Baleias ameaçadas estão assustadoramente magras e preocupam estudiosos

As baleias-francas-do-atlântico-norte estão em pior forma do que suas primas do sul – parte disso se deve ao fato de ficarem presas em equipamentos de pesca.

Por Haley Cohen Gilliland
Publicado 6 de set. de 2020, 08:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Uma baleia-franca-do-atlântico-norte fêmea e seu filhote nadam na costa da Flórida. Restam apenas 400 indivíduos desses ...

Uma baleia-franca-do-atlântico-norte fêmea e seu filhote nadam na costa da Flórida. Restam apenas 400 indivíduos desses mamíferos marinhos no planeta Terra.

Foto de Brian J. Skerry, Nat Geo Image Collection

Pesquisadores de baleias-francas-do-atlântico-norte têm muitos motivos para se preocupar: sobraram apenas 409 indivíduos desses majestosos mamíferos marinhos e as ameaças que precisam enfrentar são imensas. Em primeiro lugar, as baleias ameaçadas de extinção habitam as concorridas águas da costa atlântica, onde precisam navegar por movimentadas rotas de navios e colunas de água com excesso de equipamentos de pesca.

Agora, um novo estudo revela aos cientistas outro motivo para alarde: baleias-francas-do-atlântico-norte parecem estar em condições bem piores do que suas parentes próximas, as baleias-francas-austrais.

Embora vivam em áreas diferentes — as baleias-francas-austrais preferem os mares relativamente calmos ao sul da linha do Equador, e as baleias-francas-do-atlântico-norte habitam as águas bastante movimentadas do leste da América do Norte — as duas espécies compartilham características genéticas semelhantes e a mesma história triste.

Podendo chegar ao comprimento de um ônibus e pesando até 70 toneladas, as baleias-francas receberam seu nome em inglês (right whales) de seus próprios caçadores, que as consideravam os alvos “certos” (right, em inglês) para caça porque nadam devagar, ficam próximas da costa e flutuam quando atingidas pelo arpão. Do século 11 ao 20, a caça de baleias dizimou todas as três espécies de baleias-francas — as francas-do-atlântico-norte, francas-do-pacífico e as francas-austrais — algumas foram reduzidas a 5% de sua população original.

Em 1935 a Liga das Nações proibiu a caça de todas as baleias-francas e, desde então, as baleias-francas-austrais deram os primeiros passos em direção à recuperação. Sua população de mais de 10 mil baleias está aumentando em uma taxa sadia, sendo que alguns grupos chegaram a crescer 7% ao ano. A União Internacional para Conservação da Natureza considera que elas são sua menor preocupação.

De 1990 até 2010, a população de baleias-francas-do-atlântico-norte também se recuperou, passando de 270 animais para 483. Mas ao longo da última década, esses números voltaram a cair, principalmente devido a colisões com navios e por se engancharem em equipamentos de pesca.

Para investigar por que as duas espécies de baleia seguiram caminhos opostos Fredrik Christiansen, ecofisiologista marinho do Instituto Aarhus de Estudos Avançados, na Dinamarca, recorreu aos drones para comparar suas condições físicas vistas de cima.

De imediato, Christiansen ficou perplexo ao observar como as baleias-francas-do-atlântico-norte pareciam definhar, referindo-se a elas como “impressionantemente esqueléticas”. Por outro lado, as baleias-francas-austrais “pareciam uma pista de pouso... basicamente, era possível armar uma barraca em suas costas”, conta Christiansen, que recebeu patrocínio financeiro da National Geographic Society.

Uma baleia-franca-do-atlântico-norte sobe à superfície em Cape Cod, Massachusetts.

Foto de Brian J. Skerry, Nat Geo Image Collection

Uma condição tão ruim, causada em parte pela exaustão por arrastar os equipamentos de pesca aos quais ficam presas, provavelmente explique por que os animais estão se reproduzindo de forma tão lenta, observa o autor.

“Acreditamos que a espécie esteja com problemas”, afirma o coautor do estudo Peter Corkeron, líder da equipe de pesquisa de baleias no Centro de Vida Marítima Anderson Cabot.

“Mas essa pesquisa mostra que os animais também enfrentam problemas individualmente... se não houver uma grande intervenção, desaparecerão em 20 anos.”

Tamanho é documento

Em colaboração com outros 17 pesquisadores de baleias de todo o mundo, Christiansen coletou fotos aéreas de 523 baleias-francas-do-atlântico-norte e baleias-francas-austrais em diversos estágios de vida: filhotes, baleias que ainda não atingiram a maturidade, adultos e fêmeas lactantes.

