Novos fósseis oferecem raro vislumbre da vida após um apocalipse global

Descoberta de ossos demonstra que mamíferos passaram por um crescimento notável logo após o impacto que exterminou os dinossauros.

Por Tim Vernimmen
Publicado 4 de nov. de 2019, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma rocha partida conhecida como concreção revela o corte transversal de um crânio de um vertebrado ...
Uma rocha partida conhecida como concreção revela o corte transversal de um crânio de um vertebrado que sobreviveu à extinção em massa há 66 milhões de anos, visto aqui nas mãos do paleontólogo Tyler Lyson.
Foto de HHMI Tangled Bank Studios

Quando passaram a prestar atenção a essas rochas, Lyson e seu coautor Ian Miller, paleobotânico do museu de Denver, logo tiveram êxito em um local chamado Corral Bluffs, um afloramento na Bacia de Denver, a leste de Colorado Springs, onde não haviam encontrado nada anteriormente.

“Quebrei uma concreção e vi um crânio de mamífero sorrindo para mim”, lembra Lyson. “Então olhei ao redor e vi concreções espalhadas pela paisagem. Encontramos quatro ou cinco crânios de mamíferos em poucos minutos”.

De volta ao laboratório, ficou nítido o grande aumento no tamanho dos mamíferos nos primeiros milhões de anos após a extinção em massa.

Os maiores mamíferos que escaparam da extinção global pesavam menos de meio quilograma. Contudo, meros 100 mil anos depois, as maiores espécies entre seus descendentes possuíam cerca de seis quilogramas, eram tão pesadas quanto um guaxinim moderno. E mais 200 mil anos depois, “os maiores mamíferos haviam triplicado em peso, para cerca de 20 quilogramas”, afirma Lyson. É quase o peso de um castor-americano e muito mais pesado do que qualquer mamífero anterior à extinção.

Esse padrão faz certo sentido, uma vez que esses mamíferos não precisariam mais competir com dinossauros famintos — nem se esconder deles. Mas os fósseis vegetais também de Corral Bluffs revelam uma história de abundância muito maior.

Nozes e feijões

Durante a extinção em massa, metade de todas as espécies da flora foi dizimada. Os pequenos mamíferos que também sobreviveram eram provavelmente onívoros com um apetite voraz por insetos, pois as diversas samambaias que estavam entre as primeiras plantas a ressurgir não eram tão nutritivas.

As palmeiras reapareceram em seguida, mas foi provavelmente a diversificação das árvores da família das nozes que permitiu que os mamíferos superassem o tamanho de seus ancestrais; o aumento no peso corporal dos mamíferos, ocorrido nos 300 mil seguintes ao cataclismo, coincide com o aparecimento do fóssil de pólen desse grupo.

O maior mamífero desse período encontrado na Bacia de Denver foi o Carsioptychusum parente longínquo dos atuais mamíferos ungulados ou com cascos.

“Seus pré-molares eram bastante grandes e lisos, com muitas dobras incomuns; portanto, sempre houve especulação de que possam ter se alimentado de objetos duros, como as nozes produzidas por essa família”, afirma Lyson.

Cerca de 400 mil anos depois, outro grande crescimento deu origem a mamíferos ainda maiores, com peso aproximado de 45 quilogramas, quase tanto quanto um antílope-americano. Sua chegada coincide com o aparecimento de fósseis dos primeiros representantes da família do feijão, como folhas e vagens carregadas de sementes ricas em proteínas procuradas por muitos herbívoros.

“Foi uma surpresa como tudo se encaixou”, afirma Lyson.

Estes fósseis de crânios e mandíbulas de mamíferos estão entre os tesouros paleontológicos encontrados no sítio de Corral Bluffs, no Colorado.
Foto de HHMI Tangled Bank Studios

Uma análise dos fósseis de folhas encontrados em Corral Bluffs também sugere que houve três períodos de aquecimento expressivo nos milhares de anos seguintes à extinção em massa. Ao menos dois deles parecem estar associados a essas mudanças notáveis na vegetação que podem ter precedido as mudanças mais significativas na dimensão corporal dos mamíferos.

