Dinossauros não teriam sido extintos se asteroide tivesse caído em outro lugar

Apenas 13% da superfície da Terra é constituída por rochas que poderiam ter causado um grande evento de extinção, argumenta um novo estudo.

Por Michelle Z. Donahue
Publicado 10 de nov. de 2017, 12:33 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Um meteoro gigante que atingiu a península de Yucatán há 66 milhões de anos é a principal explicação para o desaparecimento dos dinossauros.
Foto de Ilustração de Mark Garlick, Science Photo Library/Alamy

De todos os lugares do mundo em que um asteroide poderia ter acertado a Terra antiga, a Península de Yucatán foi possivelmente o pior.

Essa é a premissa de um novo estudo que examina o que aconteceu há 66 milhões, depois que um asteroide de 12 km de largura caiu no oceano perto do que é agora a cidade portuária de Chicxulub, no México. O impacto fez com que a era dos dinossauros tivesse um final abrupto e eliminou a grande maioria dos animais icônicos, junto com cerca de três quartos de toda a vida na Terra.

De acordo com a pesquisa, a extinção em massa ocorreu porque a rocha espacial bateu em uma ‘caixa de pólvora’ natural e oleosa, jogando uma quantidade de fuligem na atmosfera suficiente para causar um resfriamento global extremo.

O impacto congelou o planeta por uma média global de -7 a -10ºC, com uma queda de 18 a 29 graus no solo, o estudo declara.

Apenas 13% da superfície da Terra é composta de rochas que poderiam ter queimado tanta fuligem, a equipe argumentou nesta semana no periódico Scientific Reports. Isso significa que se o asteroide tivesse acertado qualquer outro lugar, os dinossauros não aviários poderiam não ter morrido.

"Este é um documento fascinante que argumenta que, mesmo considerando o grande tamanho do asteroide, a própria extinção em massa era de baixa probabilidade", diz Paul Chodas, gerente do Centro de Estudos de Objetos Próximo da Terra no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.

"Muitas vezes declaramos o quão infeliz esse impacto maciço foi para os dinossauros e quão sortudo foi para nós, sendo o ponto alto da família de mamíferos, mas agora temos uma medida do azar dos dinossauros e da nossa sorte!”

IGNIÇÃO DO ÓLEO

O autor principal, Kunio Kaiho, estima que o impacto de Chicxulub queimou rochas sedimentares ricas em petróleo suficientes para injetar cerca de 1,7 bilhão de toneladas de carbono preto com partículas finas na atmosfera – fuligem suficiente para encher um estádio de futebol coberto.

Embora uma chuva teria lavado rapidamente a maior parte da fuligem de baixa deriva do céu, cerca de 385 milhões de toneladas teriam permanecido circulando no alto da atmosfera, reduzindo a luz solar.

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    Kaiho fez suas estimativas com base em um mapa reconstruído de áreas que poderiam ter sido ricas em rochas sedimentares contendo hidrocarbonetos no final do período Cretáceo. Geralmente costeiras, essas áreas se alinham mais ou menos com regiões modernas de petróleo e gás.

    Kaiho observou anteriormente a fuligem pós-impacto nas camadas de rocha em todo o mundo. Ele descobriu que a fuligem das amostras colhidas no Haiti, relativamente próximo da cratera de Chicxulub, lembra a fuligem em amostras da Espanha, a milhares de quilômetros de distância.

    "As [semelhanças] indicam uma única fonte de fuligem, o que sugere que foi proveniente das rochas atingidas pelo impacto do asteroide de Chicxulub", diz Kaiho. "A quantidade de hidrocarboneto em rochas sedimentares no local de impacto pode ter determinado  os níveis de resfriamento em terra e no oceano".

    A teoria prevalecente do porque a fuligem aparece em muitos lugares no registro fóssil dessa época, embora não em todos, são incêndios generalizados causados por rochas superaquecidas que caem de volta na Terra depois do primeiro impacto.

    Kaiho diz que seu trabalho recente refuta essa ideia e que apenas os incêndios terrestres não poderiam ter gerado fuligem o suficiente para criar um resfriamento global. Ele acrescenta que a fuligem gerada por asteroides não teria sido distribuída de maneira uniforme, o que se encaixa com dados que sugerem que o Hemisfério Norte experimentou um resfriamento mais severo, enquanto a metade sul do planeta se recuperou mais rapidamente.

    ENXOFRE, NÃO FULIGEM?

    Mas há um problema com a nova pesquisa de Kaiho: uma perfuração recente em rochas da cratera de Chixculub não encontrou muitos hidrocarbonetos.

    Para Sean Gulick, geólogo da Universidade do Texas em Austin, é mais provável que o resfriamento imediato ocorreu devido a enxofre vaporizado. O cientistas fez parte de expedições que perfuraram rochas nas porções subaquáticas da cratera de Chicxulub.

    Em um estudo separado publicado na semana passada, a co-líder da expedição, Joanna Morgan, descobriu que o impacto provavelmente lançou cerca de 325 gigatons de enxofre, mais que o suficiente para resfriar temporariamente o planeta em uma estimativa conservadora.

    Gulick observa que a fuligem do Haiti, a 650 quilômetros de distância de Chicxulub, ainda poderia ter sido depositada por incêndios terrestres, e a próxima análise dos núcleos de Chicxulub ajudará a contar essa história com mais clareza.

    No entanto, ele aceita a premissa básica de Kaiho: o asteroide atingiu um ponto extremamente infeliz. Outros grandes asteroides atingiram a Terra no passado, deixando suas marcas na Baía de Chesapeake e no oeste da Baviera na Alemanha, por exemplo. Mas os registro fósseis não apontam que eles tenham causado extinções em massa, provavelmente porque os locais de impacto não tinham a combinação certa de rochas voláteis.

    "São raras as regiões do planeta que você pode soltar um asteroide de 12 km de diâmetro e obter o mesmo nível de mudança atmosférica", diz Gulick.

    E se o culpado foi o enxofre ou a fuligem, o trabalho de Kaiho ainda pode ser útil para testar modelos climáticos que simulam mudanças na Terra antiga.

    "Nós podemos colocar esses fatores únicos em simulações –  o que acontece se houver uma enorme liberação de enxofre, ou fuligem ou dióxido de carbono – e testar essas questões sobre a química da nossa atmosfera", diz Gulick.

    "A capacidade de fazer isso é muito importância para testar os efeitos das mudanças climáticas nos dias de hoje".

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