Como viver com menos plástico: dicas de especialistas para diminuir o consumo

De olho no movimento Julho Sem Plástico, especialistas listam alternativas para esse dilema da vida moderna.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 29 de jul. de 2022, 09:01 BRT
Itens usados ​​para substituir plásticos descartáveis de uso único.

Itens usados ​​para substituir plásticos descartáveis de uso único. 

Foto de DANIELA SANTAMARINA

É possível viver em um mundo sem plástico? A cada notícia sobre o impacto da produção e do descarte desse material no planeta, é quase impossível não se perguntar como fazer para consumir menos plástico no dia a dia.

Achar saídas para o problema do consumo e descarte de plásticos, e incentivar as pessoas a consumirem menos é o que motiva o movimento Julho Sem Plástico, criado em 2011 pela ativista ambiental e exploradora da National Geographic Rebecca Prince-Ruiz, e hoje mantido pela equipe do Programa de Educação dos Cuidadores da Terra do Conselho Regional Metropolitano da Austrália Ocidental. A iniciativa fomenta, uma mudança de comportamento nas pessoas e propõe o desafio de evitar o uso de plástico descartável ao menos durante o mês de julho. 

A National Geographic entrevistou especialistas que são referência na busca por alternativas ao plástico. Abaixo, algumas dicas para reduzir e repensar o consumo.

Dica 1: informe-se sobre o tema 

Existe um motivo para este material estar por todo lado e ter se tornado tão popular: sua funcionalidade. “O plástico veio para revolucionar a indústria. É um material estéril, barato, resistente e, por isso, muito útil para as indústrias”, explica Catalina Velasco, bióloga marinha chilena e exploradora da National Geographic

“O problema não é o material em si, é a relação que temos com ele”, diz Velasco. Segundo ela, o plástico é usado de forma descartável, sem que haja uma preocupação com o que acontece com o material após o uso ou com as consequências para o meio ambiente. 

[Você pode se interessar: Por que o microplástico é perigoso]

Conhecer como o plástico impacta o ambiente e a saúde dos seres vivos é, de acordo com Velasco, um dos primeiros passos para reduzir o consumo. “Se não entendemos o plástico como um problema, não temos como encontrar uma solução. Se informar sobre a quantidade do material que acaba no meio ambiente e os danos que isso causa é essencial para motivar a redução do consumo.”

Uma escova de dentes com cabeça substituível.

Uma escova de dentes com cabeça substituível.

Foto de Mark Thiessen

Dica 2: diminua o uso cortando um plástico por vez

“Um plástico de cada vez”, tranquiliza Velasco. “Quando entendemos que estamos rodeados por ele, é fácil entrar em desespero e achar que será impossível tirá-lo da nossa vida. Por isso, é importante começar devagar, um passo de cada vez.”

Diminuir a compra e o uso de produtos plásticos é uma jornada longa que exige mudanças de hábitos e de pensamento, o que não acontece da noite para o dia. “Escolha um produto que quer eliminar e comece por ele, sejam garrafas, sacolas ou talheres descartáveis”, diz Velasco. “Quando se acostumar e isso virar um hábito, parta para o próximo item.”

“Um dos convites deste mês é o desafio de tirar pelo menos um item de plástico de nossas vidas. Então, esse é o momento ideal para começar.”

Dica 3: cuidado com o excesso de embalagens 

O biólogo marinho e explorador da National Geographic Christian Lagger, sugere começar o processo de “desplastificação” identificando onde estão os plásticos do dia a dia. “Estamos rodeados de plástico nos nossos carrinhos de compras, nos sacos de lixo, nos alimentos que consumimos. Ele está em todo lugar”, diz Lagger. “O pior para o meio ambiente é o plástico que é descartado após um único uso, que incluem a maioria das embalagens e produtos que consumimos.”

Para Lagger, repensar a relação com o material é fundamental para começar uma jornada sem plástico. “Precisamos dimensionar a dependência que temos dele e de que formas é possível parar com esse consumo abusivo.”

Como exemplo, o biólogo menciona um dos desafios da plataforma Unplastify, uma iniciativa de exploradores da National Geographic para divulgar informações e alternativas para mudar a relação humana com o plástico. “Entrei no desafio de eliminar recipientes de xampu e condicionador da minha rotina. Hoje uso produtos sólidos, em barra, como uma alternativa mais ecológica”, conta Lagger. “Acredite, quando se ‘desplastifica’ algum hábito, você nunca mais volta a considerar o plástico como uma opção.” 

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    Dica 4: procure embalagens que não sejam plásticas 

    Para Catalina Velasco, as redes sociais podem ser valiosas fontes de informação. “Seguir contas de organizações ou pessoas que se dedicam ao combate à poluição plástica é uma boa alternativa porque eles sempre dão bons conselhos para o dia a dia”, recomenda Velasco. 

    O blog Viver Sem Plástico, mantido pelo casal espanhol Fernando Gómez Soria, técnico de informática, e Patricia Reina Toresano, fotógrafa e idealizadora da associação Viver Sem Plástico. 

    Soria recomenda procurar outros tipos de embalagens como uma dica para começar a reduzir o consumo no dia a dia – seja na alimentação, higiene pessoal ou limpeza doméstica. Ele recomenda, por exemplo, comprar frutas e legumes in natura, sem que estejam envoltos em embalagens plásticas, usar filtro de água em vez de comprar garrafas pet conservar alimentos em envases de vidro, metal ou até papéis de cera de abelha.

