Dinossauro bizarro de 12 toneladas andava agachado como um gato

Parecido com o famoso brontossauro, esta nova espécie pesava tanto quanto dois elefantes africanos e viveu cerca de 200 milhões de anos atrás.

Por Michael Greshko
Publicado 9 de out. de 2018, 10:41 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma ilustração mostra o Ledumahadi mafube se alimentando no início do período Jurássico na África do ...
Uma ilustração mostra o Ledumahadi mafube se alimentando no início do período Jurássico na África do Sul. Em primeiro plano, vê-se outro dinossauro sul-africano chamado Heterodontossauro.
Foto de Illustration by Viktor Radermacher, University of the Witwatersrand

Há aproximadamente 200 milhões de anos no que é hoje a África do Sul, um dinossauro que pesava tanto quanto dois elefantes africanos adultos vagava pela região. Esse herbívoro gigantesco chegou a esse tamanho de uma forma peculiar, e tinha uma maneira realmente bizarra de ficar de pé sobre as quatro patas.

O novo dinossauro, revelado no periódico Current Biology, se parece com um saurópode, o grupo dos clássicos dinossauros de pescoços alongados que inclui o Brontossauro, mas tecnicamente não é um deles. Na verdade, o Ledumahadi é um primo mais antigo e mais distante chamado sauropodomorfo. Este era um animal muito maior, vivendo em um momento anterior ao da era dos dinossauros do que pesquisadores costumam observar. Assim, seus descobridores estamparam sua surpresa no nome do dinossauro: Ledumahadi mafube, que em sesoto (idioma falado na África do Sul e no Lesoto) quer dizer “uma enorme trovoada [ao] entardecer”.

Como os elefantes, os verdadeiros saurópodes contavam com membros colunares que suportavam com eficiência o peso do animal. Mas o Ledumahadi adotou uma abordagem claramente diferente. Ele parece ter trajado membros dianteiros mais ágeis, mas sua postura era menos eficiente, como o agachar de um gato, com os joelhos e cotovelos parcialmente flexionados.

“Este era o animal que queria ter tudo”, disse o autor principal do estudo Blair McPhee, paleontólogo da Universidade de São Paulo. “Ele queria ser enorme, como um saurópode, e queria andar predominantemente como um quadrúpede, como o saurópode.

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Mas, quando chegou a hora de abdicar de seus membros posteriores primitivos e ágeis, ele não quis fazer isso”.

A descoberta sugere que o andar sobre quatro patas evoluiu diversas vezes entre os saurópodes e seus parentes. E, assim como outras descobertas recentes, o Ledumahadi reforça a noção que eventos chave na evolução dos saurópodes ocorreram anteriormente e com mais experimentação do que as evidências antes demonstravam.

“Estou animado com essas novas descobertas. Elas estão realmente ajudando a diversificar nosso entendimento destas criaturas extraordinárias”, disse a paleontóloga da Macalester College, Kristi Curry Rogers, por e-mail.

Trovoadas súbitas?

Apesar do Ledumahadi ter sido batizado em homenagem a uma trovoada, sua descoberta não foi assim tão repentina. Os cientistas levaram mais de duas décadas, inconstantemente, para encontrar e compreender os vestígios da criatura.

A história do Ledumahadi começa por volta de 1990, com a construção do Lesotho Highlands Water Project, um enorme projeto hídrico de infraestrutura que liga a África do Sul ao Lesoto. Sabendo que a construção poderia revelar fósseis, os empreiteiros contrataram James Kitching, paleontólogo da Universidade de Witswatersrand (ou Wits) para coletar quaisquer ossos que pudessem aparecer.

Sem demora, Kitching avistou grandes ossos de dinossauro emergindo de uma escarpa próxima ao local da obra. Ele os coletou, mas não estava tão interessado nos dinossauros, preferindo estudar mamíferos antigos. Assim, os ossos permaneceram incógnitos até meados da década de 2000, quando o então paleontólogo da Wits Adam Yates percebeu sua importância.

A partir de recortes de jornais, Yates localizou a área original da escavação e partiu com seu estudante de doutorado, McPhee, para encontrar mais ossos. Um estudo posterior confirmou que os ossos encontrados pela dupla pertenciam ao mesmo animal. Em 2012, o paleontólogo Jonah Choiniere chegou a Wits, e McPhee o apresentou aos enormes ossos do dinossauro. De 2012 a 2017, a dupla retornou ao local da descoberta, escavando ainda mais ossos do dinossauro de Kitching.

“[Encontrar o Ledumahadi] foi algo que ocorreu ao longo desses anos, com acontecimentos fortuitos e a transferência de conhecimento”, disse Choiniere. “A qualquer momento, poderíamos ter deixado a bola cair. Por sorte, isso não aconteceu”.

O caminhar do dinossauro

Os pesquisadores então reconstruíram metodicamente a vida do Ledumahadi, osso por osso. A coautora Jennifer Botha-Brink, paleobióloga do Museu Nacional da África do Sul, em Bloemfontein, constatou que o animal de 14 anos havia alcançado a vida adulta quando morreu. A geóloga da Universidade da Cidade do Cabo Emese Bordy confirmou que os ossos tinham entre 195 e 200 milhões de anos, baseando-se nos sedimentos que os revestiam.

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    Esta figura mostra alguns dos elementos preservados do recém descoberto dinossauro, o Ledumahadi mafube.
    Foto de Illustration by McPhee et al./ Current Biology

    Para compreender como o Ledumahadi andava, os pesquisadores descobriram uma maneira de saber se um animal caminhava sobre duas ou quatro patas. Em animais que caminham apenas com seus membros posteriores, os ossos de seus membros anteriores são relativamente mais finos e delgados. Já os animais que andam em quatro patas apresentam ossos dos membros anteriores mais encorpados, necessários para suportar o peso do animal.

    A equipe comparou os ossos dos braços e pernas do  Ledumahadi aos de outros dinossauros, além de centenas de mamíferos ainda vivos com estilos de caminhar conhecidos. Os membros dianteiros do Ledumahadi eram tão robustos que é quase certo dizer que o animal andava sobre quatro patas. Mas os membros também sugerem que o dinossauro apresentava uma postura atípica, como a de um gato.

    Agora que a equipe descreveu o Ledumahadi, pesquisadores dizem estar em busca de fósseis ainda mais antigos em outras regiões da África do Sul. A equipe também pretende voltar às prateleiras da Wits em busca de mais joias escondidas.

    “É incrível”, disse Choiniere. “Às vezes, as coisas podem ficar paradas na prateleira, e você passa por elas todos os dias, mas não presta a devida atenção”.

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