Estes antigos pescadores de tubarão eram enterrados com pernas a mais

Braços extras também acompanhavam os mortos da cultura virú, que prosperou na região noroeste do Peru entre 100 a.C. e 750 d.C.

Por Kristin Romey
Publicado 17 de abr. de 2018, 12:47 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Esta cantiga cova surpreendeu arqueólogos: duas pernas esquerdas adicionais foram enterradas ao lado do corpo.
Foto de Gabriel Prieto

Dezenas de cemitérios muito antigos foram descobertos na costa norte do Peru, muitos dos quais parecem conter valiosos objetos de metal, vasos de cerâmica extravagantes e, em alguns casos, membros humanos adicionais.

De acordo com Victor Campaña, atual diretor do Projeto de Resgate de Las Lomas, mais de 50 cemitérios pertencentes à cultura de Virú foram descobertos na cidade de Huanchaco, 11 km ao norte da capital regional de Trujillo.

Os cemitérios foram descobertos durante as recentes escavações de salvamento executadas antes da obra de infraestrutura de água e esgoto na pequena cidade litorânea.

A pouco conhecida cultura de Virú, batizada em homenagem ao Vale do Virú, que vai da Cordilheira dos Andes até o Pacífico, prosperou na região entre o ano 100 e 750, antes dos moches assumirem o controle da região. As escavações de Campaña revelaram um pequeno assentamento costeiro junto aos cemitérios.

"É uma pequena vila de pescadores complexa", diz ele.

Há uma complexidade particular em muitos dos cemitérios, acrescenta Campaña, observando que cerca de 30 dos 54 adultos enterrados parecem incluir, em sua maioria, não apenas esqueletos completos, mas também partes adicionais do corpo. A maioria dos membros adicionais parecem ser braços e pernas. Em um dos casos, um adulto foi enterrado intacto, junto com duas pernas esquerdas adicionais enterradas ao lado do corpo.

Um macaco se agarra ao cabo de um pote de Virú, colocado em um dos cemitérios.
Foto de Gabriel Prieto

Embora mais análises científicas sejam necessárias para determinar a idade e o sexo, um estudo preliminar indica que muitos conjuntos de restos mostram evidências de trauma, incluindo marcas de corte e lesão por força contundente. Os indivíduos que sofreram traumas estavam mais propensos a serem enterrados com membros adicionais, diz Campaña.

Enterros moche posteriores frequentemente apresentam indivíduos enterrados com membros ausentes, ou junto com vítimas sacrificiais completas, observa Gabriel Prieto, diretor científico do atual projeto de resgate em Huanchaco. No entanto, a prática de enterrar os mortos com partes extras do corpo é "muito exclusiva de Virú", diz ele.

Uma prática semelhante foi descoberta no início dos anos 2000 em um conjunto muito menor de cemitérios de Virú escavados em El Castillo Santa, ao sul de Trujillo, acrescenta Prieto.

Neste momento, os arqueólogos só podem especular sobre a motivação por trás dos inusitados enterros de Virú. Uma sugestão é que os membros extras podem ter servido como uma oferta de sacrifício para acompanhar os mortos até a vida após a morte. Trabalho de laboratório adicional determinará se houve algum tipo de relação entre os indivíduos enterrados e os proprietários das partes adicionais do corpo.

Um legado de pescadores

Os sepultamentos de Virú também apresentam uma variedade de itens de sepultura, incluindo vasos de cerâmica decorados com rostos humanos e detalhes de animais extravagantes, joias e placas de cobre dobradas e inseridas nas bocas ou nas mãos do falecido. Entre as descobertas mais interessantes de Campaña, até agora, há um anzol de cobre muito grande (4 cm de comprimento) envolto em uma folha de ouro.

O tamanho do anzol é apropriado para capturar grandes peixes e tubarões, uma prática com uma tradição muito duradoura na região costeira do norte do Peru.

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    Este grande anzol de cobre, com uma faixa de ouro enrolada no centro da haste, é uma prova do legado da pesca na região.
    Foto de Gabriel Prieto

    Em 2010, Prieto descobriu um templo de 3,5 mil anos usado por caçadores de tubarões na área de Huanchaco. A evidência de Caballitos de Totora, barcos de junco ainda usados pelos pescadores de Huanchaco até hoje, remonta a pelo menos quatro milênios.

    José Ruiz Vega, prefeito do distrito de Huanchaco, diz que tem orgulho de liderar uma das últimas cidades do Peru com uma antiga tradição de pesca, que continua ininterrupta por milhares de anos até os tempos modernos.

    Ele também considera a interrupção frequente de seus projetos de infra-estrutura como um avanço, e espera criar um centro que irá destacar as descobertas arqueológicas.

    "Um museu para Huanchaco [não irá apenas] representar uma oportunidade econômica para os moradores atraírem mais turistas", diz o prefeito Ruiz, "mas também uma instituição importante para educar nosso povo e mostrar-lhes os incríveis tesouros enterrados, literalmente, sob suas casas."

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