“A noção de que os mamíferos expandiram o tamanho corporal cerca de 300 mil anos após a extinção em massa não é nova”, afirma Jaelyn Eberle, paleontóloga do Museu de História Natural da Universidade do Colorado em Boulder, que não participou do estudo. “Mas uma das questões importantes era a razão do aumento, e a correlação revelada por esse estudo entre tamanho corporal, diversidade da flora e aquecimento nos aproxima do entendimento disso”.

“A principal lição é que não podemos entender extinções ou ressurgimentos observando um único componente do sistema da Terra”, acrescenta Courtney Sprain, geocronóloga da Universidade da Flórida.

Esperança de encontrar pássaros

David Archibald, paleontólogo da Universidade Estadual de San Diego, considera as descobertas realmente extraordinárias e acredita que as conclusões dos autores estejam corretas. Porém alerta que “por mais notáveis que sejam, esses resultados são provenientes de uma região geográfica limitada. Podemos ficar tentados a expandir os resultados para o mundo todo, mas seria prematuro”.

O maior interesse pelas concreções em sítios de fósseis ao redor do mundo pode ajudar a confirmar a hipótese, conta Lyson.

“Levei ao local um colega mais experiente que já encontrou uma tonelada de fósseis incríveis e ele disse: isso me faz querer retornar a todos os locais em que realizei meus estudos de campo anteriores e procurar direito”, lembra ele. “Acredito que se prestarem mais atenção às concreções agora, faremos mais descobertas em outros pontos.”

Enquanto isso, ele e seus colaboradores estarão ocupados pelos próximos anos descrevendo algumas das novas espécies identificadas — incluindo dois mamíferos — e em busca de fósseis nas centenas de concreções ainda não abertas.

“Adoraria encontrar aves, pois esse também foi um período importante para elas”, afirma Lyson. “É possível que até existam algumas em meu escritório.”

Esta samambaia é um dos seis mil fósseis de folhas encontrados em Corral Bluffs que estão ajudando os cientistas a entenderem melhor como ressurgiu a vida na Terra após o evento de extinção em massa que aniquilou os dinossauros não aviários.
Foto de HHMI Tangled Bank Studios

As CENTENAS DE FÓSSEIS encontradas no Colorado, Estados Unidos, são um retrato do ressurgimento da vida após a extinção em massa que marcou o fim da era dos dinossauros, segundo publicação de paleontólogos. A descoberta abrange restos mortais excepcionalmente preservados de ao menos 16 espécies de mamíferos, além de diversas tartarugas, crocodilos e plantas que viveram nos primeiros milhões de anos após a devastação global.

O súbito desaparecimento de uma grande quantidade de espécies de fósseis mostra que a vida na Terra sofreu um grande golpe após a colisão de um grande asteroide com a Terra há 66 milhões de anos. Aproximadamente três quartos de todas as espécies foram extintas como consequência, inclusive quase todos os dinossauros que dominavam o planeta.

Para frustração de muitos paleontólogos, no entanto, a vida no período imediatamente seguinte ao fenômeno de extinção tinha sido muito pouco documentada com registros fósseis — até agora.

Descrito no periódico Sciencea nova grande descoberta de fósseis já revela alguns detalhes importantes sobre a recuperação da vida, como novas informações sobre o acentuado crescimento de mamíferos ocorrido nos primeiros 300 mil anos após a catástrofe.

Crânio em uma rocha

O segredo para encontrar esse tesouro estava na forma de se procurar fósseis, que o coautor Tyler Lyson, paleontólogo do Museu de Natureza e Ciência de Denver, aprendeu com um colega sul-africano. Nas planícies expostas ao vento no oeste da América do Norte, os caçadores de fósseis costumam encontrar ossos em erosão no chão. Mas os paleontólogos também podem procurar concreções, que são rochas formadas ao redor de núcleos de antigos ossos.

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