Sapinho que brilha secretamente no escuro descoberto na Mata Atlântica

O anfíbio do tamanho de uma unha do polegar perdeu 93% de sua cobertura florestal.

Por Sofia Quaglia
Publicado 9 de mai. de 2021, 17:00 BRT
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Um sapo-pingo-de-ouro recém-descoberto é visto na Serra da Mantiqueira, no Brasil.

Foto de Edelcio Muscat

A espécie tem cor alaranjada, é fluorescente e mede menos de dois centímetros. Conheça o recém-descoberto anfíbio Brachycephalus rotenbergae, um tipo de sapo-pingo-de-ouro encontrado na Mata Atlântica brasileira.

O animal pertence a uma família de pelo menos 36 sapos-pingo-de-ouro (também conhecidos como sapos-abóbora), assim chamados devido ao seu tamanho minúsculo e à sua cor alaranjada brilhante. Assim como outros sapos venenosos, sua cor vibrante é provavelmente um aviso aos predadores de que sua pele carrega uma toxina potencialmente mortal.

A nova espécie, descrita recentemente na revista científica PLOS ONE, foi descoberta durante um extenso trabalho de pesquisa em todo o Brasil para encontrar novos sapos-pingo-de-ouro. Identificar as criaturas é fundamental para conservar a biodiversidade brasileira, especialmente em áreas ricas em espécies como a Mata Atlântica, que perdeu 93% de sua cobertura original devido ao desmatamento e à agricultura, segundo especialistas.

O Brasil possui o maior número de espécies de anfíbios do planeta — pelo menos mil —, mas os anfíbios em todo o mundo estão entre os grupos mais vulneráveis de vertebrados, principalmente devido às mudanças climáticas.

“O melhor momento para ser um cientista é quando se está olhando para algo novo e você é a única pessoa que sabe sobre isso”, declara o autor principal do estudo Ivan Sergio Nunes Silva, herpetologista da Universidade Estadual Paulista.

“Hoje em dia, infelizmente, espécies não identificadas estão sendo erradicadas mais rápido do que conseguimos descrever novas espécies.”

O conto de um novo sapo

Nunes e sua equipe encontraram o B. rotenbergae durante 76 pesquisas de campo realizadas entre 2018 e 2019 na Serra da Mantiqueira, a cerca de 1,9 mil metros de altitude, onde passaram horas vagando por afloramentos rochosos e riachos que fluem através da floresta.

Ao voltarem ao laboratório, a equipe retirou amostras de DNA do novo sapo e as comparou com amostras de sapos-pingo-de-ouro conhecidos. Também analisaram suas características físicas e estrutura óssea, seu comportamento e gravações de seus chamados de acasalamento para determinar que se tratava de uma nova espécie.

Por exemplo, o novo sapo-pingo-de-ouro é menor do que outros sapos conhecidos, com um focinho mais diminuto. Outras características incomuns incluem padrões pretos desbotados em sua pele e uma preferência por altitudes mais altas da Mata Atlântica.

As criaturas também são incapazes de ouvir o som de seu próprio chamado porque seus ouvidos são subdesenvolvidos, explica Nunes.

“A comunicação deles é particularmente visual”, acrescenta, já que os sapos provavelmente se comunicam movimentando suas bocas.

Misteriosamente, os anfíbios também brilham quando colocados sob luz ultravioleta, um comprimento de onda que eles podem ver, mas os humanos não. Apenas duas outras espécies de sapos-pingo-de-ouro são conhecidas por apresentar fluorescência, acrescenta.

A abordagem abrangente de Nunes e seus colegas — que incluiu exames do corpo, da genética e dos sons dos anfíbios — é importante, especialmente no caso de espécies semelhantes, declara Michel Varajão Garey, professor do Instituto Latino-Americano de Ciências da Vida e da Natureza, em Foz do Iguaçu, que não participou da pesquisa.

Um método tão completo como esse pode “revelar uma diversidade ainda desconhecida”, explica, e possivelmente recategorizar algumas espécies que foram classificadas erroneamente.

Na verdade, até o estudo atual, o B. rotenbergae era erroneamente categorizado como o B. ephippium, devido à grande semelhança entre eles, segundo os autores — embora essa reclassificação também seja uma fonte de controvérsia entre alguns pesquisadores de anfíbios.

Por exemplo, Rute Clemente-Carvalho, gerente do laboratório de genômica do Instituto Hakai, na Colúmbia Britânica, Canadá, não está convencida de que o B. rotenbergae seja uma espécie nova, mas apenas um B. ephippium. Segundo ela, as diferenças genéticas entre o B. ephippium e o B. rotenbergae descritas no estudo são muito pequenas.

Além disso, os pesquisadores fizeram a maioria de suas comparações genéticas entre o B. rotenbergae e parentes distantes dos sapos-pingo-de-ouro, e não o suficiente com amostras de B. ephippium para afirmar ser uma nova espécie, comenta Clemente-Carvalho por e-mail.

Embora o estudo seja muito útil para continuar a pesquisa sobre os sapos-pingo-de-ouro, ela declara que gostaria de ver uma comparação mais aprofundada entre o B. ephippium e o B. rotenbergae.

Muito trabalho a ser feito

A população da nova espécie é desconhecida, mas Nunes e seus colegas esperam realizar mais pesquisas para descobrir onde ela vive — bem como procurar mais espécies de sapos-pingo-de-ouro.

A maior parte remanescente da Mata Atlântica está protegida em reservas naturais, mas algumas regiões ainda são ameaçadas pelo desmatamento, mudanças climáticas e mudanças para exploração do solo. Embora as taxas de desmatamento tenham caído no Brasil, mais de 11,3 mil hectares de terra foram desmatados em 2018.

Nunes espera que a descoberta incentive o governo e as organizações a cuidar melhor de seus recursos, por exemplo, rastreando de forma rigorosa espécies ameaçadas.

“A natureza só é estável se for suficientemente complexa”, declara Nunes. “Descrever a biodiversidade é fundamental para um país repleto de diversidade como o Brasil.”

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