O que é plogging? Como se juntar à essa tendência na próxima vez que sair de férias

A atividade tem atraído pessoas no mundo todo ao unir exercício físico e cuidado com o meio ambiente. Descubra do que se trata, o que é preciso para praticá-la e veja iniciativas latino-americanas sobre o tema.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 27 de fev. de 2023, 14:54 BRT
Crianças e adultos participam de um dia de coleta de lixo em Bahía Blanca, Argentina.

Crianças e adultos participam de um dia de coleta de lixo em Bahía Blanca, Argentina.

Foto de Plogging Bahía

Quando Erik Ahlström, um esportista com mais de 30 anos de experiência, retornou a Estocolmo após 20 anos vivendo em Åre, uma pequena comunidade de esqui no norte da Suécia, ele ficou chocado com a quantidade de lixo que havia na natureza. Foi então que decidiu fazer a diferença e começou a recolher o material enquanto se exercitava, o que ficou conhecido como plogging.

"Lembro que não fez grande diferença para ninguém além de mim", recorda Ahlström sobre aqueles dias em 2016. Então, ele convidou seus amigos que amavam a natureza para também coletar o lixo, como ele, e o que aconteceu foi que descobriram uma nova maneira de se exercitar em sintonia com o cuidado com o meio ambiente.

Assim nasceu o plogging, que é uma combinação da palavra sueca plogga (pegar) e da palavra inglesa jogging (correr) e significa correr e pegar lixo, como diz Ahlström, criador de Plogga – uma organização que divulga informações e organiza eventos deste tipo.

Por que praticar plogging

Um terço de todos os resíduos urbanos gerados na América Latina e no Caribe acaba em lixões abertos ou no meio ambiente, afetando a saúde das pessoas e poluindo o solo, a água e o ar, informa o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Ainda segundo o programa, cada latino-americano gera um quilo de lixo por dia, e a região como um todo gera 541 mil toneladas, o que representa cerca de 10% do lixo do mundo.

Em média, o Brasil e o México são os países que geram mais resíduos. O Haiti é o país com menos desperdício na região, diz o Pnuma.

Como se pratica o plogging

Ainda que tenha começado usando a corrida como esporte, para  praticar o plogging não é preciso ser, necessariamente, um corredor. De acordo com o Plogga, isso pode ser feito caminhando, andando de bicicleta, remando, nadando ou praticando qualquer outra atividade física que o indivíduo mais goste.

Quanto ao tempo e a maneira de fazer a prática, cada grupo de plogging pode ter uma dinâmica diferente. 

Os entrevistados concordam que tudo o que se precisa são bons sapatos para o esporte, luvas de pano ou borracha reutilizáveis e sacolas também de mais de um uso (as ecobags são recomendadas por sua durabilidade). 

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    Plogging MX: como a prática melhora a qualidade de vida

    A semente que Ahlström plantou, em 2016, na Suécia tornou-se uma tendência global que muitas pessoas praticam como contribuição à natureza e prática saudável.

    É o caso de Elisa Apátiga, uma jovem graduada em turismo e com mestrado em ciências ambientais, que vive no México. Em 2018, ela deixou seu emprego como gerente de eventos para evitar o burnout e começou a se exercitar mais. 

    Algum tempo depois, sua treinadora sugeriu que fizesse atividade física em um parque próximo e, enquanto corria, Elisa passou a coletar o lixo deixado por ali por outros frequentadores. Surpreendido com a “nova prática” da aluna, o treinador de Elisa passou a sugerir o plogging a outras pessoas. 

    "Nosso primeiro evento chamado ‘Limpeza do Parque de Pilares’  aconteceu em 3 de fevereiro de 2018, e contou com a presença de dez pessoas", lembra Elisa Apátiga.

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      À esquerda: No alto:

      Elisa, Héctor e César, os criadores do Plogging MX, recolhem resíduos nas suas cidades.

      À direita: Acima:

      Cada saída plog tem um momento para praticar atividade física.

      fotos de Plogging MX

      Depois disso, a jovem fundou a Plogging MX com dois amigos – Hector e César Gómez. Trata-se de um grupo de pessoas que se reúne especificamente para praticar o plogging e depois participam de bate-papos de conscientização sobre o tema dos resíduos.

