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Tudo o que você precisa saber sobre o chumbo e a sua relação com a saúde

Desde as populares garrafas reutilizáveis até o combustível de aviação, o chumbo é onipresente. Devemos nos preocupar?

Um raio X mostra lascas de tinta com chumbo engolidas por uma criança de dois anos. A exposição precoce ao chumbo pode causar problemas mentais e físicos de longo prazo e, em casos graves, pode ser fatal.

Foto de Peter Essick Nat Geo Image Collection
Por Ayurella Horn-Muller
Publicado 26 de fev. de 2024, 08:00 BRT

Invisíveis a olho nu, inodoro e quase impossíveis de serem detectados pelo paladar, os traços de chumbo estão presentes em diversos produtos que usamos no dia a dia, desde bebidas até nas casas em que vivemos. Ele aparece até mesmo em nossas garrafas de água reutilizáveis, como o chumbo encontrado no fundo dos copos Stanley – uma descoberta controversa que recentemente reacendeu a atenção das pessoas para um problema antigo.  

Embora fontes naturais, como erupções vulcânicas, tenham contribuído de certa forma para as concentrações de chumbo na superfície do planeta, o principal responsável pelo problema global de poluição por chumbo – que mata prematuramente cerca de 5,5 milhões de pessoas todos os anos – é a atividade humana.

"Os níveis naturais de poluição atmosférica por chumbo não existem de fato, a menos que você esteja embaixo de um vulcão. O chumbo que você respira é produzido pelo homem", afirma Alexander More, cientista do clima e da saúde da Universidade de Massachusetts e da Universidade de Harvard (ambas nos Estados Unidos), que liderou estudos sobre o assunto. 

Depois das operações de mineração e dos processos industriais, como fundições de chumboincineradores de resíduos, as fontes comuns de poluição por chumbo incluem aditivos para gasolina e tintas, bem como a produção de baterias e utilitários.  "Não sabemos como será uma sociedade sem chumbo em nosso solo, em nossa água e em nosso ar", diz More.

Em que produtos o chumbo é utilizado?

chumbo foi um dos primeiros metais que o ser humano extraiu de minérios há milhares de anos e, desde então, tem sido usado de várias maneiras. Moedas antigas, cosméticoscerâmicas balas de armas já foram feitos com esse metal maleável. Ele era usado até mesmo pelos antigos romanos para distribuir água, fermentar vinho e adoçar alimentos.

Os riscos perigosos à saúde associados à exposição ao chumbo podem ter sido identificados já no Império Romano e, ainda assim, o mundo continuou a depender do metal pesado para tudo, desde a busca da alquimia na Idade Média até os aditivos para gasolina no século 20. Nessa época, os Estados Unidos haviam se tornado o principal produtor e consumidor de chumbo refinado, depositando milhões de toneladas de chumbo no meio ambiente por meio do combustível usado para abastecer os veículos norte-americanos.

Foi somente no final do século 20, logo após o Congresso do país ter estabelecido a Lei do Ar Limpo, que os Estados Unidos começaram a limitar o uso de chumbo. Em 1973, a Agência de Proteção Ambiental implementou as primeiras regulamentações para reduzir gradualmente a quantidade de chumbo na gasolina, mas levaria quase meio século até que o combustível com chumbo para carros e caminhões fosse proibido de ser vendido em qualquer lugar do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. A remoção do chumbo da gasolina resultou em reduções significativas dos níveis de chumbo no sangue em todo o mundo.

Porém, o uso de gasolina com chumbo no combustível de transporte nunca foi regulamentado para motores de aeronaves, a maior fonte remanescente de emissões de chumbo nos Estados Unidos. Em outubro passado, a EPA considerou que o uso contínuo de gasolina com chumbo por alguns aviões menores era um perigo para a saúde pública. 

Diferentemente de muitos outros produtos químicos, o chumbo não se biodegrada com o tempo, o que explica em parte o fato de a exposição ao chumbo ser um problema sério de justiça ambiental, de acordo com Tomás Guilarte, neurotoxicologista e professor da Universidade Internacional da Flórida. 

As comunidades de baixa renda enfrentam os níveis mais altos de exposição ao chumbo em todo mundo, principalmente por causa dos ambientes e das casas em que vivem, muitas das quais estão localizadas perto de rodovias ou áreas em que o solo está contaminado devido à dispersão anterior de chumbo na gasolina, observa ele.

Como o chumbo afeta as crianças? 

"Não existe um nível seguro de chumbo", afirma Olivia Halabicky, cientista de saúde ambiental da Universidade de Michigan, que estuda como a exposição ao chumbo na primeira infância influencia o desenvolvimento. 

Além de pedir a um médico que teste seus níveis de chumbo no sangue, ela recomenda que todos testem suas fontes de água, casas e até mesmo o solo próximo. Produtos de consumo encontrados com chumbo, como alimentosjoiasbrinquedos infantis, são outro ponto de preocupação. "Não queremos que as pessoas sejam expostas a isso de forma alguma", acrescenta Halabicky.

As crianças, em particular, são mais vulneráveis aos impactos prejudiciais do chumbo devido à forma como a toxina afeta desproporcionalmente os cérebros que ainda estão em desenvolvimento, explica Guilarte, que pesquisa os impactos do chumbo no cérebro humano. 

Altos níveis de exposição ao chumbo podem causar sérios danos ao cérebro e ao sistema nervoso central de uma criança, o que pode resultar em coma, convulsões e morte. As crianças que sobrevivem a um envenenamento grave por chumbo podem acabar com deficiências intelectuaisdistúrbios comportamentais por toda a vida. Sabe-se que mesmo níveis baixos de exposição reduzem o QI e produzem déficits de aprendizagem, além de baixo desempenho acadêmico.  

"Pense em uma loja cheia de vidros finos. Você tem vasos e artigos de vidro muito caros", explica Guilarte. "E, de repente, você deixa um touro entrar pela porta. É exatamente isso que acontece no cérebro com o chumbo."

De que outra forma o chumbo prejudica o corpo?

O chumbo não prejudica apenas o cérebro – os pesquisadores também descobriram que altos níveis de exposição ao chumbo podem afetar muitos outros órgãos, como coração

E não são apenas as concentrações elevadas que podem ser prejudiciais. Um estudo de 2018 descobriu que cerca de 400 mil mortes nos Estados Unidos podem ser atribuídas à exposição ao chumbo de "baixo nível" anualmente – mais da metade por doença cardiovascular. A exposição crônica a níveis baixos ou moderados de chumbo está associada a um risco maior de doença cardiovascular, de acordo com uma declaração científica de 2023 da American Heart Association.

Enquanto isso, outro estudo de 2022 descobriu que mais de 170 milhões de adultos norte-americanos vivos hoje – mais da metade da população – foram expostos a altos níveis de chumbo na primeira infância. Cerca de 10 milhõespodem ter sido expostos a níveis sete vezes superiores ao limite atual de preocupação clínica. 

Para resolver um problema tão onipresente como esse, de acordo com Guilarte, seria necessário repensar a forma como os produtos são testados e como as pessoas são examinadas quanto à exposição.

"Há uma regulamentação nos Estados Unidos que determina que toda criança, antes dos dois anos de idade, deve ser testada [para chumbo]. E muitos, muitos estados não fazem isso", disse ele. "Há muito mais que precisa ser feito."

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