O raro pinguim-das-galápagos está ameaçado de extinção?

Biólogos tentam método excepcional para aumentar o número desta espécie tropical.

O pinguim-das-galápagos (foto na Ilha Sombrero Chino) é o único pinguim que vive no Equador.

Foto de Joël Sartore Nat Geo Image Collection
Por Christine Peterson
Publicado 11 de nov. de 2022, 10:32 BRT

Há mais de uma década, P. Dee Boersma – bióloga da Universidade de Washington em Seattle, (EUA) – usou pés-de-cabra e martelos para cavar em uma rocha vulcânica um pequeno buraco nas Ilhas Galápagos, no Equador, na esperança de atrair um dos pinguins mais raros do mundo.

Cinco meses depois, um casal de pinguins-das-galápagos se mudou para um desses nichos ocos e criou seus filhotes. No ano seguinte, outro par de pinguins se instalou no mesmo lugar.

Hoje, pelo menos 84 dos 120 ninhos que Boersma e seus colegas abriram na rocha negra no Equador ainda são utilizáveis. E um censo recente revela que um quarto das espécies ameaçadas são jovens. Isso é significativo para a população deste animal que, provavelmente, está entre 1500 e 4700 exemplares, de acordo com Boersma, que também é exploradora da National Geographic.

Pela primeira vez em muito tempo, Boersma sente esperanças pelo futuro dessas aves de quase 2 quilos, que já enfrentam o clima mercurial de Galápagos – que alterna entre água quente e fria, dependendo dos ciclos climáticos da Terra, El Niño e La Niña. 

Este último, que causa água mais fria – e, portanto, traz mais peixes – ao longo da costa oeste da América do Sul, está contribuindo para o aumento atual da população de pinguins, fornecendo mais alimento.

“Eu esperava que fosse muito bom”, diz ela. “Mas foi uma grata surpresa, porque é a melhor reprodução que vimos nos últimos 12 anos.”

Um par de pinguins sentado em um dos ninhos construídos por Boersma e colegas em 2010. Como a predação é uma das principais ameaças aos pinguins-das-Galápagos, a equipe construiu ninhos em áreas livres de predadores introduzidos.

Foto de Dee Boersma

Os prejuízos causados pelo El Niño

Ninguém sabe exatamente como um tipo de animal mais conhecido por viver em ambientes do sul, muitas vezes gelados, instalou-se no Equador.

Como o pinguim-das-galápagos está mais intimamente relacionado ao pinguim de Humboldt da costa do Peru e do Chile, é provável que milhões de anos atrás alguns pinguins de Humboldt tenham entrado em uma corrente oceânica e parado em Galápagos, a cerca de 960 quilômetros do Equador. E lá ficaram, evoluindo para criar filhotes até três vezes por ano em ilhas rochosas quentes o suficiente para fritar um ovo.

Os pinguins-das-galápagos precisam de sombra perto da água para nidificar, mas quase não há árvores nas ilhas. Assim, estes pássaros monogâmicos bicolores gingam nos buracos nas rochas geralmente com cerca de um metro de profundidade e, às vezes, até 27 metros de comprimento, colocando um ou dois ovos. Os filhotes empenan com oito a nove meses de idade, embora ocasionalmente retornem aos pais para se alimentarem.

Quando as pessoas chegaram às ilhas, introduziram espécies, como gatos e ratos, que se alimentam de ovos, filhotes e até pinguins adultos. As operações de pesca comercial nas águas circundantes extinguiram muitos dos peixes preferidos da ave. 

Mas em 1982, um evento do fenômeno El Niño particularmente forte rodou o mundo, levando água quente para as ilhas e impedindo que nutrientes críticos subissem à superfície. A ausência de nutrientes resultou em falta de peixes, e isto significou que não havia comida para os pinguins. 

Os filhotes morriam de fome primeiro, já que retornavam para seus pais para se alimentar, sem sucesso. Em seguida, morreram os adultos. A população de pinguins de Galápagos caiu pela metade, estima Boersma, de 10 000 para menos de 5000.

Um grupo de pinguins-das-galápagos adultos e jovens descansa e se arruma em uma pequena ilha de rocha de lava.

Foto de Dee Boersma

População de pinguins está se recuperando?

Como a espécie não parece se dar bem em cativeiro, “não há zoológicos com pinguins-das-galápagos”, diz Paul Salaman, presidente da Galápagos Conservancy, uma organização sem fins lucrativos com sede nos EUA que trabalha para conservar a vida selvagem do arquipélago vulcânico. "É isso. Nós realmente precisamos fazer um esforço.”

Em 2010, procurando maneiras de aumentar a população, Boersma e o biólogo de Galápagos Godfrey Merlin observaram que muitos dos locais de nidificação originais da espécie estavam em ilhas habitadas por ratos e gatos predadores.

Assim, a equipe decidiu criar novos ninhos em ilhas menos impactadas por esses predadores, um trabalho que foi financiado por fontes como a National Geographic Society e a Fundação David and Lucile Packard.

É muito cedo para dizer se o recente aumento de pinguins jovens significa que a espécie está realmente se recuperando, adverte Boersma, que estuda a espécie desde 1970.

Mas “desde que tenham muitos ninhos de boa qualidade, a população deveria voltar a crescer”.

A National Geographic Society, comprometida em iluminar e proteger o nosso maravilhoso mundo, e tem financiado o trabalho da exploradora P. Dee Boersma. Conheça mais sobre o apoio da National Geographic Society aos exploradores que destacam e protegem espécies críticas.

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