Vombates órfãos ganham novo lar durante o isolamento – veja fotos

Com a dificuldade de viajar devido à pandemia, uma reabilitadora de animais selvagens transformou seu apartamento em um lar para três vombates resgatados.

Por Misha Jones
fotos de Doug Gimesy
Publicado 28 de ago. de 2020, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Emily Small, fundadora do Goongerah Wombat Orphanage (Orfanato de Vombates de Goongerah) segurando Landon, um vombate ...

Emily Small, fundadora do Goongerah Wombat Orphanage (Orfanato de Vombates de Goongerah) segurando Landon, um vombate órfão de seis meses, em sua sala de estar. Durante os bloqueios na Austrália, Small não pode percorrer os 450 quilômetros que separam seu apartamento em Melbourne, do orfanato em Goongerah. Por essa razão, está cuidando de Landon e outros dois filhotes de vombate em casa.

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NÃO É RARO se deparar com um vombate na beira das estradas da Austrália. Para Emily Small, tampouco é incomum resgatar esses animais caso estejam órfãos, doentes ou machucados para reabilitá-los em seu orfanato de vombates e, em seguida, devolvê-los à natureza.

A novidade, dessa vez, é que Small está passando o período de isolamento durante a pandemia da covid-19 em seu apartamento em Melbourne com três vombates órfãos, que se tornaram seus colegas de quarto.

“Em que situação vombates filhotes seriam má companhia?”, ela questiona.

Placas queimadas de aviso de travessia de cangurus e vombates permaneceram de pé em meio a árvores mortas em South Buchan, queimadas durante a temporada de incêndios florestais devastadores, em 2019-2020. Muitos vombates que são levados ao orfanato de Small perderam suas mães em atropelamentos de carros.

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Abby Smith, à esquerda, oficial florestal e de vida selvagem do departamento de meio ambiente de Vitória, visitou Small no orfanato em fevereiro, antes da pandemia e bloqueios dificultarem as viagens de Small até o local.

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Em 2002, Small fundou o Goongerah Wombat Orphanage, na região leste de Gippsland, o qual gerencia juntamente com sua mãe. O orfanato recebe de seis a oito filhotes de vombates por ano, geralmente órfãos, cujas mães foram mortas por carros.

Ela concilia seu trabalho no orfanato com seu emprego de tempo integral como supervisora de operações na Wildlife Victoria, uma organização sem fins lucrativos de resgate e defesa da vida selvagem em Melbourne. As medidas de isolamento dificultaram a viagem de 450 quilômetros de Preston, subúrbio ao norte de Melbourne onde ela mora, até o orfanato na região leste de Gippsland. Small então decidiu cuidar dos vombates em seu apartamento de um quarto.

Os vombates, que nascem com apenas 1,3 centímetro de comprimento, são marsupiais escavadores e de cauda curta, nativos da Austrália e de ilhas próximas. Diferentemente dos cangurus, a bolsa do vombate fêmea encontra-se em sua parte posterior, para que o filhote não fique com o rosto cheio de terra quando a mãe estiver cavando. Normalmente, o filhote nem sai da bolsa por pelo menos seis meses e, mesmo depois disso, ficará dentro dela por mais três ou quatro meses. Após sair da bolsa, continuará grudado na mãe até completar um ano ou mais.

Requer muito esforço cuidar de vombates vulneráveis, comenta Small. Eles demandam atenção o tempo todo, assim como bebês humanos. Além disso, a pandemia torna ainda mais difícil obter os recursos de que precisam para sobreviver em um ambiente não natural.

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    Bronson, de sete meses, e Landon dormem em uma bolsa feita à mão no apartamento de Small. Os vombates, como todos os marsupiais, dão à luz filhotes franzinos, que rastejam até a bolsa na barriga da mãe, onde permanecerão por até seis meses antes de sair.

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    Pequenas doses de temperamento

    Cada um dos vombates que Small abriga possui uma personalidade diferente. Landon, o mais novo do bando, foi resgatado por uma enfermeira veterinária no fim de março. Ele está com 10 meses.

    “Landon é a minha dose de alegria diária”, confessa Small. “Ele é muito empolgado. É algo natural para ele, que não consegue controlar sua energia e acaba chorando ou gritando porque está feliz demais. É a primeira vez que vejo um filhote fazer isso.”

    Landon e Bronson fungam a terra e mastigam a grama que a cuidadora colocou em seu cercado. Small cuidará deles até que estejam prontos para serem reinseridos na natureza, provavelmente quando tiverem cerca de 18 meses e pesando entre 15 e 25 quilos.

