Nova cobra gigante: descubra tudo sobre a espécie de sucuri-verde encontrada na Amazônia

A cobra mais pesada do mundo estava escondendo um grande segredo: a sucuri-verde tem uma outra espécie que foi revelada em uma análise recente e a National Geographic traz todos os detalhes.

Moscas pousam na cabeça de uma sucuri-verde do norte no Parque Nacional Yasuni, no Equador. Um novo estudo revelou recentemente que a sucuri-verde possui duas espécies distintas, mais diversa geneticamente do que os humanos e os chimpanzés.

Foto de Karine Aigner, Naturepl.com
Por Jason Bittel
Publicado 28 de fev. de 2024, 08:00 BRT

Como relatado recentemente, a sucuri-verde (ou anaconda verde) que é considerada a cobra mais pesada do mundo, tinha um grande segredo. Até então, os estudiosos acreditavam que só existia uma espécie de sucuri-verde (a Eunectes murinus), mas de acordo com um estudo publicado no dia 16 de fevereiro na revista científica Diversity, o animal possui na verdade duas espécies geneticamente distintas

Isso apesar de cada espécie parecer tão semelhante que nem mesmo os especialistas conseguem distingui-las. “Geneticamente, as diferenças são enormes”, afirma Bryan Fry, que é explorador da National Geographic e biólogo da Universidade de Queensland, na Austrália – e coautor do novo estudo.

"Elas são 5,5% diferentes geneticamente. Agora, para colocar isso em contexto, somos cerca de 2% diferentes dos chimpanzés", diz ele. 

Para fazer a descoberta chocante, Fry e seus coautores coletaram amostras de sangue e tecidos de sucuris-verdes no EquadorVenezuelaBrasil, um processo documentado exclusivamente pela National Geographic para sua próxima série da Disney+: “Pole to Pole With Will Smith”. Os autores do estudo também examinaram cada animal de perto para contar as escamas e procurar outras características físicas que pudessem indicar uma divergência evolutiva.

Depois de analisar os dados genéticos, eles descobriram uma clara divisão entre as sucuris estudadas na parte norte da área de distribuição em comparação com as do sul. E, com base nessas descobertas, eles propõem renomear a nova espécie de cobras encontradas no norte como sucuri-verde do norte (Eunectes akayima), enquanto a já conhecida E. murinus continuará a se referir às sucuris-verdes do sul.

A névoa da manhã paira sobre o rio Tiputini no Parque Nacional Yasuni, no Equador. A população de sucuri-verde do norte na bacia do Orinoco – Equador, Colômbia, Venezuela, Trinidad, Guiana, Suriname e Guiana Francesa – é uma espécie distinta da população de sucuri-verde do sul, encontrada no Peru, Bolívia, Guiana Francesa e Brasil.

Foto de Tim Lamán

Fry diz que ficou de queixo caído quando as análises foram concluídas. "Eu não esperava esse nível de divergência", afirma o biólogo. "É simplesmente alucinante. Todos nós ficamos muito felizes quando descobrimos essa novidade."

Embora possa parecer um exagero reclassificar duas populações de serpentes que parecem idênticas uma à outra, Fry enfatiza a importância que tais delineamentos podem ter para a compreensão das ameaças impostas a essas criaturas. No momento, a União Internacional para a Conservação da Natureza classifica a sucuri-verde como uma espécie de menor preocupação no que diz respeito ao risco de extinção, mas essa classificação se baseia, em parte, na amplitude da distribuição da espécie.

"É importante, pois a recém-descrita sucuri-verde do norte tem uma área de distribuição muito menor do que a do sul, o que significa que ela é muito mais vulnerável", explica Fry.

Bem perto das sucuris gigantes

Trabalhar com serpentes gigantes não é fácil, mas talvez por motivos diferentes do que você imagina.

Com pesos de mais de 200 quilos e comprimentos registrados de mais de oito metros, as maiores sucuris (anacondas) provavelmente são capazes de matar e comer um ser humano. Entretanto, esses incidentes só foram documentados de forma confiável na Ásia e com cobras conhecidas como pítons reticuladas.

Ainda assim, há outros riscos. Ao contar as escamas para sua pesquisa, Fry diz que, às vezes, as áreas mais informativas são aquelas próximas às regiões inferiores da cobra. Ao mesmo tempo, as anacondas costumam liberar suas entranhas quando são manuseadas. "Quando você pega uma anaconda grande, ela pode colocar cerca de um litro e meio de fluídos de suas entranhas em você", ele ri. "Mas você está vivendo o sonho!"

É claro que o fato de as sucuris serem predadores enormes e poderosos é apenas um dos motivos pelos quais os animais não foram estudados mais de perto. Elas também passam a maior parte de suas vidas submersas nas águas turvas de pântanos, brejos, riachos e rios.

No entanto, talvez sejam necessários mais trabalhos desse tipo para entender como as sucuris-verdes do norte e do sul embarcaram em trilhas evolutivas separadas. Afinal de contas, as duas espécies parecem coexistir na Guiana Francesa, chegando a ser encontradas em margens opostas de rios, conta Fry. E, no entanto, não há evidência de cruzamento em sua genética.

Em seguida, Fry gostaria de saber se há diferenças nos órgãos genitais das cobras. Isso ocorre porque muitas espécies de cobras desenvolvem estruturas que se encaixam umas nas outras como uma fechadura e uma chave. E quando duas espécies não podem mais se acasalar funcionalmente uma com a outra, é mais provável que continuem se diversificando.

"Para cada pergunta que você responde, surgem sete outras mais interessantes", diz Fry. "Para mim, esse é um sinal de um bom estudo: ele levanta tantas perguntas novas quanto responde às antigas."

Analisando também as sucuris-amarelas

"Este é um estudo muito completo e confio plenamente nos resultados genéticos", disse Wolfgang Böhme, membro honorário da equipe e herpetologista sênior do Museu Koenig, na Alemanha, em um e-mail. "A descoberta da profunda divisão genética dentro das sucuris-verdes é uma descoberta importante."

Curiosamente, Böhme estava menos certo sobre outra descoberta do estudo – especificamente que as três espécies de sucuri-amarela (E. notaeusE. deschauenseeiE. beniensis) deveriam ser combinadas em uma só (E. notaeus).

Essa descoberta foi baseada no mesmo tipo de trabalho genético feito com as sucuris-verdes. No entanto, nesse caso, Fry e seus coautores argumentaram que as diferenças genéticas entre as três espécies atuais de sucuri-amarela não são grandes o suficiente para sustentar o status de espécie separada.

A questão de agrupar ou dividir é, até certo ponto, filosófica, comenta Fry. "Sou muito conservador e, no fundo, sou um lumper", ele admite. "Por isso, para mim, o ideal é juntar as amarelas."

Böhme não está convencido e acha que a iniciativa de combinar as espécies de anaconda amarela é "prematura". No entanto, ele também tem bons motivos para acreditar que a descoberta da E. beniensis como sua própria espécie, que só aconteceu em 2022, continua sendo importante por si só.

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