Borboletas-monarcas agora são espécie ameaçada de extinção

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) também anunciou que o esturjão está em declínio acelerado, ao passo que as populações de tigres estão se estabilizando.

Por Natasha Daly
Publicado 22 de jul. de 2022, 15:19 BRT

Borboleta-monarca em cipreste na Coastal Access Monarch Butterfly Preserve, em Los Osos, Califórnia, em janeiro. Essa reserva de borboletas-monarcas está localizada em uma das regiões frequentadas por milhares de monarcas ao migrar do norte ao sul dos Estados Unidos a cada outono. Nesta quinta-feira, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) declarou a borboleta-monarca uma espécie ameaçada de extinção.

Foto de Gary Coronado Los Angeles Times, Getty Images

Uma querida visitante dos jardins de residências durante o verão tornou-se oficialmente uma espécie em extinção.

Nesta quinta-feira (21/7), a borboleta-monarca-migratória – subespécie icônica, comum na América do Norte – foi declarada ameaçada de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), principal autoridade global de classificação da diversidade biológica.

A borboleta, conhecida por sua jornada semestral de mais de quatro mil quilômetros pelo continente entre o verão e o inverno, apresentou um declínio populacional entre 23% e 72% nos últimos 10 anos, de acordo com a UICN.

Embora a monarca seja considerada ameaçada há muito tempo, sua inclusão na Lista Vermelha da UICN – um inventário do estado de conservação de espécies – representa a primeira declaração oficial de seu risco de extinção.

“É difícil imaginar que uma criatura que visita seu quintal está ameaçada de extinção”, afirma Anna Walker, líder na avaliação da borboleta-monarca. Ela integra o Grupo de Especialistas em Borboletas e Mariposas da Comissão de Sobrevivência de Espécies da UICN e é a diretora de sobrevivência de espécies da organização sem fins lucrativos New Mexico BioPark Society.

A ameaça às monarcas decorre de uma série de fatores. Ao longo de décadas, a destruição do habitat em que as monarcas-migratórias passam o inverno traz grandes consequências. O impacto foi sentido tanto pela população ocidental, encontrada a oeste das Montanhas Rochosas e durante o inverno na costa da Califórnia, quanto pela população oriental, encontrada no leste dos Estados Unidos e Canadá e durante o inverno nas florestas de abetos do México. 

Em seus habitats, durante o verão, pesticidas agrícolas dizimaram monarcas e também asclépias, as plantas nas quais as borboletas depositam seus ovos. As mudanças climáticas também representam uma ameaça crescente à medida que eventos climáticos extremos, como furacões e secas, se tornam mais comuns ao longo das rotas migratórias das borboletas ao sul.

Nas últimas décadas, a população ocidental de monarcas, menos estudada e sob risco maior, despencou 99,9%, de cerca de 10 milhões na década de 1980 para pouco mais de 1,9 mil em 2021, segundo a UICN. A população oriental diminuiu 84% entre 1996 e 2014.

Apenas 1% das espécies de insetos foram avaliadas pela UICN – por isso, a inclusão da monarca na lista é algo significativo. A listagem pode ser uma ótima ferramenta para comunicar ao público e às autoridades mundiais sobre a necessidade urgente de conservar a borboleta, destaca Walker.

Más notícias para os esturjões, boas notícias para os tigres

A UICN também anunciou que todas as espécies de esturjões – 26 ao todo – agora estão em risco de extinção, e 17 delas estão ameaçadas em níveis críticos. O esturjão da espécie Acipenser dabryanus agora está extinto na natureza.

Os esturjões são considerados fósseis vivos porque esses peixes permanecem praticamente inalterados desde os primeiros registros fósseis. Eles datam de 145 milhões de anos e conviveram com dinossauros.

Durante séculos, houve pesca predatória de esturjões para consumo de sua carne e caviar. Embora todas as espécies de esturjão sejam protegidas pela lei de comércio internacional, mais da metade continua sendo pescada ilegalmente e vendida como iguaria. Uma fiscalização mais rigorosa da pesca e vendas ilegais é crucial para deter o comércio, segundo a UICN.

