Antigo rei maia é encontrado em tumba de 1.700 anos

Entre os artefatos encontrados no local estão ossos pintados e uma ornamentada máscara funerária.

Por Sarah Gibbens
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:36 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O local, "Enterro 80", durante a escavação. No centro, um vaso de pedra branca é cercado ...
O local, "Enterro 80", durante a escavação. No centro, um vaso de pedra branca é cercado por ossos pintados de vermelho séculos depois do funeral.
Cortesía de Juan Carlos Pérez, Proyecto Arqueológico Waka’ And The Ministry Of Culture And Sports Of Guatemala

Enquanto arqueólogos finalizavam as escavações em El Perú Waka', pequeno vilarejo no norte da Guatemala, um cientista encontrou a ossada perdida de um antigo líder maia.

"Por acidente, ele chegou no pé da tumba e, de lá, viu os ossos do rei", disse o co-diretor de pesquisa David Finchel. Logo depois, a equipe de arqueólogos e antropólogos do Projeto Arqueológico El Perú Waka chamou o exército guatemalteco para proteger a área – procedimento padrão para prevenir roubos, de acordo com David. 

Os restos pertencem a um homem, enterrado "com a cabeça para o leste, envolto em tecido e colocado junto de vasos de oferendas", disse David. Tudo isso são sinais da importância da figura, o que levou a equipe a concluir que tratava-se de um membro da classe governante. 

Mas como os pesquisadores sabem que a tumba pertenceu a um rei? "Sem inscrições oficiais nos artefatos ou na parede do túmulo, podemos apenas especular", disse David. No entanto, várias pistas encontradas na tumba ajudaram os cientistas a formular, com confiança, hipóteses sobre o verdadeiro dono da tumba. 

A mais consistente é de que os ossos são do rei Te'Chan Ahk, cujo nome foi documentado mas pouco se sabe sobre sua vida. 

A ossada estava pintada em uma tonalidade avermelhada que pesquisadores acreditam ser resultado de um produto químico derivado do mercúrio, o cinábrio. Os ossos provavelmente foram coloridos em cerca de 600 d.C., séculos depois da morte do rei a da decomposição da sua carne. A morte não significava o fim da vida para líderes políticos e religiosos do Império Maia. Considerando que suas lamas continuavam ativas, os maias frequentemente entravam nas tumbas dos mortos para prestar homenagens.

O rei seria um dos primeiros membros do clã Waka, ou centopeia, dinastia que reinou do século 4 ao século 8. Datações iniciais feitas nos artefatos da tumba colocam o funreal entre 300 e 350 d.C. É uma das mais antigas tumbas reais já encontradas nessa parte da Guatemala. 

Um elaborado complexo foi construído em volta do túmulo nos anos que seguiram sua construção, David comentou. Chamado apenas de "Enterro 80" pelos pesquisadores, o sítio arqueológico tem sido um eixo para novas pistas sobre o passado maia da Guatemala. Em 2012, a mesma equipe fez uma de suas mais impressionantes descobertas ao escavar a tumba da rainha maia conhecida como "Senhora do Deus Serpente". Antes, em 2006, tinham encontrado, pela primeira vez, um governante Waka.

Identificação do rei 

Apesar de muitos ossos e artefatos de dentro da tumba estarem bem preservados, os lados da pequena sala tinha desmoronado. Um grande complexo de palácio foi construído ao redor do túmulo, e uma provável invasão por rivais maias vizinhos causou os danos estruturais. Pesquisadores tiveram que se espremer sobre as mãos e joelhos para adentrar o túmulo.

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Máscara de jade pintada de vermelho com cinábrio encontrada durante as escavações. No alto, um símbolo indica associação com o Rei do Milho.
Cortesía de Juan Carlos Pérez, Proyecto Arqueológico Waka’ And The Ministry Of Culture And Sports Of Guatemala

O objeto mais importante entre os achados foi uma máscara vermelha com o rosto do rei que contém ornamentos normalmente vistos em representações do Deus do Milho. David explicou que era comum reis serem mostrados como figuras religiosas, e pedras de jade coladas nos dentes provam que o indivíduo pertencia às classes superiores. 

No total, 22 artefatos foram recuperados – 20 dos quais eram vasos cerimoniais funerários, um tipo de cerâmica rasa com abas.

"Todos os vasos parecem ter sido feitos com rapidez, o que pode significar que a pessoa morreu de forma inesperada", disse Damien Marken, um dos pesquisadores envolvidos no projeto. Ele apontou que muitos deles não possuem a simetria e a habilidade artesanal típicas das cerâmicas maias. 

Damien disse que os vasos menores contiveram oferendas como tamales (um tipo de pamonha), chocolate e outras comidas que acompanhariam o indivíduo na vida após da morte. Para saber com certeza, David Freidel e sua equipe pretendem conduzir análises químicas dos resíduos deixados em algumas das cerâmicas. Ele concorda com Damien – alguns vasos podem ter contido comidas – mas lança outra hipótese – os resíduos podem ser de tóxicos, possivelmente nicotina ou trombeta, encontrados em outros vasos fúnebres. 

A equipe conduz pesquisas no Waka desde 2003, e os pesquisadores dizem que há muito por descobrir. Escavações na antiga cidade retornam na próxima primavera do hemisfério norte.

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