
Por que a cruz se tornou um símbolo do cristianismo?
No detalhe, o crucifixo que fica em um altar do Hospital de la Vera Cruz, na cidade de Medina de Pomar, na província de Burgos, na Espanha. O objeto mostra Cristo na cruz entre Nossa Senhora e São João, ambos desenhados nas pontas do objeto.
Se hoje a cruz é um sinal imediato de reconhecimento da doutrina cristã e da ressurreição de Jesus, seu profeta mais importante, a origem deste sinal traz à memória a história do sofrimento e da intolerância que a crucificação significava quando surgiu.
Isso porque a crucificação foi “um importante método de pena capital, especialmente entre os persas, selêucidas, cartagineses e romanos”, explica a Encyclopedia Britannica (plataforma de conhecimentos gerais baseada no Reino Unido), os quais foram utilizados desde o século 6 a.C. até o século 9 d.C., informa a fonte.
Foi apenas com a ascensão de Constantino, o Grande, o primeiro imperador cristão de Roma, que se aboliu a crucificação no Império, por volta do início do século 4 d.C, diz a Britannica. A partir da crucificação de Jesus Cristo, “a vítima mais famosa” desse castigo, essa penalidade foi revista.
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Uma escultura que mostra Jesus carregando a cruz e faz referência a uma das estações da Via Crucis, mais especificamente a sétima, na qual Cristo teria caído pela segunda vez no percurso.
Por que a cruz virou um símbolo?
A cruz relembra a crucificação de Jesus Cristo e os benefícios redentores de sua paixão e morte”, enfatiza a mesma plataforma. “Fazer um sinal da cruz pode ser, de acordo com o contexto, um ato de profissão de fé, uma oração, uma dedicação ou uma bênção”, completa.
Já segundo um artigo intitulado “Filosofia e teologia cristã” e publicado no site da Enciclopédia de Filosofia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, a adoção da cruz, representou, filosoficamente, três importantes pontos da fé cristã:
- A expiação, que é a crença de que Jesus morreu para salvar a humanidade;
- O paradoxo, que mostra como a derrota (que foi a morte de Cristo) se transforma em triunfo com a ressurreição;
- A identidade cristã: os primeiros cristãos viam a cruz como um sinal de fé, mesmo sendo um símbolo de vergonha no mundo romano.
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Monges cantam em um serviço diário de vésperas na Abadia de Holy Cross em Berryville, na Virgínia, Estados Unidos.
O que existia antes da cruz simbolizar a fé cristã?
Segundo ainda a Britannica, os primeiros cristãos “não representavam a crucificação de forma realista antes do século 5 d.C.". Em vez disso, as afirmações simbólicas de salvação e vida eterna ligadas à ressurreição de Cristo eram retratadas “primeiro por um cordeiro”.
Antes da época do imperador Constantino, os cristãos eram “extremamente reticentes” quanto a usar o objeto para representar sua fé, já que isso podia “expô-los ao ridículo ou ao perigo”, continua a plataforma. Foi só após o reconhecimento oficial do cristianismo pelo estado romano no início do século 4, que as cruzes começaram a aparecer, inclusive na arte sacra (em pinturas, esculturas e estandartes), afirma a fonte.
“No entanto, no século 6, as representações da crucificação tornaram-se numerosas como resultado dos esforços da igreja atual para combater uma heresia de que a natureza de Cristo não era dupla – humana e divina – mas simplesmente divina e, portanto, invulnerável”, explica a Britannica. “Essas primeiras crucificações eram, no entanto, imagens triunfantes, mostrando Cristo vivo, com os olhos abertos e sem vestígios de sofrimento, vitorioso sobre a morte”, completa.
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Somente no século 9, a arte bizantina começou a mostrar um Cristo morto, “refletindo a preocupação atual com o mistério de sua morte e a natureza da Encarnação”, afirma a enciclopédia. Essa versão do Cristo na cruz em sofrimento foi adotada no Ocidente a partir do século 13 de forma a reforçar a abnegação do “filho de Deus” que passou por uma via crucis para “salvar a humanidade”.
Vale ressaltar, no entanto, que no passado a cruz já foi símbolo de outras crenças. No mundo pré-cristão, inscrições em forma de cruz eram encontradas em outras culturas. “O antigo símbolo hieroglífico egípcio da vida – o ankh – era uma cruz em forma de T encimada por um laço”, diz a Britannica, e que era conhecida como crux ansata.
