
Como a estranha amizade entre preguiças e mariposas pode ajudar a ciência a salvar vidas humanas
Uma preguiça de três dedos de garganta marrom espreita por cima da raiz de um árvore enquanto defeca no chão da floresta.
Durante séculos, as pessoas que encontravam preguiças pela primeira vez reagiam ridicularizando-as. Em 1526, o conquistador espanhol Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés escreveu que as preguiças (ou bichos-preguiça) que ele tinha visto nos trópicos americanos eram “feias”, “inúteis” e “os animais mais estúpidos que podem ser encontrados no mundo”.
Já em 1749, o naturalista francês Georges-Louis Leclerc, Conde de Buffon, chamou-as de “a forma mais baixa de existência” e julgou que “mais um defeito teria tornado suas vidas impossíveis”. Estas são palavras duras sobre uma criatura que sobreviveu por pelo menos 50 milhões de anos.
Sim, as preguiças têm audição e visão deficientes e são lentas — são os mamíferos mais lentos da Terra. Mas sua letargia é uma estratégia para economizar energia; apesar da incapacidade de fugir das ameaças, as preguiças descobriram o que funciona para elas.
De olho no Dia Mundial da Preguiça, que é celebrado sempre no terceiro sábado de cada mês de outubro e que em 2025 cai em 18 de outubro, para conhecer a estranha maneira escolhida por esses animais para se protegerem.
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Retrato de uma preguiça-de-três-dedos-de-garganta-castanha (Bradypus variegatus) descendo de uma árvore para defecar enquanto fica atenta ao perigo.
A engenhosa simbiose entre preguiças, mariposas e algas
E embora possam parecer solitárias, elas não têm sucesso sozinhas. As preguiças funcionam como um terço de uma parceria com mariposas e algas, que vivem na pelagem espessa do mamífero (junto com fungos, carrapatos e ácaros, pasmem). “Os bichos-preguiça são mamíferos fascinantes, fantásticos e estranhos que recrutaram organismos realmente inesperados para ajudá-los a sobreviver”, diz Jonathan Pauli, ecologista da vida selvagem da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, que estudou essa simbiose.
Depois que uma preguiça de três dedos passa dias descansando na copa das árvores, cochilando e pastando em folhas venenosas — lentamente, para que seu fígado e estômago de quatro câmaras possam decompor as toxinas —, chega a hora de sua evacuação semanal. Em vez de deixar cair os excrementos do alto, o animal faz uma descida demorada.
Conforme capturado pelas câmeras da série “Underdogs: Coadjuvantes Selvagens”, da National Geographic (narrada por Ryan Reynolds e disponível no Disney+), o movimento é extremamente arriscado, queimando um décimo das calorias diárias da preguiça e expondo-a a predadores no chão da selva, onde ela fica praticamente — mas nem sempre — indefesa para se defender.
Mais da metade das mortes de preguiças documentadas pela equipe de pesquisadores de Pauli na Costa Rica ocorreram durante as pausas para “ir ao banheiro”. Mas se uma onça não estiver esperando na base da árvore, a preguiça cava uma pequena depressão no solo — fazendo seu “vaso sanitário” — e finalmente faz suas necessidades.
“O que parece claro para os pesquisadores é que as preguiças, as mariposas e as algas se beneficiam desse arranjo mútuo.”
Entram, então, em cena as mariposas. As fêmeas, incluindo espécies encontradas apenas em preguiças, depositam seus ovos no excremento fresco. Os ovos se transformam em larvas coprófagas, que se alimentam das fezes, e as larvas se transformam em mariposas adultas que voam em busca de seus próprios habitats peludos. Já foram contadas até 120 mariposas em uma única preguiça.
As mariposas fertilizam o pelo das preguiças com nutrientes, como nitrogênio, seja depositando matéria fecal ou morrendo e se decompondo. Juntamente com a água da chuva, o nitrogênio estimula o crescimento de algas. E as algas dão às preguiças uma coloração verde — uma camuflagem eficaz contra as aves de rapina que patrulham o céu.
Quanto mais mariposas houver em uma preguiça, mais nitrogênio e algas haverá. Os bichos-preguiça também comem as algas como uma espécie de suplemento alimentar. Embora os pesquisadores não tenham observado esse comportamento, a equipe de Pauli testou o conteúdo do estômago das preguiças e encontrou algas.
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O que as bactérias presentes nos bichos-preguiça podem fazer pelos humanos?
O que parece claro para os pesquisadores é que as preguiças, as mariposas e as algas se beneficiam desse arranjo mútuo. E agora, uma equipe de cientistas na Costa Rica está explorando se o microbioma que vive nas preguiças também pode melhorar a saúde humana.
Isso porque muitos especialistas acreditam que as preguiças são resistentes a doenças ou infecções; testando amostras de pelos, a equipe da Costa Rica isolou bactérias anteriormente desconhecidas que podem levar a novos antibióticos. À medida que aumentam as preocupações com superbactérias capazes de derrotar os medicamentos existentes, e se os remédios forem descobertos nas costas e barrigas dos bichos-preguiça?
Este animal tão difamado no passado, chamado de inútil, e um improvável sobrevivente na selva, pode acabar provando ser um herói, sofisticado o suficiente para salvar vidas humanas. Talvez tenhamos demorado muito para reconhecer o potencial da preguiça.
