Erupção vulcânica na Nova Zelândia pegou todo mundo de surpresa

O evento foi definido como o pior cenário possível, de acordo com geólogos.

Por Robin George Andrews
Publicado 14 de dez. de 2019, 08:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Coluna de cinzas lançada pelo vulcão ativo de Whakaari/White Island, na Nova Zelândia, no dia 9 ...
Coluna de cinzas lançada pelo vulcão ativo de Whakaari/White Island, na Nova Zelândia, no dia 9 de dezembro de 2019.
Foto de John Boren, Getty Images

Uma erupção explosiva nos últimos dias abalou White Island, uma pequena ilha vulcânica na Baía de Plenty, na Nova Zelândia. Ocorreram diversas explosões violentas, que lançaram cinzas a mais de 3,5 mil metros de altura e cobriram a base do vulcão com detritos quentes e, posteriormente, seguiu-se um silêncio total.

Rapidamente, soube-se que havia mortos. Na hora do acidente, vários turistas estavam na ilha, muitos dos quais bem próximos à cratera do vulcão. Até o momento, cinco mortes foram oficialmente confirmadas, e diversas outras pessoas continuam desaparecidas. Voos de reconhecimento recentes sobre a ilha, também conhecida pelo seu nome maori Whakaari, não encontraram nenhum sinal de vida.

Para esse tipo de paroxismo vulcânico, a vulcanóloga e cientista da Terra da Universidade de Auckland Shane Cronin afirma que “esse foi provavelmente o pior cenário possível”.

Como já se sabe, a explosão pegou muitos de surpresa. Mas, para esse vulcão, e para o tipo de erupção envolvido, não foi nada fora do comum: erupções semelhantes, embora não ocorram todos os dias, acontecem em muitos vulcões ao redor do mundo e continuarão acontecendo, sem aviso prévio.

“Este é um exemplo de pessoas que estavam no lugar errado, na hora errada”, disse Janine Krippner, vulcanóloga do Programa Global de Vulcanismo do Instituto Smithsoniano. “É horrível quando isso acontece, mas continuará ocorrendo repetidas vezes.”

Por que então a erupção em Whakaari/White Island foi tão imprevisível e fatal? Analisemos os fatos.

Sinais de alerta invisíveis

Whakaari/White Island é o cume de um vulcão submarino complexo. Segundo o Programa Global de Vulcanismo do Instituto Smithsoniano, a ilha é altamente ativa e palco de uma diversidade de tipos de erupção. Muitas apresentam explosões moderadas.

Como resultado de sua hiperatividade e da frequência de visitas turísticas, Whakaari/White Island é altamente monitorada. Os cientistas a observavam com atenção para tentar identificar comportamentos que poderiam indicar que o vulcão estava prestes a entrar em erupção.

Vulcanólogos e o GNS Science, um grupo de consultoria da Nova Zelândia, descobriram algumas deformações superficiais semanas antes, de acordo com Geoff Kilgour, cientista do grupo. As deformações podem indicar alterações na pressão subterrânea causadas pelo movimento de líquidos superaquecidos, gases ou magma. Porém, nesse caso, a atividade não indicava que havia um grande aumento de pressão.

Da mesma forma, os esforços de monitoramento e relatórios de empresas de turismo também notaram, na época, atividades semelhantes às de gêiseres, além de um aumento nas emissões de gás e ruídos sísmicos. As autoridades então aumentaram o nível de alerta do vulcão. Aumentar o nível de alerta não significa que será possível evitar uma erupção e, em muitos casos, não há nenhuma erupção iminente. Infelizmente, dessa vez, foi uma exceção mortal.

Panela de pressão vulcânica

O magma fica perto da superfície em Whakaari/White Island, e a rocha derretida constantemente remove gases e aquece a água subterrânea, presente em enorme quantidade.

 “Temos aqui um verdadeiro caldeirão borbulhando”, afirma Cronin.

Além disso, o caminho que o magma percorre até a superfície na cratera desse vulcão pode ser bloqueado, às vezes, pela precipitação de minerais. Isso pode levar os gases a ficarem presos abaixo da superfície, onde se acumulam e são aquecidos, criando uma camada de elementos superaquecidos, como se fosse uma panela de pressão. A água escaldante quase chega a ferver e se tornar vapor, mas continua líquida devido à enorme pressão exercida.

Isso significa que qualquer rachadura nessa panela de pressão geológica pode produzir um rápido e intenso evento de descompressão. A água líquida se transforma em vapor, expandindo o seu volume 1,7 mil vezes em um piscar de olhos. A energia da expansão é suficiente para quebrar rochas e esculpir cicatrizes geológicas. Quando a pressão na abertura é liberada, uma onda de descompressão desce pelo interior do vulcão, encontrando ainda mais água pressurizada. Às vezes, a onda de choque atinge o magma, transformando o que seria uma explosão de vapor em uma erupção impulsionada pelo magma.

Até mesmo uma explosão de vapor pode ser letal se você estiver muito perto da cratera, diz Cronin. Porém o lançamento de rochas, jatos de detritos úmidos e o ar extremamente quente também podem ser mortais.

E a sequência de eventos acontece tão rapidamente que ninguém tem tempo de reagir. A maior parte dessa erupção foi um conjunto de explosões impulsivas, cada uma com apenas dezenas de segundos de duração. O horror todo acabou em dois minutos, relata Kilgour. A situação é especialmente perigosa em Whakaari/White Island, pois a ilha vulcânica é muito pequena.

 “Não há muitos lugares nos quais você possa estar em White Island sem ficar muito perto da cratera”, diz Loÿc Vanderkluysen, vulcanólogo da Universidade Drexel.

Futuro incerto

Esse tipo de erupção — motivada pelo menos inicialmente por vapor — ocorre em vulcões do mundo inteiro. Uma explosão de vapor similar foi relatada no Monte Ontake, no Japão, em 2014, matando 63 alpinistas. Basicamente, esses acidentes vulcânicos não fornecem nenhum sinal claro de alerta. De acordo com Kilgour, “ninguém comprovou até hoje que é possível prever esse tipo de atividade”, não importa em que parte do mundo ela aconteça.

Nesse caso, o azar também teve sua parcela de culpa. Uma erupção igualmente cruel atingiu Whakaari/White Island em 2016, mas durante à noite. A última erupção ocorreu durante a tarde, quando havia turistas por lá.

Ainda não se sabe como a tragédia afetará o turismo na ilha de propriedade privada no longo prazo. Os cientistas vão seguir monitorando e estudando o local de perto, e Cronin e seus colegas estão criando em laboratório explosões hidrotermais em miniatura para testar e compreender melhor suas causas.

Por hora, ainda há muito a ser descoberto a respeito das explosões vulcânicas. É ainda mais importante que todos entendam os perigos e incertezas envolvidos na visitação de um vulcão ativo como Whakaari/White Island.

“É difícil retratar as incertezas para os turistas”, diz Kilgour. “E há muita incerteza com relação às erupções vulcânicas, em particular quando falamos de eventos de início rápido ou essencialmente imprevisíveis.”

Não restam dúvidas quanto às possibilidades de essas explosões vulcânicas seguirem representando riscos fatais. “De todos os vulcões que já visitei e que são de fácil acesso aos turistas, acredito que nenhum tenha ficado isento de uma história horrível como essa”, conta Vanderkluysen.

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