Quem foram os maias? Conheça os segredos desta antiga civilização

A sociedade construtora de pirâmides reinou por grandes extensões da América Central até entrar em colapso. Hoje, seus descendentes mantêm vivas muitas tradições, demonstrando resiliência.

Por Erin Blakemore
Publicado 13 de set. de 2022, 11:25 BRT
Escultura de cabeça de guerreiro maia encontrada no Templo das Inscrições, em Palenque, México

Escultura de cabeça de guerreiro maia encontrada no Templo das Inscrições, em Palenque, México. Uma das maiores e mais bem preservadas pirâmides maias, o templo era um mausoléu de K’inich Janab Pakal, governante maia do século 7.

Foto de De Agostini via Getty Images

As evidências de uma civilização há muito esquecida estavam por todo lugar: sob um convento espanhol, embaixo de uma rua, a maior parte estava coberta por trepadeiras e vegetação, retomada pela natureza. Contudo, quando uma dupla de exploradores anglo-americanos vasculhou a Península de Yucatán nas décadas de 1830 e 1840, logo se convenceram de que os misteriosos locais eram grandes tesouros arqueológicos.

Descartados e abandonados, a função desses sítios arqueológicos e artefatos – templos, pirâmides, resquícios de arte e até mesmo inscrições – era praticamente desconhecida. No entanto, escreveu John Lloyd Stephens em 1841, todos pareciam ser obra do mesmo grupo de pessoas.

“Quem eram essas raças, de onde vieram ou quem eram seus progenitores, não me atrevi a presumir, nem tampouco sabia”, admitiu.

As ruínas em questão eram os remanescentes dos maias, uma imponente civilização mesoamericana, que outrora ocupou grande parte da América Central, do norte de Belize até a Guatemala e o sul do México. Atualmente, há muito mais conhecimento sobre alguns dos maiores feitos deste povo: os maias foram os primeiros agricultores da região, domesticaram animais silvestres, construíram suas primeiras cidades e desenvolveram ou aperfeiçoaram quase todos os aspectos da civilização moderna 

Embora seus descendentes tenham preservado parte dos preceitos e tradições de sua cultura, muito sobre os maias permanece tão misterioso hoje quanto há séculos, quando seus segredos ainda passavam despercebidos diante de todos.

Origem dos maias

Apesar de permanecer desconhecida a origem da cultura maia, acredita-se que eles surgiram entre 7.000 a.C. e 2.000 a.C., quando caçadores-coletores abandonaram hábitos nômades e estabeleceram assentamentos mais permanentes. Análises recentes sugerem que esses primeiros colonos eram provenientes da América do Sul e provavelmente passaram a cultivar seu alimento básico, o milho, em 4000 a.C. A cultura do milho mudou drasticamente a trajetória dos maias, literalmente alimentando o florescimento de sua sociedade e cultura.

Reprodução de um dos murais complexos e coloridos que recobrem as paredes do Templo dos Murais ...

Reprodução de um dos murais complexos e coloridos que recobrem as paredes do Templo dos Murais em Bonampak, sítio arqueológico maia em Chiapas, no México. Nas três câmaras da construção, afrescos contam histórias de guerra e celebração do antigo império.

Foto de Henri Stierlin Bildarchiv Steffens, Bridgeman Images

Esses recém-chegados não plantaram milho apenas: também aprenderam a prepará-lo para consumo humano por meio da nixtamalização, processo em que o milho seco é embebido e depois cozido em uma solução alcalina que o amolece, melhorando sua digestibilidade. Os maias ainda plantavam outras culturas agrícolas importantes, como abóbora, mandioca e feijão.

Existem indícios de que os maias se desenvolveram paralelamente e trocaram ideias com a civilização olmeca, vizinha e considerada por alguns uma das sociedades mais influentes dos tempos antigos. Pesquisadores acreditam que tenha sido na época em que os maias adotaram os complexos rituais pelos quais ficaram célebres. 

Assim como os olmecas, os maias logo se concentraram em construir cidades em torno de suas áreas ritualísticas. Esses avanços na agricultura e na urbanização atualmente são conhecidos como o período Pré-clássico dos maias, entre 1500 e 200 a.C. 

À medida que os maias desenvolveram ainda mais sua sociedade, lançaram os alicerces de redes comerciais complexas, irrigação avançada, técnicas agrícolas e de purificação da água, campanhas de guerra, esportes, escrita e um calendário complexo. O intrincado calendário incluía três sistemas de datação – um para deuses, outro para a vida civil e um terceiro calendário astronômico conhecido como calendário de Contagem Longa. 

O ponto de partida desse terceiro calendário foi definido como a data lendária de criação da humanidade, correspondente a 11 de agosto de 3114 a.C. O calendário de Contagem Longa iniciou um novo ciclo em 21 de dezembro de 2012, levando a um mito de que o mundo acabaria nessa data (a despeito das lendas urbanas e das duradouras interpretações equivocadas sobre a tradição maia, a mudança no ciclo do calendário não ocasionou o dia do juízo final).

Auge da sociedade maia

Durante o período clássico (entre 200 e 900 d.C.), a civilização maia atingiu seu auge. O mesmo sucedeu com sua arquitetura: os maias refinaram seus templos em formato de pirâmide e grandes construções semelhantes a palácios, apesar de não se saber ao certo se de fato eram utilizados como residências da elite ou se serviam a alguma outra função.

