Veja fotos da ilha mais densamente povoada do mundo
Há duas horas de barco de Cartagena, na Colômbia, 45 famílias vivem em uma área equivalente a dois campos de futebol.
Quando o fotógrafo Charlie Cordero ouviu pela primeira vez sobre Santa Cruz Del Islote, uma pequena e densamente povoada ilha a duas horas de barco de Cartagena, na Colômbia, ficou fascinado.
Pessoas que encontram maneiras de viver em condições ambientais desfavoráveis sempre chamaram sua atenção, e Santa Cruz Del Islote se sobressaiu imediatamente. Na ilha, a água, a comida e a eletricidade são limitados, mas 45 famílias ainda vivem em 97 casas construídas nos 12 mil metros quadrados de área. Isso é mais que 8 vezes a densidade populacional da cidade de São Paulo.
"Sabíamos apenas que a ilha era pouco conhecida e distante, e que seus habitantes não tinham interesse em deixá-la". Ele conta que queria descobrir “como um número relativamente grande de pessoas viviam em um espaço tão pequeno e remoto”. Além disso, queria aprender sobre suas vidas, seus costumes e suas tradições. "Eu sabia que era um lugar que merecia ser [conhecido]", diz ele.
As primeiras imagens do projeto, publicado com uma entrevista na edição de agosto do New York Times, mostraram as pequenas habitações dos residentes da ilha. Cordero diz que a história sobre como a ilha ficou tão densamente povoada parece um conto de fadas.
"Há 150 anos, Santa Cruz del Islote era uma ilha pequena e desabitada com menos de um hectare de terra, perdida no meio do Mar do Caribe. Os pescadores que trabalham nesta área de Cartagena e Tolú usavam o local para descansar durante a pesca e se proteger de tempestades", diz ele.
A ilha está localizada em uma área com abundância de corais oceânicos perfeitos para a pesca, por isso atraiu pessoas. A cada casamento ou filho, as famílias construíam novas casas, uma ao lado da outra.
“Os primeiros colonos – avós e bisavós da atual geração – buscavam, na terra e no mar, materiais para construir suas casas. Conchas, cocos, troncos de árvores das ilhas vizinhas, areia, e até mesmo lixo foram usados para construir [na terra]", diz Cordero.
Mais e mais pessoas começaram a povoar a ilha, trazendo primos, irmãos e amigos. Elas vinham pescar e trabalhar.
"Um dia, a maré trouxe uma cruz de cimento. Os primeiros colonos a pegaram e a colocaram no centro da ilha. [Na época] a ilha não tinha nome, mas a partir desse dia passou a se chamar Santa Cruz del Islote”, diz ele.
Apesar do crescimento estável da população, a vida na ilha é difícil. Embora os frutos do mar sejam abundantes, todos os outros produtos alimentares e domésticos devem ser trazidos em barcos. Não há como produzir água potável na ilha. A marinha da Colômbia costumava levar água, mas há meses não aparecem – os ilhéus capturam água da chuva em barris para beber e tomar banho. A escola vai até o décimo ano, depois disso, alunos que queiram continuar os estudos devem buscar escolas fora da ilha, ou até mesmo deixar suas casas. Muitos meninos escolhem ficar com suas famílias e viver da pesca.
O objetivo de Cordero é terminar o projeto de fotografia até o final do ano. Ele diz que ainda há momentos-chave a serem capturados, como a forma como a ilha celebra o Natal e os aniversários, e como os moradores lidam com enterros.
Santa Cruz del Islote não tem espaço para um cemitério – as pessoas são enterradas em ilhas vizinhas. “Eu acho que a vida na ilha continuará me surpreendendo mais e mais. É um lugar que parece pertencer a um livro de Gabriel García Márquez", diz Cordero.