O que é canibalismo?

O canibalismo existe no reino animal, mas em humanos a prática é chamada de antropofagia e está muito ligada a costumes ritualísticos ou a episódios de violência e guerra.

Restos de duas crianças Chimú enterrados em Pampa la Cruz. Huanchaquito, Peru.

Foto de Robert Clark
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 9 de nov. de 2022, 14:40 BRT

A palavra canibal tem origem na colonização da América Central. Os colonizadores espanhóis se referiam aos nativos como caribales que, segundo relatos dos europeus, eram ferozes porque comiam carne humana. Mais tarde, o termo seria relacionado à prática, que também é chamada de antropofagia, do grego “antropos” (homem) + “phagein” (comer).

Isso é o que explica Neuza Rejane Wille Lima, doutora em ecologia e professora da Universidade Federal Fluminense, em seu livro intitulado “Tipos de Canibalismo – Ecologia, Evolução e Sociedades” (Editora Conhecimento Livre, 2022). 

Colombo, em seu diário, se referiu aos nativos do Caribe como caribales. Acredita-se que na transcrição dos manuscritos dele houve a troca da letra “r” pela letra “n”, originando assim a palavra canibal”, conta ela em seu livro.

Como a ciência define canibalismo 

A palavra canibalismo já foi incorporada no dicionário das ciências, sendo usada para definir aquela espécie que come um ser da própria espécie

Segundo conta Eliane de Carvalho, doutora em Ciências Sociais, pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), além de definir a antropofagia, o termo “canibalismo” também foi usado para dar contorno às relações ecológicas entre animais e como metáfora para outros fenômenos. 

“Astrônomos se referem a estrelas canibais, por exemplo. Na microbiologia, temos o termo células canibais”, explica Eliane.

O sítio de escavação de Pampa la Cruz, onde foram encontradas crianças e lhamas sacrificadas. Huanchaquito, Peru.

Foto de Robert Clark

Tipos de canibalismo em humanos

A prática canibal também pode ser observada em situações de guerra e relacionadas com violências. Segundo Carvalho, esses canibalismos costumam ser acompanhados de crimes, torturas e violências sexuais. “Não têm a ver com fome ou algum ritual. São praticados como manifestação de terror, uma dose extra de crueldade”, diz a cientista social. 

“O canibalismo também é um hábito observado em alguns criminosos em série”, diz Carvalho. Entre os casos conhecidos, está o do “Canibal de Milwaukee”, do estado de Minnesota, nos Estados Unidos, que matou, violentou e, por fim, comeu partes dos corpos de 17 rapazes adolescentes entre 1978 e 1991. 

Como surgiu o canibalismo humano ou a antropofagia?

De acordo com Carvalho, a prática de “humanos comerem outros seres humanos deve existir desde que os homens existem.” Mas, segundo o livro de Lima, há evidências de canibalismo encontradas em fósseis na caverna Moula-Guercy, na França, sugerindo que os Neandertais já o praticavam há 50 mil anos. 

Entretanto, os principais relatos históricos de canibalismo são de colonizadores europeus que registraram a prática em alguns povos nativos das Américas durante os séculos 15 e 16. “O antropofagismo em povos nativos acontecia na forma de rituais. Era, muitas vezes, uma prática guerreira ou funerária. Não há registros de que comiam carne humana como uma forma de alimentação”, diz Carvalho. 

Naquele século, o imaginário europeu julgava o canibalismo abominável, assim como a feitiçaria, o politeísmo, a poligamia e a nudez, de acordo com a pesquisadora. “Portanto, usavam os rituais, que eram descritos como algo selvagem e monstruoso, como uma das justificativas para a escravização e massacre dos povos nativos”, afirma Carvalho. 

Assim como os povos nativos do Caribe, rituais canibais foram registrados em populações das Américas do Sul e do Norte, na Ásia e nas Ilhas do Pacífico. Entretanto, a pesquisadora ressalta que, hoje em dia, os povos nativos modernos não seguem costumes antropofágicos.

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