      Cada saída consiste em três etapas que incluem treinamento físico (cerca de 30 minutos); coleta de lixo; e um momento no qual os participantes esvaziam suas sacolas, classificam o que encontraram e aprendem sobre o impacto de cada um destes materiais no meio ambiente.

      Plogging em Porto Seguro, a iniciativa brasileira que nasceu em família

      Em agosto de 2018, Lisianne Meira Maia Gama, uma advogada brasileira, fundou sua própria iniciativa sobre o tema – a Plogging Porto Seguro.

      Em conversa com a National Geographic, Lisianne conta que a ideia nasceu como uma resposta ao excesso de plástico nas praias da cidade baiana de Porto Seguro (segundo o Pnuma, este tipo de material representa pelo menos 85% de todo o lixo marinho do mundo).

      "Inicialmente, foi um projeto familiar, depois entraram amigos e agora temos voluntários. Ficamos indignados com o excesso de plástico na areia, e não podíamos fechar os olhos para a situação", diz Lisianne.

      Algum tempo depois da primeira coleta, a iniciativa brasileira começou a interagir com outros grupos de plogging em todo o mundo e, desde então, eles não param de ganhar adeptos e crescer.

      Tempo para pensar, a chave para criar o Plogging Bahía

      Em 2020, no início da pandemia da Covid-19, Silvano Polla, professor de educação física e salva-vidas da Cruz Vermelha argentina, já estava familiarizado com o que era o plogging, mas ainda não havia praticado a modalidade porque não tinha tempo suficiente.

      Foi nessa época que um colega o convidou a recolher latas de alumínio para arrecadar fundos para uma fundação. "Comecei a investigar e percebi a amplitude do que estávamos fazendo. Não era apenas correr e coletar, havia muito mais do que latas. A partir daí, tornou-se um hábito e encontramos pessoas que estavam na mesma sintonia que a gente", lembra Polla.

      "A pandemia me deu tempo para pensar e refletir". Sempre vi esses resíduos jogados na natureza e sei que é errado, mas nunca fiz nada a respeito", diz o professor de educação física. 

      Então, ele fundou Plogging Bahía, grupo dedicado ao tema, e transformou seu estilo de vida. “Eu costumava consumir muito plástico e jogá-lo fora, tentei reduzi-lo, comecei a separar o lixo e agora tento fazer com que tudo o que consumo seja reciclável. O plogging me fez mudar tudo".

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        À esquerda: No alto:

        Pessoas que praticam plogging podem encontrar detritos em quase qualquer lugar.

        À direita: Acima:

        Silvano Polla, criador do Plogging Bahía, cata lixo em praia argentina.

        fotos de Plogging Bahía

        Do Brasil, Lisianne Maia Gama comenta  e concorda com as mudanças sentidas por Elisa Apátiga e Silvano Polla: o plástico é o lixo mais comumente encontrado – em suas mais variadas formas, tamanhos e cores, tais como em garrafas PET, cordas, bitucas de cigarro, sacos plásticos, palhinhas, entre outros.

        plogging não é a solução, mas é a inspiração para transformar o problema

        No fim das contas, ao praticar este esporte, as pessoas não apenas se exercitam e cuidam da saúde. Elas também compartilham, visualizam o problema do desperdício, mudam hábitos e inspiram outras.

        No entanto, o esporte – por si só – não é o grande salvador. "A solução não é se levantar todos os dias, fazer o plogging e remover o lixo. A solução é parar de gerá-lo", destaca Apátiga. "Ele (o esporte) serve para que as pessoas possam ver que há um problema com o lixo e tomar consciência disso", opina Héctor Gómez.

        Silvano Polla insiste que há um “antes” e um “depois” de se fazer este esporte. "Além da atividade, algo permanece: um novo hábito em casa, outra forma de comer ou o tratamento do lixo".

        Lisianne Maia Gama, fundadora da Plogging Porto Seguro, acrescenta que esta prática tem um impacto socioambiental positivo. "É um ato de cidadania que dá prazer à alma e um sabor de missão cumprida."

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