Dizem que os gatos laranja têm personalidades engraçadas. Será que isso é verdade?

Será que os gatos laranja são os “engraçadinhos” do mundo felino? A genética responde

Pesquisas científicas sobre o comportamento dos felinos – em especial dos gatos de pelos ruivos – sugerem que, sim, pode haver algo especial neles. Aproveite o Dia Internacional do Gato para descobrir mais.

Dizem que os gatos laranja têm personalidades engraçadas. Será que isso é verdade?

Foto de Christina Gandolfo, Alamy Stock Photo
Por Jason Bittel
Publicado 7 de ago. de 2025, 06:45 BRT

Pendurados em lâmpadas, saltando de bancadas, atacando um cachorro… São muitos os comportamentos doidinhos” associados aos gatos de pelo alaranjado – e que costumam ser capturados em perfis nas redes sociais. Diante do Dia Internacional do Gato, celebrado anualmente em 8 de agosto, uma pergunta fica: será que, cientificamente falando, os gatos de pelos ruivos são diferentes dos felinos de outras cores?

Para começar, os gatos laranja não são uma raça, como os siameses, por exemplo. Gatos muito diferentes podem ter coloração alaranjada, o que reforça a crença dos aficionados por gatos dessa cor em afirmarem que comportamento de seus felinos ruivos transcende qualquer raça.

No início de 2025, cientistas identificaram o gene responsável pela coloração laranja encontrada em gatos: ele se chama ARHGAP36. Mas ainda não se sabe se essa coloração também vem acompanhada de um conjunto de modos de agir ou de certos traços de personalidade.

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Os gatos cor de laranja são mesmo mais “engraçados”?


Em 2015, um pequeno estudo publicado na revista “Anthrozoös” utilizou uma pesquisa online anônima para descobrir que as pessoas eram, pelo menos, mais propensas a atribuir a característica simpatia” a gatos laranja do que a felinos de outras cores. E um estudo maior publicado no “Journal of Veterinary Behavior”, no mesmo ano, também encontrou algum apoio à ideia de que gatos laranja são distintos.

“Descobrimos que a maioria das diferenças está relacionada à raça, mas também havia algumas outras ligadas à cor da pelagem”, diz Carlo Siracusa, cientista clínico da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e autor sênior do estudo.

Um gato de pelos alaranjados ganha destaque nesta ilustração: esta cor de pelo pode ser encontrada ...

Um gato de pelos alaranjados ganha destaque nesta ilustração: esta cor de pelo pode ser encontrada em felinos de diversas raças diferentes.

Foto de WALTER A. WEBER

Nessas investigações, os gatos de cor lilás, por exemplo, foram considerados mais brincalhões e mais propensos a sofrer de ansiedade de separaçãoGatos malhados, ou aqueles com manchas brancas, tiveram pontuações mais baixas em vocalização. E gatos com “padrão tartaruga” eram menos agressivos com cães.

Siracusa, por sua vez, afirma que os conceitos pré-estabelecidos sobre os gatos, a depender de sua aparência, geralmente se baseiam na experiência. E, como alguém que lida com gatos regularmente, ele tem suas próprias crenças baseadas na observação, como a de que os gatos machos são mais extrovertidos do que as fêmeas.

“Minha percepção, neste momento, é um preconceito”, ele ri. 

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O que já se sabe sobre o comportamento dos gatos alaranjados


Mesmo sem um estudo conclusivo que relacione a cor laranja dos gatos com sua personalidade, há indícios de uma ligação biológica.

Lembra-se do gene ARHGAP36, responsável pela coloração laranja? Bem, ele está ligado ao cromossomo X. Isso explica por que os gatos laranja são mais propensos a serem machos, relatam os autores no estudo publicado na revista “Current Biology”.

 As gatas têm dois cromossomos X. Isso significa que elas precisam ter duas cópias do gene para produzir a coloração laranja. Mas os machos, que têm cromossomos XY, precisam de apenas uma cópia do ARHGAP36 para desenvolver pelos neste tom. Talvez essa seja a verdadeira resposta para a peculiaridade dos gatos laranja: Siracusa tende a pensar que, em geral, os gatos machos são mais extrovertidos.

Mas é aqui que as coisas ficam interessantes.

À medida que os cientistas aprendiam mais sobre os genes e como eles influenciam o desenvolvimento, também descobriam que qualquer gene específico está frequentemente ligado a uma variedade de características posteriores. Por exemplo, pessoas com cabelos ruivos têm uma variante do gene do receptor de melanocortina-1 (MC1R), que também pode estar ligado a uma maior tolerância à dor menor eficácia da anestesia.

Agora, em estudos com humanos e camundongos, o gene ARHGAP36 é expresso no cérebro e nas glândulas hormonais. Ainda mais interessante é que as células que dão cor ao pelo ou à pele, conhecidas como células pigmentares, na verdade começam seu desenvolvimento nas células da crista neural de um embrião.

​​Essas células também podem “se diferenciar em neurônios e células endócrinas que produzem catecolaminas, conhecidas por controlar a atividade e a excitabilidade”, afirma Hiroyuki Sasaki, professor emérito e geneticista da Universidade de Kyushu, no Japão, em um e-mail.

“Portanto, parece possível que a mutação do DNA no gene possa causar alterações no temperamentono comportamento”, diz Sasaki, autor sênior do estudo. “Gostaria de enfatizar, no entanto, que isso é apenas uma especulação.”

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É preciso mais estudos sobre os gatos


Mesmo que houvesse alguma base científica para o comportamento dos gatos ruivos, os cientistas enfatizam que sempre haveria exceções às regras.

“É isso que vemos nas clínicas todos os dias”, diz Siracusa, que afirma que os clientes frequentemente lhe dizem que escolheram uma determinada raça ou cor de animal de estimação por seu comportamento prescrito. “E então eles têm um animal que se comporta de maneira completamente oposta ficam chocados”, diz ele.

Com mais de 30,8 milhões de gatos de estimação no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) para a Agência Senado, há de se perguntar porque ainda existem tantos fatos desconhecidos sobre os animais de companhia.

Mas como algumas destas questões não estão ligadas a temas urgentes de saúde humana ou animal, muitas vezes eles recebem menos atenção e pouco financiamento, diz Sasaki.

“Nosso mundo ainda é cheio de mistérios, e há tantas perguntas sem resposta ao nosso redor, incluindo aquelas que podem parecer muito simples”, diz Sasaki.

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