Quando o carrapato-estrela, que transmite a febre maculosa, é mais perigoso?

Durante seu ciclo de vida, o carrapato-estrela apresenta níveis diferentes de risco na transmissão de doenças para o ser humano.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 14 de jun. de 2023, 13:40 BRT

Cidades no interior de São Paulo, como Campinas e Jundiaí, consideram que os casos de febre maculosa possam significar um surto da doença. Até agora, 12 casos e seis mortes foram registradas em 2023, quatro delas ocorreram nas primeiras semana de junho. 

Foto de Prefeitura de Jundiaí

A febre maculosa, também chamada de Febre Maculosa Brasileira (FMB), é uma doença causada por uma bactéria do gênero Rickettsia e  transmitida pela picada de um carrapato hematófago (ou seja, que se alimenta de sangue). Trata-se de uma enfermidade grave, que pode debilitar os seres humanos até a morte, como informa o Ministério da Saúde Brasileiro 

Após a notificação de quatro pessoas mortas no interior do estado de São Paulo em decorrência de febre maculosa nas primeiras semanas de junho – como confirmado pelo Secretaria de Saúde do Estado – especialistas estão em alerta para um possível surto da doença. Segundo o órgão governamental, é importante reforçar medidas de prevenção, que envolvem, principalmente, evitar o contato com o inseto transmissor.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), localizada na cidade onde as mortes por febre maculosa ocorreram, alerta que os meses de junho a novembro é o período quando a infestação ambiental pelo vetor da doença é alta. Por  isso mesmo, o cuidado deve ser redobrado. 

Como a febre maculosa é transmitida?

De acordo com o órgão de saúde do governo brasileiro, ainda que potencialmente qualquer espécie de carrapato possa carregar a bactéria causadora da doença como, por exemplo, o carrapato do cachorro, os principais vetores da febre são os carrapatos do gênero Amblyomma. O vetor mais preocupante é o conhecido como carrapato-estrela (A. sculptum).

A Unicamp enfatiza que é justamente entre junho e novembro que o parasita entra em uma fase do seu ciclo de vida na qual a possibilidade de parasitismo humano é maior, aumentando o número de casos da febre. 

Isso porque o carrapato está mais presente no meio ambiente quando chega sua fase de ninfa (juvenil); eles se tornam mais perigosos porque são menores e mais difíceis de serem vistos. 

Entretanto, o carrapato-estrela pode infectar seu hospedeiro em mais de uma fase de seu ciclo de vida. Segundo a Unicamp, os carrapatos-estrela não têm o hábito de se fixar em apenas um hospedeiro – e podem se fixar em cachorros, cavalos, bois, gatos, capivaras ou até seres humanos.

O que causa a febre maculosa?

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, duas espécies de bactérias estão associadas a quadros clínicos da febre maculosa: 

  • Rickettsia rickettsii, que leva ao quadro de Febre Maculosa Brasileira (FMB) considerada a forma grave da doença. Costuma ser registrada no norte do estado do Paraná e nos estados da região Sudeste.
  • Rickettsia parkeri, que tem sido verificada em ambientes de Mata Atlântica (do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará), e costuma levar a quadros clínicos menos graves.

Os primeiros sintomas aparecem de dois a 14 dias depois da picada do carrapato e começam abruptamente. O conjunto de sinais da doença são semelhantes aos de outras infecções, com febre alta, dor no corpo, dor de cabeça, falta de apetite e desânimo. 

Além desses, a febre maculosa também é caracterizada pela presença de manchas vermelhas na pele denominadas máculas. 

Carrapatos parasitas encontrados no casco de uma tartaruga trazida para processamento. Essas espécies particulares de carrapatos foram observadas com bastante frequência em conchas com outras espécies encontradas em membros e tecidos internos.

Foto de MATTHEW WARD

Qual o ciclo de vida do carrapato causador da febre maculosa?

“Os carrapatos possuem ciclo de vida que inclui as fases de ovo, larva, ninfa e adulto”, diz Marcos Vinícius Rodrigues, biólogo especialista em fauna silvestre, com foco em plano de manejo de capivaras. O especialista trabalha para a contenção de doenças transmitidas por esse animal. 

O biólogo adianta que para completar o ciclo saindo de ovo e chegando à fase adulta, o carrapato-estrela precisa de três hospedeiros. Depois de eclodirem dos ovos, os insetos – que estão em forma de larva, procuram um animal para se alimentar, retornando ao ambiente depois de alguns dias. 

Fora do animal, o inseto se transforma no que é chamado de ninfa, ganhando mais um par de pernas, e pode ficar meses sem se alimentar aguardando um novo hospedeiro, informa a Unicamp. 

Esse processo se repete mais uma vez com o inseto chegando à fase adulta e alcançando a idade de reprodução. Nessa fase, de acordo com o biólogo, os parasitas podem ficar até dois anos sem se alimentar até achar o próximo hospedeiro, acasalar e reiniciar o ciclo. “O carrapato estrela completa um ciclo de vida no período de um ano, mas as fases se dividem bem ao longo dos meses”, afirma. “As larvas são mais comuns de abril a julho. Já as ninfas, de julho a outubro. Enquanto os adultos, de outubro a março.”

Para que o carrapato transmita a febre maculosa, ele precisa consumir o sangue de um animal já infectado com a bactéria Rickettsia, que será transportada para o próximo hospedeiro – e é assim que a doença chega aos humanos. 

Pessoas que frequentam lugares como parques, trilhas ecológicas, florestas, fazendas e cursos de rio de ocorrência destes carrapatos têm mais chance de serem contaminadas. 

Para isso, “o carrapato precisa ficar fixado no corpo da pessoa em torno de seis a 10 horas para que a Rickettsia presente na saliva do carrapato possa ter uma reativação, deixando de estar no estado latente não-virulento, passando para um estado altamente patogênico”, explica Rodrigues.

Como se prevenir da febre maculosa

O carrapato-estrela é encontrado com mais frequência em áreas com vegetação e que tenham grande fluxo de animais de grande porte (desde cachorros, passando por capivaras e bois), como fazendas, campos e parques. Caso a pessoa esteja em uma área de risco, o Ministério da Saúde recomenda certas precauções:

  • Examine o corpo a cada três horas pelo menos;
  • Use roupas claras para ser mais fácil notar a presença  de algum carrapato;
  • Coloque a barra das calças dentro das meias e calce botas de cano mais alto nas áreas que possam estar infestadas;
  • Se houver carrapato na pele, retire-o com cuidado, de preferência com uma pinça;
  • Não se esqueça de que os sintomas iniciais da febre maculosa são semelhantes aos de outras infecções e requerem assistência médica imediata.

A relação entre capivaras e a febre maculosa

Considerando que as capivaras, segundo Rodrigues, são as hospedeiras primárias dos carrapatos, certas medidas também devem ser tomadas onde há grande ocorrência desses animais. 

“Nas áreas onde a circulação humana é próxima aos grupos de capivaras, os gramados devem ser mantidos podados, a fim de não serem atrativos para as capivaras, reduzindo a circulação local dos animais contribuindo na redução da infestação local”, afirma o biólogo.  

Segundo o especialista, o desequilíbrio populacional de capivaras em determinadas áreas é apontado como sendo a principal causa de infestação excessiva de carrapatos, causando um grande impacto ecológico e grande risco à saúde pública. Entretanto, ele ressalta que o carrapato estrela é um parasita comum de diversos mamíferos na região Sudeste do Brasil, tais como a anta, gamba, equinos, cães domésticos, dentre outros. “O grande problema são os carrapatos, não as capivaras.” 

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