Extremamente rara, onça-parda com leucismo destaca excentricidade da espécie

“É possível que eu nunca mais veja outra onça-parda com leucismo em minha vida”, diz cientista sobre jovem felino avistado na Mata Atlântica.

Por Christine Dell'Amore
Publicado 7 de dez. de 2020, 17:37 BRT
Onça-parda com leucismo caminha pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no sudeste do Brasil, em ...

Onça-parda com leucismo caminha pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no sudeste do Brasil, em 5 de julho de 2013. O animal não foi mais avistado desde então.

Foto de ICMBio

Dê passagem, pantera negra — o centro das atenções agora é uma onça-parda branca. Recentemente, fotografias de um jovem macho branco feito neve caminhando pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos na Mata Atlântica, no sudeste do Brasil, voltaram aos holofotes. Tiradas em 2013, as fotos foram o primeiro caso confirmado de uma onça-parda com leucismo, mutação genética que deixa a maior parte do corpo branca.

“É evidente que se trata de uma condição extremamente rara”, exclama Luke Hunter, diretor executivo do programa de Grandes Felinos da Wildlife Conservation Society e autor do livro Wild Cats of the World (“Felinos Selvagens do Mundo”, em tradução livre). “É uma seleção de fotos impressionante.”

Mutações genéticas de cores, como albinismo e leucismo, são relativamente comuns entre felinos selvagens, mas, por razões ignoradas, são quase desconhecidas em onças-pardas, predadores eficientes cujo habitat se estende do Canadá ao Chile, a maior área de distribuição de norte a sul dentre todos os felinos selvagens.

A título de comparação, o melanismo, um excesso do pigmento preto melanina, ocorre em 14 das 40 espécies conhecidas de felinos selvagens, mas ninguém jamais registrou uma onça-parda negra — nem em cativeiro nem na natureza. Quanto ao albinismo, em que os animais são incapazes de produzir qualquer tipo de pigmento — daí seus olhos cor-de-rosa — existem apenas dois registros de onças-pardas com essa característica, segundo Hunter: uma delas vive em um zoológico e a outra é um animal selvagem que foi encurralado em uma árvore por caçadores no oeste dos Estados Unidos. E além da onça-parda brasileira, existe apenas um único outro exemplo conhecido de onça-parda com leucismo: uma foto on-line tirada em um zoológico desconhecido, conta Hunter.

“Talvez eu nunca mais veja outra onça-parda com leucismo em minha vida”, afirma ele.

Pouco definido

Onças-pardas, também conhecidas como pumas ou leões-da-montanha, exibem pouquíssima variação nas cores da pelagem em geral, em sua maioria, são tons terrosos suaves de bege e cinza.

Hunter conta que ninguém sabe por que os genes que determinam as variações de cores são tão raros nessa espécie.

“Meu melhor palpite é que o ancestral distante das onças-pardas possuía coloração homogênea, o que se perpetuou na espécie desde então”, explica ele. “Mas é tudo consequência do caráter aleatório das mutações, a casualidade genética”.

Depois de tiradas as fotos, os pesquisadores esperavam capturar o felino brasileiro e analisar seus genes, mas não o encontraram mais, de acordo com Cecília Cronemberger de Faria, analista ambiental do parque nacional onde o felino foi avistado.

“O projeto de monitoramento de armadilhas fotográficas foi retomado no ano passado, mas ainda não temos nenhum registro novo desse animal nem de nenhuma outra onça-parda de cor incomum”, escreveu ela recentemente por e-mail à National Geographic. Cronemberger de Faria é coautora do relatório de 2018 no boletim CATnews, publicação da União Internacional para a Conservação da Natureza, que descreveu o animal.

Embora a falta de variação de cores da onça-parda provavelmente não apresente nenhuma vantagem ou desvantagem evolutiva, existem teorias de que panteras negras, expressão genérica que se refere a qualquer grande felino com pelagem escura, possam se beneficiar com a camuflagem proporcionada pela coloração escura.

Por exemplo, leopardos negros são abundantes nas densas florestas tropicais da península da Malásia, mas não nos desertos da Ásia Central, um indício de que a pelagem negra é vantajosa em habitats pouco iluminados.

Um estilo de vida normal

Os autores do estudo publicado no boletim CATnews também levantam a hipótese de que a onça-parda com leucismo poderia ser um sinal de consanguinidade na Mata Atlântica cada vez mais reduzida, onde as populações de onças-pardas estão muito fragmentadas. A UICN classifica o status de conservação das onças-pardas como “pouco preocupante”, apesar de seu desaparecimento em diversos locais, como no Brasil, devido à perda de habitat e à falta de presas.

Mas como não foi avistado nenhum outro animal com essa condição, “duvido que esse seja o caso”, afirma Hunter.

A pelagem clara da onça-parda com leucismo provavelmente não seja uma desvantagem, e ele acrescenta: como predador que emprega uma estratégia de emboscadas, a onça-parda dependeria da cobertura florestal para se esconder e se aproximar de pequenos mamíferos antes dar o bote. A caça seria mais difícil, observa ele, se a onça-parda branca estivesse caçando cervos nas planícies abertas do oeste dos Estados Unidos.

Quanto à capacidade de encontrar companheiras, ele brinca: “tenho quase certeza de que uma onça-parda fêmea não se importaria com essa coloração diferente.”

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