relação forte entre o aumento da prevalência deste fungo e o desaparecimento de populações de anfíbios na Mata Atlântica na década de 1970. “Muitas destas espécies nunca mais foram observadas na natureza. É possível que o fungo quitrídio seja um fator crucial na preservação de espécies ameaçadas”, observa ele.

    Visite o site do projeto DoTS   e siga o perfil deles no Instagram.
     

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