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    A cuidadora arruma a grama e a terra que trouxe do orfanato para dar aos três vombates resgatados como parte da alimentação deles, com micróbios e fungos que são importantes para sua saúde intestinal.

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    Bronson, o filhote do meio de 11 meses, é um pouco mais tímido. Uma pessoa que passava pelo local o encontrou na bolsa de sua mãe morta.

    “Às vezes, ele não consegue lidar com situações que são consideradas confortáveis para vombates”, explica Small. “Ele fica um pouco atordoado”. Quando escuta um barulho novo ou entra em um ambiente pela primeira vez, Bronson procura Small para se sentir confortado e em segurança. Mas quando ele se sente seguro, ela conta que ele adora “se aninhar e se aconchegar”.

    Beatrice, de um ano, é o que Small define como “uma guerreira independente”. A marsupial também foi encontrada na bolsa da mãe.

    “No início do tratamento, ela se atirava, rosnava e tentava me atacar”, relembra Small. “Eu sabia que era medo, porque ela chegou aqui quando já era maior. Isso significa que já estava ciente de ameaças e tentava ser tão assustadora quanto podia, com sucesso.”

    Agora que ela se acostumou com sua nova casa, Small a considera a “órfã mais doce e gentil, com um espírito brincalhão e confiante”. 

    Beatrice, uma vombate órfã de nove meses, corre na cozinha de Small. Quando Small a pegou, ela era mais velha que Landon e Bronson e desenvolveu instintos de sobrevivência, que utilizava para parecer intimidante para a cuidadora, até que começou a entender que Small não era uma ameaça.

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    Cuidados devido ao coronavírus

    Em situações normais, Small diz que os vombates podem passar até três anos com suas mães na natureza.

    “Tento reproduzir esse vínculo o máximo possível, respondendo às necessidades individuais deles e garantindo que tenham as habilidades necessárias para serem soltos”, diz Small.

    Em seu apartamento no último andar, Small fez tudo o que pôde para recriar os ambientes naturais onde os vombates normalmente vivem. Eles precisam de acesso à grama e terra, que possuem nutrientes para manter seus intestinos saudáveis, trazidos por Small do orfanato para casa. Ela cultiva os elementos em uma floreira em sua varanda, junto com cascas e gravetos para os jovens vombates mastigarem, mas ela diz que limpar a área é “um pouco complicado.”

    Alimentar os filhotes também tem suas dificuldades. O trio precisa ser alimentado na mamadeira com fórmula especializada, que é difícil conseguir por causa da pandemia. “No momento, estou esperando por 15 quilos de fórmula”, conta Small. “Os serviços de entrega estão sobrecarregados e pararam de funcionar.”

    Apesar dos desafios, os três vombates estão se desenvolvendo bem, ela acrescenta. E da mesma maneira que possuem personalidades diferentes, isso também se aplica às suas necessidades. “Alguns ficam prontos para as etapas seguintes muito mais rapidamente do que outros”, esclarece. “É algo que depende apenas deles”. Ela diz que quando eles começam a demonstrar um “comportamento maduro”, com a agressão esperada do vombate selvagem, comportamento defensivo ou medo, provavelmente estão prontos para a próxima etapa.Nessa fase, Small os coloca em recintos ao ar livre no orfanato e realiza o desmame deles. Quando estiverem pesando entre 15 e 25 quilos e tiverem cerca de 18 meses, eles serão reinseridos na natureza.

    Small alimenta dois vombates com uma mamadeira em seu quarto. Os filhotes precisam de uma fórmula especializada, que é difícil de conseguir por causa dos atrasos nas entregas devido à pandemia.

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    Altos e baixos da reabilitação

    Infelizmente, a reabilitação nem sempre funciona — alguns vombates não se recuperam. A propósito, o primeiro vombate de que Small e sua mãe cuidaram morreu. “Ele era como um irmão para mim. Minha mãe cuidava mais da alimentação dele do que da minha”, relembra.

    Quando ele morreu, mãe e filha juraram que nunca cuidariam de outro órfão. Mas a decisão não durou muito tempo. “Dizemos isso todos os anos, mas continuamos os acolhendo. Não conseguimos dizer não”, explica Small.

    “Quando estão felizes e brincando, é a cena mais incrível que já vi na vida”, acrescenta. “Se houver alguém que não dê um sorriso ou uma risada quando estão interagindo, essa pessoa não tem coração.”

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