Cidades inteligentes, sustentáveis e verdes: o que elas significam e quais suas diferenças?

As cidades mudam, adaptando-se à realidade de cada momento e, com elas, seus conceitos. Saiba o que é cada um desses termos e as diferenças entre eles.

Microônibus sem motorista nos Jardins da Baía de Cingapura.

Foto de Andrew Moore
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 28 de out. de 2022, 11:12 BRT

O mundo está se tornando cada vez mais urbanizado, como informam dados do documento Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 11 da Organização das Nações Unidas (ONU). 

De acordo com o relatório, desde 2007, mais da metade da população mundial vive em cidades, e o número deve aumentar para 60% até 2030. Embora as cidades do mundo ocupem apenas 3% do planeta, elas são responsáveis por 60% a 80% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono, explicam os dados do ODS.

Portanto, entre outros objetivos, a entidade propõe aumentar a urbanização inclusiva e sustentável e a capacidade de planejamento e gestão participativa; redobrar esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural; reduzir os impactos ambientais negativos per capita; e proporcionar acesso universal a espaços verdes e espaços públicos seguros, inclusivos e acessíveis.

Diante deste desafio, cidades inteligentes, sustentáveis e verdes podem dar uma contribuição positiva. Mas sobre o que é cada um desses conceitos e qual é a diferença entre eles?

Quais tipos de cidades existem? 

Há três tipos de cidades quanto ao que se refere à maneira como elas podem ser estruturadas: a cidade verde, a sustentável e a inteligente. "Tratam-se de exemplos de adjetivos dados às cidades em um esforço de marca urbana para criar sua própria identidade, de forma a atrair pessoas, empresas, recursos e projetos", explica Gabriel Mazzola Poli de Figueiredo, engenheiro em sistemas eletrônicos, mestre e doutorando em planejamento urbano, pesquisador e consultor em projetos de Políticas Públicas, Cidades Inteligentes, Tecnologia e Inovação. 

O especialista brasileiro também explica que esses conceitos não são estritamente definidos, mas que as três definições se sobrepõem. Ele comenta que cada um deles se concentra em algo específico.

Veja a fotogaleria de uma das cidades mais poluídas do mundo: 

O que é uma cidade inteligente?

Segundo a ONU, uma cidade inteligente é aquela que usa a tecnologia como ferramenta para otimizar sua eficiência e sua economia, desde que sirva para melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos e proteger a natureza.

Na mesma linha, o pesquisador propõe que a cidade inteligente é aquela que enfatiza o uso de tecnologias de informação e comunicação para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.

O que é uma cidade sustentável?

Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Argentina, as cidades sustentáveis devem ser analisadas sob uma perspectiva sistêmica com uma interação dinâmica entre o sistema ambiental, social e econômico. 

A agência argentina define essas cidades como aquelas que "alcançam a plena realização dos direitos de seus habitantes, incluindo o acesso à moradia, à água potável e ao saneamento, à segurança alimentar, à saúde, à educação, à infra-estrutura resistente, à mobilidade e ao direito a um ambiente saudável para um desenvolvimento humano harmonioso que respeite a natureza que habita e integra".

Além disso, a definição do órgão argentino ainda diz que as cidades sustentáveis devem ser um espaço de pertencimento cultural no qual são construídos laços intra e intergeracionais; há igualdade de gênero; e é resistente aos impactos adversos da mudança climática.

"Não há um tipo ideal uniforme de cidade sustentável, mas ela é moldada pelas características específicas de cada região, população e processo histórico", informa o ministério.

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    O que é uma cidade verde?

    Finalmente, o especialista menciona que as cidades verdes incluem incentivos para dinâmicas urbanas verdes e locais, a fim de reduzir o impacto ambiental e melhorar a qualidade de vida.

    Algumas dessas dinâmicas, ele acrescenta, procuram reduzir as emissões de gás carbônico, gerar menos lixo, promover um melhor uso da terra e da energia, e criar mais espaços verdes.

    A cidade verde seria um lugar que tem como objetivo estar em equilíbrio com a natureza, como sugere o livro “Making Green Cities: Concepts, Challenges and Practice” (algo como Construindo Cidades Verdes: Conceitos, Desafios e Práticas), de autoria de Jürgen Breuste, Martina Artmann, Cristian Ioja e Salman Qureshi – e que deve chegar ao mercado brasileiro a partir de dezembro de 2022. 

    De acordo com a publicação, os organismos vivos e seus habitats, dentro da cidade verde, seriam componentes importantes e parte da infra-estrutura. "Todas as formas de natureza são respeitadas, mantidas e estendidas em benefício dos residentes da cidade", diz um trecho da publicação.

    Segundo o Habitat da ONU, programa da Organização das Nações Unidas para  a moradia, os espaços verdes contribuem para melhorar as condições ambientais, aumentando a qualidade do ar, reduzindo o efeito estufa e seqüestrando o carbono produzido.

    Quais são os pontos em comum entre cidades inteligentes, sustentáveis e verdes?

    Embora cada tipo de cidade seja especializado em uma determinada área, os objetivos são semelhantes, diz Mazzola Poli de Figueiredo. "Em todos os casos, há a intenção de melhorar a qualidade de vida das pessoas, reduzir o impacto ambiental da dinâmica urbana, melhorar a eficácia e a eficiência dos serviços".

    Segundo o consultor, a América Latina pode entrar neste cenário de cidades mais inteligentes, sustentáveis e verdes adaptando-o à sua realidade: "Devemos construir nossa própria abordagem a estes modelos, visando nos dedicar, especificamente, aos desafios urbanos e sociais que enfrentamos como região. Entre eles estão a desigualdade, a fome, os assentamentos precários, a privação de direitos humanos fundamentais, a falta de mobilidade urbana e o saneamento, as vulnerabilidades raciais e de gênero, e assim por diante".

    Para isso, explica o pesquisador brasileiro, é necessário algumas tarefas, como ter uma visão sistêmica das dinâmicas urbanas e territoriais; investir em ciência e pesquisa multidisciplinar conectando engenharia, planejamento urbano, antropologia, ciências sociais, entre outras. 

    Tudo isso, diz ele, para entender melhor como elas afetam umas às outras e qual é a forma mais apropriada de trabalhar para reduzir as desigualdades e melhorar a qualidade de vida das pessoas. 

    Além disso, "é crucial incorporar especialistas de diferentes áreas do conhecimento e também da sociedade civil no processo de concepção, implementação e avaliação dessas iniciativas".

    Segundo Mazzola Poli de Figueiredo, este é um grande desafio, mas o trabalho de construir tais cidades "é um esforço essencial para ter cidades mais inteligentes, participativas, justas, saudáveis, inclusivas e sustentáveis no futuro".

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