Diminuição de florestas tropicais foi menor em 2017 – mas ainda é a segunda pior de todos os tempos
O Brasil e a República Democrática do Congo foram os que mais perderam; as coisas melhoraram na Indonésia. Aqui estão cinco tópicos de um novo relatório.
Imagine-se olhando de cima para baixo sobre uma enorme faixa de floresta exuberante – mas antes que você possa sacar o telefone e tirar uma foto, ela desaparece.
Em regiões tropicais ao redor do mundo, a cobertura florestal está desaparecendo nessa velocidade: a cada minuto do dia, nos últimos dois anos, uma área do tamanho de 40 campos de futebol foi cortada ou queimada para aumentar a produção de soja, gado, óleo de palma e produtos madeireiros.
Apesar dos esforços para reduzir o desmatamento tropical, a perda de cobertura florestal quase dobrou nos últimos 15 anos. Em 2017, 15,8 milhões de hectares desapareceram – uma área quase do tamanho do estado de Washington, nos Estados Unidos –, segundo novos dados divulgados pelo grupo de pesquisa do Instituto de Recursos Mundiais (World Resources Institute, WRI) no Fórum de Floresta Tropical de Oslo, onde 500 especialistas florestais e legisladores estão se reunindo para debater sobre o assunto. A última perda total só fica em segundo lugar se comparada a 2016, o pior ano de perda de florestas tropicais até agora, com 16,9 milhões de hectares.
Incêndios, secas e tempestades tropicais também estão desempenhando um papel crescente na perda de florestas, especialmente à medida que as mudanças climáticas os tornam mais frequentes e severos, de acordo com o relatório. As regiões que mais perderam floresta em 2017 foram as da América Latina, do Sudeste Asiático e da África Central.
O desmatamento é, em si, um dos principais impulsionadores das mudanças climáticas. Emissões oriundas da destruição de florestas tropicais, incluindo biomassa subterrânea e drenagem de florestas de turfa, acrescentaram cerca de 7,5 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono à atmosfera em 2017, de acordo com WRI – quase 50% acima das emissões de carbono de fontes energéticas de todos os Estados Unidos.
Enquanto a destruição das florestas libera enormes volumes de dióxido de carbono, o plantio de florestas sequestra a substância da atmosfera, fazendo da proteção florestal uma das respostas para mitigar as mudanças climáticas. E como as florestas tropicais crescem o ano todo, elas são especialmente importantes. A conservação adequada e a restauração de florestas tropicais, manguezais e turfeiras podem ser uma maneira econômica de atingir até 23% das reduções de dióxido de carbono necessárias até 2030, de acordo com um documento de trabalho do WRI sobre clima e florestas tropicais divulgado no fórum de Oslo.
Apesar disso, países e o setor privado gastam cerca de USD $ 100 bilhões por ano subsidiando e investindo na expansão agrícola e no desenvolvimento da terra que destroem a floresta, disse Frances Seymour, ilustre membro-sênior do WRI. Enquanto isso, ela acrescenta, apenas um bilhão de dólares anuais são destinados à conservação florestal.
“É como tentar apagar um incêndio doméstico com uma colher de chá enquanto mais gás vaza sobre a chama”, ela disse.
A pecuária é a maior responsável
Muito dos USD $ 100 bilhões anuais investidos em subsídios e investimentos vão para a exportação de alimentos e de produtos madeireiros para outros países. A China e a Índia estão entre os maiores importadores mundiais de soja, pasta de papel e celulose e óleo de palma. A China sozinha é um grande importador de carne bovina, e a pecuária é a maior causadora isolada de desmatamento, de acordo com um documento de trabalho do WRI sobre cadeias de fornecimento livres de desmatamento.
Esses subsídios e investimentos devem ser redirecionados para o aumento da agricultura sustentável em terras não-florestais, diz Andreas Dahl-Jørgensen, vice-diretor da Iniciativa Internacional de Floresta e Clima da Noruega, durante uma coletiva de imprensa sobre os novos dados.
A taxa de perda de cobertura florestal é inferior à metade em terras comunitárias e indígenas, em comparação a outros lugares. No entanto, isso tem um preço alto. O grupo de direitos humanos Global Witness documentou 197 assassinatos de pessoas defendendo direitos territoriais e ambientais em 2017. Muitos deles eram indígenas, observou Victoria Tauli-Corpuz, uma especialista da ONU e líder indígena.
Reconhecer e apoiar os direitos legais dos povos indígenas do mundo – que ocupam mais de 50% das terras – é uma ferramenta poderosa de proteção às florestas e ao clima, ela diz.
Cinco conclusões do novo relatório
- O Brasil ainda é de longe o líder em desmatamento, com 4,5 milhões de hectares perdidos em 2017, seguido pela República Democrática do Congo com 1,5 milhão de hectares.
- A Indonésia reduziu drasticamente sua perda florestal em 60%, em 2017, embora o Sumatra, lar do extremamente ameaçado tigre de Sumatra, tenha observado um aumento na perda de florestas primárias – incluindo 18,5 mil de hectares no Parque Nacional de Kerinci Seblat.
- O desmatamento na Colômbia foi três vezes maior em 2017 do que em 2015 – o fim da guerra civil resultou em uma corrida pela pecuária, mineração, soja, madeira e especulação imobiliária.
- O Congo interrompeu a exploração madeireira industrial há 16 anos, mas a perda de florestas aumentou em 2016-17. Este ano, as empresas chinesas receberam novas concessões madeireiras na maior floresta de turfa do mundo.
- A ilha de Dominica perdeu 32% de sua floresta remanescente devido a furacões, em 2017, enquanto Porto Rico perdeu 10%.