Barco viking enterrado com ossos na Noruega pode trazer pistas sobre membros da realeza

Encontrada em propriedade rural na Noruega, antiga embarcação que transportava trenós, tapeçarias e tecidos continha ossos de duas mulheres não identificadas.

Por Verónica Walker
Publicado 7 de jan. de 2020, 07:15 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O barco de Oseberg está em exibição no Museu dos Barcos Vikings em Oslo. Construída em carvalho por volta de 820 d.C., a embarcação é especialmente notável por sua carranca espiralada, esculpida no formato de uma cabeça de serpente. Não há sinais de que a embarcação já tenha estado no mar, por isso acredita-se que seu único uso seja fúnebre.
Foto de University of Oslo

NO FIM DO SÉCULO 19, Johannes Hansen, um jovem agricultor norueguês, chegou aos Estados Unidos, onde — como muitos escandinavos da época — tinha grandes esperanças de começar vida nova. No entanto, um encontro com uma cartomante mudou seus planos. Ela lhe disse que não precisava enfrentar dificuldades nos EUA para enriquecer porque havia um grande tesouro escondido em sua propriedade, em sua terra natal.

É possível que o fatídico encontro, descrito em uma compilação feita em 1930 sobre a história local de Oseberg, no sul da Noruega, não passe de uma lorota, mas revela as intrigas e lendas que cercam uma das descobertas mais emocionantes da Era Viking.

Hansen voltou para Oseberg. Começou a escavar um curioso monte em sua terra, mas não encontrou nada. Desistiu de escavar, especulando que o monte era apenas o local de enterro das vítimas da Peste Negra na epidemia de 1349.

Hansen e seus vizinhos tinham bons motivos para suspeitar que poderia haver importantes sítios arqueológicos na região. Em 1879, dois adolescentes de Gokstad, cidade localizada em Vestfold, a mesma região de Oseberg, descobriram o local de sepultura de um príncipe viking do século 9. O monte misterioso também trouxe uma descoberta fantástica: um barco viking inteiro de madeira envolto na terra.

Uma cabeça esculpida na carroça funerária encontrada em Oseberg.
Foto de Ove Holst, University of Oslo

Barco enterrado

Em 1903, Knut Rom, um dos vizinhos de Hansen, comprou a propriedade de Oseberg. Rom continuou as buscas na propriedade e logo encontrou algo: um fragmento de madeira medindo apenas 20 centímetros. Foi uma pequena descoberta que prenunciou algo muito maior.

A quase 100 quilômetros de distância, na capital norueguesa, Oslo, Rom procurou o professor Gabriel Gustafson, do Museu Universitário de Antiguidades Nacionais. A princípio, o veterano arqueólogo dispensaria de cara o agricultor — mas assim que Rom lhe mostrou o fragmento de madeira, Gustafson ficou maravilhado com o rico e intrincado entalhe. Não lhe restou dúvida sobre a origem viking do fragmento.

No dia seguinte, o professor foi a Oseberg e iniciou a exploração do monte para avaliar o local. Em 10 de agosto de 1903, ele informou à imprensa norueguesa que havia sido encontrado um novo e importante barco funerário viking. Apesar das previsões da cartomante, Knut Rom, e não Hansen, acabou sendo o beneficiário da caça ao tesouro: Rom recebeu 12 mil coroas norueguesas (cerca de US$ 1,4 mil) pela terra — uma quantia considerável na época.

PRIMEIRAS IMAGENS DAS ESCAVAÇÕES O professor Gustafson e sua equipe escavaram cuidadosamente o barco e o retiraram do monte funerário em Oseberg em 1904.
Foto de Image Collection

Começam as escavações

As escavações tiveram início na primavera seguinte. O monte funerário, com cerca de 40 metros de largura e quase 6 metros de altura, era formado por argila azul e pedras cobertas de relva dos pântanos locais. Essa camada de proteção propiciou as condições ideais para preservar a madeira, o que explica por que o barco de Oseberg estava em melhores condições do que a embarcação encontrada em Gokstad. O peso da terra, no entanto, despedaçou a estrutura e seu conteúdo. Especialistas levaram anos para remontar todas as partes.

Após a escavação, o barco media cerca de 21 metros de comprimento e quase 5 metros de largura. Sua proa havia sido direcionada para o mar. A câmara funerária em si ficava na popa, construída em madeira datada de 834 d.C. Gustafson percebeu que a tumba havia sido saqueada, provavelmente logo após o enterro. Os ladrões entraram pela proa, arrombaram a tumba e roubaram o que se acredita terem sido os bens mais valiosos do túmulo, espalhando os ossos no processo.

Ossos da realeza?

Estudos mais recentes indicam que esses ossos pertenciam a duas mulheres: uma com aproximadamente 70 anos e outra muito mais nova, com cerca de 50 anos. Imediatamente surgiram especulações sobre a identidade delas: alguns acreditam que uma das mulheres poderia ser a rainha Åsa, avó de Harald I (860-940 d.C.), o primeiro rei de uma Noruega unida. Outros acreditam que uma das mulheres tenha sido uma suma sacerdotisa. Quem quer que fossem, seus trajes ricos indicavam que ocupavam posições proeminentes na sociedade viking.

Alertado sobre a presença de restos mortais vikings em Oseberg no verão de 1903, o professor Gustafson (no centro) viajou de Oslo até o local, onde uma escavação preliminar deu indícios de uma descoberta importante. O mau tempo obrigou Gustafson e sua equipe a aguardarem até maio seguinte para retomarem os trabalhos.
Foto de Peter Barritt, Alamy, ACI

Alguns estudiosos acreditam que uma delas — não se sabe qual — provavelmente foi sacrificada para acompanhar a outra de maior hierarquia em sua longa jornada na vida após a morte.

Além do próprio barco, os artefatos dos túmulos deixados intactos incluíam objetos de uso cotidiano: camas, tapeçarias, roupas, pentes, ferramentas agrícolas e tendas. Havia também uma carroça, juntamente com os restos de 15 cavalos, 6 cães e 2 vacas. A tumba foi equipada com tudo o que um falecido poderia precisar ao embarcar em seu barco ricamente entalhado para sua última e misteriosa jornada ao mundo dos mortos.

A sexta temporada da série Vikings é exibida exclusivamente no FOX Premium às quintas. O FOX Premium faz parte da Walt Disney Company, sócia majoritária da National Geographic Partners.
 
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