Por meio da fotogrametria, a ciência de que realiza mensurações a partir de fotos, Christiansen e sua equipe analisaram as imagens para comparar os comprimentos e larguras das duas espécies de cetáceos.

A partir disso, utilizaram os volumes corporais estimados para inferir um “índice de condição corporal” ou, em termos menos científicos, a gordura relativa.

Foi constatado que as baleias-francas-do-atlântico-norte jovens, adultas e lactantes apresentavam condições significativamente piores que suas correspondentes austrais.

As baleias-francas-do-atlântico-norte mães pareciam estar em uma forma particularmente ruim, de acordo com o estudo, publicado recentemente no periódico científico Marine Ecology Progress Series.

Em comparação com as baleias-francas-austrais de tamanho semelhante, elas pesavam 20% menos, em média — uma diferença de cerca de 4,5 mil quilogramas.

“Extremamente importante”

Isso ajuda a explicar o declínio da espécie de baleia-franca-do-atlântico-norte. Segundo Christiansen, ter um filhote exige uma quantidade enorme de energia e, quanto mais magra a baleia estiver, é provável que leve mais tempo para se recuperar entre um nascimento e outro.

Recentemente, as baleias-francas-do-atlântico-norte dão à luz em intervalos de cerca de sete anos em comparação com um período de três em três anos no caso das baleias-francas-austrais.

“Para avaliar a condição física de uma baleia, é preciso medir sua gordura em geral, portanto esse estudo é extremamente importante”, diz Victoria Rowntree, bióloga especializada em baleias-francas da Universidade de Utah, que não participou da pesquisa.

“Não é possível levar uma baleia ao consultório veterinário e colocá-la em cima da mesa para medir sua temperatura.”

Por que tão magras?

O estudo indica três possíveis explicações para o peso reduzido das baleias-francas-do-atlântico-norte.

A primeira são os equipamentos de pesca: Estudos sugerem que mais de 85% das baleias-francas-do-atlântico-norte já ficaram atadas em redes, linhas e outros equipamentos de pesca pelo menos uma vez na vida. Entre 2017 e 2020, os acessórios foram responsáveis  pela morte de sete baleias — ou cerca de 2% da população sobrevivente. Durante o mesmo período, outras nove baleias morreram em decorrência de colisões com navios.

Embora os equipamentos de pesca possam matar, muitas baleias sobrevivem ao emaranhamento, mas acabam precisando arrastar as pesadas cordas com elas, resultando em grande perda calórica. O barulho do trânsito de navios é outra fonte de estresse e, consequentemente, causa mais gasto de energia.

Por fim, os oceanos cada vez mais quentes forçaram os copépodes, um crustáceo minúsculo que é a base alimentar da dieta da baleia-franca-do-atlântico-norte, a migrarem para o norte. Isso força as baleias, que precisam comer quase uma tonelada de alimentos diariamente, a ultrapassarem as áreas protegidas para se alimentar, deixando-as mais vulneráveis a colisões com navios e à possibilidade de terem que se desvencilhar dos equipamentos de pesca.

Motivo de esperança

Em um resultado que surpreendeu os autores do estudo, os filhotes de baleias-francas-do-atlântico-norte menores de quatro meses de idade não estavam em condições físicas piores que as baleias-francas-austrais com a mesma idade. Em contraposição, foi constatado que as baleias-francas-do-atlântico-norte jovens estavam muito mais magricelas que suas primas do sul.

Isso sugere que, se os fatores de estresse humanos sobre as baleias-francas-do-atlântico-norte e suas mães forem reduzidos, seus filhotes podem crescer muito mais saudáveis.

Diversas ações judiciais estão em andamento — incluindo uma contra agências federais, entre elas o Serviço Nacional de Pesca Marinha e outra contra o estado de Massachusetts — com o objetivo de reforçar as proteções para as baleias-francas-do-atlântico-norte, como por exemplo, reduzir a possibilidade de incidentes com equipamentos de pesca de lagosta.

“Ao observar que os filhotes de três meses [após o nascimento] têm metade do tamanho da mãe, não dá para acreditar que ela realmente conseguirá sobreviver amamentando essa enorme almôndega que nada ao seu lado”, reflete Christiansen “É quando percebemos que elas já estão se esforçando ao máximo.”

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