O anúncio da UICN trouxe boas notícias para algumas espécies, como o tigre. Novos dados indicam que existem entre 3,7 mil e 5,5 mil tigres na natureza, 40% a mais do que a população estimada em 2015. Essa melhoria decorre sobretudo de aperfeiçoamentos no monitoramento, e não de um aumento populacional de tigres. 

Mas a UICN afirma que é um bom sinal de que a população de tigres, embora ainda ameaçada de extinção, tenha se estabilizado e pode estar aumentando, em vista de iniciativas de conservação. 

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Esperança para as monarcas

Na nova avaliação, Walker e seus colegas analisaram uma grande quantidade de dados sobre a população de monarcas a partir de diversas fontes, o que ajudou a eliminar algumas discrepâncias, ela conta.

Um estudo recente e polêmico baseado em dados de ciência cidadã sobre locais de nidificação durante o verão sugere que as borboletas-monarca podem estar aumentando em alguns locais dos Estados Unidos. No entanto, são os dados sobre o inverno os mais reveladores, observa Walker: “ainda que populações estejam se recuperando em alguns pontos durante o verão, se as populações que migram durante o inverno continuarem a ser reduzidas – ou até mesmo se estabilizarem – permanecerão precariamente baixas.”

O inverno passado nos Estados Unidos, entretanto, ofereceu um pouco de esperança. Uma contagem de borboletas por cientistas cidadãos em 283 pontos de nidificação durante o inverno na Califórnia, liderada pela organização sem fins lucrativos Xerces Society for Invertebrate Conservation, indicou uma recuperação das populações ocidentais da borboleta-monarca: 250 mil borboletas foram registradas, ante pouco mais de 1,9 mil em 2021.

As contagens de inverno são a maneira mais confiável de monitorar as populações, informa Walker, porque os locais de nidificação se concentram em uma pequena faixa, tornando as contagens mais confiáveis.

Contudo, “ao se considerar que a população de três a 10 milhões de borboletas no inverno, na década de 1980, foi reduzida para os atuais 250 mil indivíduos”, prossegue ela, a tendência geral dos dados de inverno não é promissora.

“Acreditamos que seria bom inserir todos os dados – alguns contraditórios – em um contexto global. Dessa forma, será um processo padronizado” e não influenciado por fatores políticos ou sociais, explica.

Há também esperança para a resiliência das monarcas, afirma Walker. Insetos se reproduzem rapidamente “o que oferece uma grande oportunidade: se forem reduzidas algumas ameaças, a borboleta poderá fazer o restante do trabalho”, ela conta.

“Estamos em um momento crucial em que as mudanças climáticas começam a surtir um impacto cada vez maior sobre as espécies”, afirma. Portanto, aumentar os números populacionais agora pode ser fundamental para preparar as borboletas para o sucesso.

O fato de as monarcas-migratórias serem insetos que frequentam os quintais das casas implica que é possível a colaboração de todos. Na América do Norte, plantar asclépias nativa (não a tropical da espécie Asclepias curassavica, que permanece sempre verde e pode induzir as monarcas a optar por não migrar durante o inverno) é uma ótima maneira de ajudar sua sobrevivência, sugere a especialista.

Diante do “grande desconhecimento” sobre as monarcas, participar de programas de ciência-cidadã que monitoram e protegem as borboletas das regiões é outra maneira de contribuir, afirma.

“Infelizmente, não seria a primeira vez que uma espécie comum e amplamente disseminada pode entrar em drástico declínio e desaparecer da face da Terra”, explica Walker – uma referência ao pombo-passageiro, ave anteriormente abundante que foi extinta na natureza em 1914.

Contudo, ao contrário de um século atrás, hoje há uma conscientização sem precedentes sobre a crise da biodiversidade, o que pode estimular iniciativas em nome de espécies ameaçadas de extinção, reitera Walker, se as pessoas se importarem o suficiente: “acredito que a monarca tenha o poder de fazer isso.”

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