Qual foi a guerra mais sangrenta da história latino-americana?
Aconteceu no sul do continente e envolveu o Paraguai contra o Brasil, Uruguai e Argentina.
Batalha de Campo Grande, óleo sobre tela (1871). Obra do artista brasileiro Pedro Américo.
Entre os anos de 1864 e 1870, ocorreu na América Latina a Guerra da Tríplice Aliança, conhecida como o conflito mais sangrento e prolongado da história da região, de acordo com o Museu Nacional Casa do Acordo, um complexo histórico e cultural vinculado ao Ministério da Cultura da Argentina.
O que foi a Guerra da Tríplice Aliança?
Também conhecida como Guerra do Paraguai, Guerra Grande ou Guerra Guasú, o conflito envolveu os membros da Tríplice Aliança – conjunto composto pela Argentina, Brasil e Uruguai – contra o Paraguai.
O conflito teve origem em 1863, quando um grupo de liberais derrubou o governo federal uruguaio. A ação foi comandada pelo general Venâncio Flores, político uruguaio, que contou com o apoio do governo brasileiro, relata o Museu.
Diante da incursão brasileira no Uruguai, o então presidente do Paraguai, Francisco Solano López, interveio em defesa do governo deposto e declarou guerra ao Brasil, acrescenta a instituição argentina.
De acordo com um artigo publicado em 2011 pela Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai, a decisão de López foi motivada pelo temor de que a intervenção militar brasileira fosse o primeiro passo para uma ocupação definitiva do Uruguai. Isso, por sua vez, romperia o equilíbrio da região do Rio da Prata e colocaria em perigo a independência do Paraguai.
Por sua vez, a Argentina (então governada por Bartolomé Mitre) havia se declarado neutra, mas acabou declarando guerra ao Paraguai em 1865. No mesmo ano, o país, o Brasil e o novo governo uruguaio assinaram o Tratado da Tríplice Aliança, no qual estabeleceram os objetivos da guerra e se comprometeram a não encerrar o conflito até derrubar o governo paraguaio.
Uma reportagem especial da Agência Senado sobre o conflito, intitulada “150 anos depois, guerra ainda é ferida aberta no Paraguai”, cita que López obteve vitórias no início, mas logo começou a sofrer derrotas e foi obrigado a convocar para a guerra até mesmo crianças e idosos.
(Relacionado: Três latino-americanas que deixam marcas na ciência)
A guerra terminou em 1870, na batalha de Cerro Corá, 454 quilômetros a nordeste de Assunção, na qual morreu o presidente paraguaio Francisco Solano López. No entanto, as tropas permaneceram no local por mais alguns anos, indica o Ministério da Cultura argentino.
De acordo com a secretaria de cultura paraguaia, as tropas brasileiras ocuparam o país até 1876, e as argentinas até 1879. Como derrotado, o Paraguai cedeu à Argentina o território do Chaco, compreendido entre os rios Pilcomayo e Bermejo, e para o Brasil, o território compreendido entre os rios Branco e Apa, hoje localizados no Mato Grosso do Sul.
(Veja também: 7 lugares históricos da América Latina que você deve visitar pelo menos uma vez)
Por que a Guerra da Tríplice Aliança é considerada a mais sangrenta?
De acordo com o ministério argentino, o conflito se tornou uma guerra de extermínio do povo paraguaio e resultou em um colapso demográfico de 60% a 69% da população do país.
Dados compartilhados pela secretaria de cultura paraguaia indicam que a população estimada do país no início do conflito era de 500 mil habitantes, sendo reduzida pela metade em 1870.
Além das perdas humanas, a agricultura e a pecuária paraguaias também foram afetadas. O gado bovino, estimado em mais de 2 milhões de cabeças no início do conflito, não chegava a 15 mil em 1870.
Ao mesmo tempo, complementa o organismo paraguaio, "o país precisava importar itens básicos (como feijão ou batatas) porque não produzia nada; também não tinha como pagar as importações, pois não havia moeda nacional, apenas moedas estrangeiras circulavam. As infraestruturas e sistemas de comunicação, como a ferrovia, foram destruídos".
Até hoje, cita a reportagem da Agência Senado, o Paraguai não conseguiu se
recuperar completamente de toda a destruição.