Entre as cidades maias mais importantes estavam Palenque, Chichén Itzá, Tikal, Copán e Calakmul. Contudo, embora os maias compartilhassem uma sociedade, não constituíam um império. Cidades-estados e governantes locais alternavam entre a coexistência pacífica e a luta pelo controle. Alguns locais, como o povoado de Joya de Cerén, parecem ter sido comandados por um governo coletivo em vez de um soberano da elite.

A arquitetura e a arte maia refletiam crenças religiosas arraigadas. Os maias acreditavam em K’uh k’uhul – a noção de que a divindade pode ser encontrada em tudo, até mesmo em objetos inanimados. Sempre presente, o milho era vital para essas crenças: entre os deuses maias mais importantes estava Hun Hunahpu, o deus do milho, e, segundo a tradição maia, as divindades criaram a humanidade primeiro a partir da lama, depois da madeira e, por fim, do milho.

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      Estátua de cerâmica representa uma mulher da nobreza maia
      Estátua de cerâmica representa homem maia barbado sentado
      À esquerda: No alto:

      Estátua de cerâmica representa uma mulher da nobreza maia, mantida no Museo Nacional de Antropologia na Cidade do México, no México.

      Foto de Henri Stierlin Bildarchiv Steffens, Bildarchiv Steffens
      À direita: Acima:

      Estátua de cerâmica representa homem maia barbado sentado, datada do fim do período Clássico da civilização, entre 600 e 900 d.C.

      Foto de J.B.H. Henderson Memorial Fund Bridgeman Images,

      Os maias veneravam seus deuses com uma variedade de rituais. Entre eles estavam tanto o sacrifício humano quanto o derramamento de sangue – costumes que despertam a imaginação moderna. O esporte maia denominado pitz, precursor do futebol, teve suas próprias implicações ritualísticas: pesquisadores acreditam que os perdedores da partida algumas vezes eram sacrificados em reconhecimento aos deuses maias do Sol e da Lua, que teriam disputado o mesmo jogo no mito de criação dos maias, o Popol Vuh.

      Como a civilização maia entrou em colapso

      Embora algumas cidades do norte continuassem a florescer, a maioria dos centros maias começou a entrar em colapso durante os séculos 9 e 10 d.C. As relações entre cidades se deterioraram, as guerras se intensificaram, o comércio entrou em declínio e a taxa de mortalidade aumentou.

      Há diversas teorias sobre o fim da civilização. Uma hipótese, respaldada por simulações climáticas, é que uma longa estiagem – aliada a técnicas agrícolas de desmatamento e queima que destruíram as florestas das quais dependiam os maias – causou um desastre. Subitamente, centros urbanos prósperos se transformaram em regiões áridas desoladas com a morte de parte dos maias e a dispersão de outros a diversas regiões montanhosas e mais férteis ao sul. Enquanto cidades enormes como Chichén Itza entravam em colapso, cidades como Mayapán ganhavam relevância. Já outros maias abandonaram completamente as cidades, estabelecendo-se em pequenas aldeias.

      Embora o povo maia tenha persistido, a queda da civilização maia deixou aqueles que permaneceram vulneráveis às pressões da colonização europeia a partir do século 16. Por volta de 1524, quando a Espanha conquistou totalmente os maias, a maioria das cidades mais importantes da civilização já havia sido abandonada.

      Nesse período, os exploradores espanhóis recém-chegados prestaram pouca atenção às ruínas distribuídas por suas colônias, até mesmo ao conquistar territórios maias e obrigar seus povos a se converter ao cristianismo.

      Redescobrindo os maias

      Foi apenas na década de 1840 que os maias foram “redescobertos” por exploradores e pesquisadores intrigados com os vestígios da civilização deixados para trás. O advogado e diplomata norte-americano John Lloyd Stephens e o artista e arquiteto inglês Frederick Catherwood lideraram uma série de expedições arqueológicas à América Central, onde mapearam e documentaram sítios maias.

      Embora a existência de ruínas na região fosse conhecida, muitos europeus supunham que as nações centro-americanas fossem primitivas e pouco avançadas, e não haviam criado artefatos históricos. Stephens e Catherwood queriam provar que estavam errados e revelar o valor dos sítios e as identidades de seus criadores.

      Apesar de convencidos da antiga glória dos maias, os dois pesquisadores também tentaram lucrar com o que foi encontrado, até mesmo tentando comprar cidades maias inteiras e transportá-las a um museu de Nova York. No entanto, o trabalho da dupla obrigou o mundo a tomar conhecimento da civilização maia e estabeleceu os alicerces para futuros achados arqueológicos.

      Hoje, o campo da arqueologia maia está em plena ascensão. Escavações modernas revelaram uma diversidade de descobertas, como ruínas e relíquias religiosas, anteriormente tomadas pela mata. Estudiosos ainda tentam saber mais sobre os maias, sua ascensão ambiciosa e queda misteriosa.

      Embora as relíquias arqueológicas possam ser tudo o que resta de seu passado, os maias ainda existem. Mais de seis milhões de descendentes dos maias vivem na América Central moderna, onde ainda se falam mais de 30 dialetos provenientes da antiga língua maia. Esses descendentes também mantêm vivas muitas tradições maias agrícolas, religiosas e de manejo do solo – um sinal da resiliência de sua cultura diante de séculos de desafios e mudanças.

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