Por que a altura do Monte Everest continua mudando

Antigamente, uma colisão geológica criou a imponente cordilheira do Himalaia — e essa colisão continua acontecendo até hoje.

Por Maya Wei-Haas
Publicado 3 de jan. de 2021, 08:00 BRT
Os primeiros raios do sol da manhã brilham sobre o pico do Monte Everest.

Os primeiros raios do sol da manhã brilham sobre o pico do Monte Everest.

Foto de Edson Vandeira, National Geographic Image Collection

Alpinistas que chegam ao topo do Monte Everest talvez não saibam, mas a neve esconde uma extensão de pedras cinzentas manchadas, que um dia esteve no fundo do mar.

As rochas foram levadas a esse local surpreendente, que fica a mais de nove mil metros acima do nível do mar, devido ao movimento lento das placas tectônicas, placas de rocha sólida que formam a crosta externa e fragmentada do nosso planeta. Essas placas disputam lugar entre si, dando forma ao relevo visível na superfície. Em alguns lugares, as placas se separam, criando vales. Em outros, elas se chocaram, dando origem a montanhas.

Erguendo-se na fronteira entre o Tibete e o Nepal, o Monte Everest foi formado devido a uma colisão tectônica entre a placa indiana e a placa da Eurásia há dezenas de milhões de anos.  O choque transformou a paisagem, fazendo emergir montanhas ao longo de 2,4 mil quilômetros, uma cordilheira que conhecemos como Himalaia. Ainda que as etapas precisas dessa colisão continental continuem sendo misteriosas, ela segue acontecendo atualmente, o que se deve, em parte, às alterações de altitude constantes do Everest.

A origem de uma cadeia de montanhas

A história do Himalaia se inicia cerca de 200 milhões de anos atrás, quando o supercontinente da Pangeia se fragmentou. Em algum momento, a placa indiana se desprendeu e viajou em direção à massa de terra que hoje conhecemos como Ásia, ao norte. Em termos geológicos, a placa indiana se compactou em uma velocidade surpreendente, movendo-se cerca de nove metros ou mais por século.

Naquele período, o Oceano de Tétis preenchia o estreito entre a Índia e a Eurásia, mas com o deslocamento da Índia em direção ao norte, o oceano começou a se fechar. A placa sob a água, composta pela densa crosta oceânica, submergiu na borda sul das rochas mais dinâmicas que formavam a placa continental eurasiana, criando um elemento conhecido como zona de subducção. O deslizamento lento da placa oceânica para o manto carregou uma camada grossa de sedimentos do fundo do mar, que se depositou na borda da placa da Eurásia — uma camada arenosa que mais tarde seria compactada e formaria rochas no topo das montanhas.

Há cerca de 50 milhões de anos, a velocidade de movimentação da placa indiana caiu bruscamente, uma alteração que muitos cientistas interpretam como os estágios iniciais da colisão da placa com a Eurásia. Evidências complementares de sedimentos marinhos sugerem que a última faixa do Oceano de Tétis se fechou entre 50 e 60 milhões de anos atrás.

Diferentemente de uma placa oceânica, que é fria e densa, a placa continental indiana é espessa e flutua. Em razão disso, à medida que os continentes se comprimiam e a Índia abria espaço sob a Ásia, a superfície se transformava, e a crosta se tornava mais densa para dar origem ao que, finalmente, viria a ser a cordilheira do Himalaia. Pelo menos, essa é a versão mais aceita da história há muito tempo.

Mas os cientistas seguem explorando cada dobra, fenda e rocha desse sistema geológico, fazendo diversos mistérios surgirem. O estudo de padrões magnéticos antigos na rocha permite que pesquisadores mapeiem a posição de um continente ao longo do tempo, e pesquisas recentes que utilizam esse método revelaram que no momento em que a colisão que originou as montanhas supostamente ocorreu, cerca de 55 milhões de anos atrás, a Índia estaria a uma distância significativa da Eurásia, ao sul do continente. Essa constatação teria deixado um espaço misterioso e imenso entre os dois continentes.

Será que a placa indiana se chocou inicialmente com uma massa de terra, há muito tempo perdida, localizada entre os dois grandes blocos continentais? E será que a borda norte da placa indiana era muito maior do que se imaginava antes? Por que a placa indiana se movimentava de forma tão rápida antes do impacto? Essas são algumas das muitas perguntas que os cientistas ainda estão tentando responder.

Vista do Acampamento base da face norte do Everest mostra os acessos aos acampamentos mais elevados do trajeto que leva ao topo da montanha.

Foto de Renan Ozturk, National Geographic

Crescendo e encolhendo

Independentemente de quando começou, a colisão que formou o Everest continua ocorrendo até hoje. A Índia se desloca em direção ao norte alguns centímetros por ano, e os cientistas calculam que o impacto ainda em curso com a Eurásia pode levar as montanhas a ficarem cada vez mais altas, com um crescimento médio esperado de aproximadamente 10 milímetros por ano na porção noroeste da cordilheira, e cerca de um milímetro por ano no Everest.

O crescimento pode acontecer de forma irregular, causado por mudanças mais violentas no cenário. Enquanto a Índia desliza sob a Eurásia, o deslizamento nem sempre é suave. Quando a terra é comprimida, a pressão interna aumenta até atingir um ponto de ruptura. Os blocos de terra podem então se deslocar de forma repentina, agitando o solo com a mesma força de um terremoto.

Mas não é sempre que a montanha fica mais alta durante terremotos. Dependendo de onde e quando o abalo sísmico acontece, tremores podem causar o crescimento ou encolhimento da montanha em pequenas medidas. Talvez esse tenha sido o caso durante o terremoto no Nepal em 2015, de acordo com dados de satélites.

Ao mesmo tempo, enquanto as rochas continuam crescendo em altura, a erosão trabalha na direção oposta. O vento e a água limam a superfície, transportando sedimentos para córregos que fluem por trás das montanhas. No Himalaia, a maior parte dos sedimentos é levada para os rios Ganges e Bramaputra. A areia sai da água com a diminuição da inclinação na base da montanha no que é o maior delta fluvial do planeta, formando a região em que se localizam a maior parte de Bangladesh e o estado indiano de Bengala Ocidental.

Mesmo com a erosão e a gravidade preservando as condições das montanhas imponentes, as placas tectônicas mantêm sua dança geológica, e o Everest continuará acompanhando seus passos.

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