Desmatamento na Amazônia atinge maior índice desde 2008 – 7,9 mil km²
O número cresceu 13,7% em relação ao período anterior e representa uma área perdida equivalente a quase cinco cidades de São Paulo
Na sexta-feira, 23 de novembro, os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência, Tecnologia e Comunicações divulgaram os resultados da pesquisa que mede, por meio de satélites, o desmatamento na região da Floresta Amazônica.
Entre agosto de 2017 e julho de 2018 houve um aumento de 13,7% da área desmatada em relação ao período anterior. São 7,9 mil km² de floresta natural perdida, quase cinco vezes a área da cidade de São Paulo.
O registro é o maior desde 2008, quando 12.911 km² de vegetação foi retirada da Amazônia Legal – região que engloba todos os estados do Norte, o Maranhão e o Mato Grosso. Apesar do recorde, os ministérios declararam, em nota, que o desmatamento de 2018 representa uma redução de 72% em relação à taxa de 2004, quando foi dado início ao Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal.
Pará foi o estado com maior perda de área florestada, com uma taxa de 2.840 km² no total. Ele foi seguido por Mato Grosso, com 1.749 km², Rondônia, com 1.314 km² e Amazonas, que totalizou com 1.045 km². Já o Acre foi onde o desmatamento mais cresceu, registrando 82,9% em relação ao período anterior.
Os dados são obtidos pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A taxa é feita levando em conta áreas acima de 6,25 hectares que tiveram sua vegetação retirada independente da finalidade. Apesar dos dados serem preliminares, a margem de erro da pesquisa é inferior a 10%, não representando diferença significativa no resultado.
Para André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e representante da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, os dados representam um alerta para a sociedade brasileira. Ele conta que desde 2005 existe um esforço em conjunto de empresas, agricultores e produtores – não apenas do governo federal – para reduzir sistematicamente o desmatamento nessa área.
“Agora que taxas como essa estão aparecendo é hora de nos perguntarmos: chegamos ao fim da descendência de desflorestamento e vamos começar a subir novamente ou isso é apenas um repique eleitoral por conta dos últimos momentos políticos vividos no país?”, disse Guimarães em entrevista por telefone para a National Geographic.
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Para ele, é difícil encontrar motivos diretos para o ocorrido, já que a preservação de áreas verdes não depende apenas de políticas governamentais, mas também de percepções sociais, ações privadas e outros fatores.
“É importante saber que todos nós somos impactados quando algo assim acontece”, disse ele. “Nossa produção agropecuária é 95% não irrigada. Ou seja, quase todos nossos produtos de exportação dependem da produção de chuvas, algo completamente afetado pela manutenção ou não de áreas verdes. ”
O diretor-executivo aponta também que entre 2004 e 2012, época em que houve a maior queda de desmatamento, foi um dos períodos de maior aumento na agropecuária brasileira. “Não é preciso ir longe para ver que crescimento econômico e preservação ambiental não são objetivos antagônicos, mas complementares.”
*supervisionou Miguel Vilela