    Soria também recomenda trocar frascos de xampu, desodorantes e cremes por produtos em barra. “Em vez de um xampu ou sabonete líquido, compre o produto em barra.  Além de virem em embalagens ecofriendly, como o papelão, também duram mais por serem concentrados.” Outra sugestão é optar por materiais alternativos para produtos de higiene, como escovas de dentes de bambu e coletores menstruais reutilizáveis de silicone.

    Uma garrafa reutilizável com espuma de cidra.

    Uma garrafa reutilizável com espuma de cidra.

    Foto de Rebecca Hale

    Dica 5: repense o uso de produtos biodegradáveis

    Catalina Velasco alerta sobre o rótulo de biodegradável que alguns materiais possam ter – mas que são tão nocivos para o meio ambiente quanto o plástico. Por exemplo, as sacolas de plástico biodegradáveis não são uma boa substituição para as convencionais. “Existem estudos mostrando que esse plástico biodegradável pode ter o mesmo impacto nocivo que o normal. Isso porque o biodegradável também degrada os ambientes e gera microplásticos”, explica Velasco. 

    Um estudo, de 2019, publicado no periódico Environmental Science and Technology, apontou que sacolas de plástico classificadas como “biodegradáveis” ainda podiam ser usadas para carregar compras mesmo após três anos expostas ao meio ambiente. 

    A pesquisa testou a durabilidade de sacolas de plástico convencional, biodegradáveis, oxibiodegradáveis (que se fragmentam através do processo de oxidação) e compostáveis, deixando-as expostas ao ar, solo e mar – ambientes onde poderiam ser descartadas como lixo. Após nove meses ao ar livre, todos os materiais se desintegraram completamente em microplásticos. 

    Tanto as formulações plásticas biodegradáveis, quanto as oxibiodegradáveis ​​e as convencionais permaneceram funcionais, ou seja, ainda podiam ser usadas como sacolas de transporte, depois de permanecerem no solo ou no ambiente marinho por mais de três anos, como mostra o resultado do estudo.

    Para Velasco, a partir de dados como esse, é importante se atentar às alternativas que se dizem “amigas” do meio ambiente, porque nem sempre o são. “Na realidade, o melhor é parar de consumir plástico em vez de procurar outras alternativas tão nocivas quanto ele.”

    Um embrulho reutilizável para comida feito de cera de abelha e algodão.

    Um embrulho reutilizável para comida feito de cera de abelha e algodão.

    Foto de Mark Thiessen

    Dica 6: evite o descarte rápido do plástico – e recicle

    Ainda é bastante difícil substituir ou eliminar completamente os plásticos no dia a dia. Algumas peças de vestuário, como tênis esportivos, e mesmo aparelhos eletrônicos (como computadores e celulares) carregam plásticos em sua composição. Então, a menos que você opte por uma vida desconectada ou nunca mais use um calçado assim, não há para onde fugir nesses casos. 

    Por isso, Fernando Soria afirma que o problema não é exatamente usar esses produtos, mas sim o seu descarte rápido. “Precisa de algo que use plástico? Reutilize o máximo que puder”, diz ele.

    “No fim, é uma questão de mudança de hábitos de consumo. O principal problema aqui é jogar no lixo tudo de forma tão rápida. Tente usar aquilo que você já tem ao invés de comprar algo novo e quando precisar descartar o produto, que seja no local correto para ser possível que esse material seja reciclado, sem prejudicar tanto o meio ambiente.”

    Mas a reciclagem, apesar de importante, não deve ser a principal ação para o problema dos plásticos. “Nem todo plástico que usamos pode ser reciclado”, diz Catalina Velasco.  “E muito pouco do que pode é coletado e direcionado corretamente”. Reduzir o consumo ao máximo é o melhor negócio. 

    Isso porque a proporção de resíduos plásticos reciclados com sucesso no mundo foi de apenas 9% em 2019, segundo o relatório Perspectivas Mundiais do Plástico da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Cerca de 20% dos resíduos plásticos foram direcionados para incineração e 50% para aterros.

    “O melhor cenário é reduzir nosso consumo, parar de aceitar plástico de uso único e reciclar como última alternativa”, reafirma a bióloga Velasco. 

    Foto de pescadores em pequeno barco de pesca na praia de Copacabana, Rio de Janeiro

    Então, para quem chegou até aqui na leitura, segue uma lista do que os especialistas recomendam fazer para se viver com menos plásticos:

    • Um plástico de cada vez: comece sua jornada escolhendo um primeiro item para substituir ou tirar da rotina; depois vá passando para outros, pouco a pouco.

    • Busque informações: procure sites, blogs e contas nas redes sociais que dividem experiências e dicas para diminuir o consumo de plástico no dia a dia. 

    • Atenção para as embalagens: os plásticos de uso único são os que mais preocupam, como sacolas e garrafas de água ou embalagens de alimentos. Busque trocar esses itens por reutilizáveis, como bolsas de compras de tecido, garrafinhas de alumínio, vasilhas de vidro, ou opte por embalagens mais sustentáveis, como papelão.

    • Busque alternativas para produtos de higiene: escovas de dente de bambu, xampus, desodorantes e sabonetes em barra e coletores menstruais são opções para reduzir o plástico na higiene pessoal;

    • Cuidado com os biodegradáveis: alguns produtos com esse rótulo podem fazer tão mal para o meio ambiente quanto os feitos de plástico convencional. O ideal é reduzir o consumo e não substituir por materiais semelhantes.

    • Reutilize ao máximo: alguns itens de plástico não podem ser substituídos, como os eletrônicos. Para esses, alongue ao máximo sua vida útil ao invés de comprar produtos novos.

    • Recicle: para os itens que não podem ser substituídos ou eliminados da rotina, certifique-se de destiná-los a locais de coleta seletiva, onde serão reciclados, evitando que cheguem ao meio ambiente.

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