Síndrome de burnout: sintomas, tratamentos e como é enfrentar a doença

Desde janeiro de 2022, a OMS reconhece os efeitos do estresse crônico causado pelo ritmo de trabalho como parte de uma doença ocupacional que apresenta sintomas físicos e emocionais. Saiba como é conviver com o burnout

A síndrome de burnout é multifatorial, podendo estar relacionada tanto com a forma como a pessoa conduz suas tarefas quanto com as condições de trabalho. 

Foto de Rebecca Hale
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 21 de nov. de 2022, 10:18 BRT

“Acordei chorando, com uma tontura absurda e sem forças. Não conseguia subir as escadas da minha casa”, disse, em entrevista à reportagem, a jornalista Bruna Fioretti, 40 anos, diagnosticada com a síndrome de burnout, uma doença ocupacional cuja definição foi recentemente revisada pelos países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Conhecer quem tenha passado por uma experiência com o burnout não é mais uma raridade. Desde janeiro de 2022, com a inclusão pela OMS da síndrome de burnout na 11ª edição da classificação internacional de doenças (CID-11), a condição passou de ser descrita não apenas como um “estado de exaustão vital” – que poderia ser relacionado com questões pessoais ou da família –, mas também como um esgotamento fruto do estresse crônico derivado do trabalho.  

Bruna está em tratamento para acabar de vez com os efeitos da síndrome, que começou com sintomas que podem facilmente ser confundidos com ansiedade, como uma pressão constante na cabeça, sono excessivo e até dores no corpo. Enquanto avança para se sentir bem outra vez, compartilha a experiência de ter passado pela parte mais forte do burnout nas redes sociais

“O trabalho afastou essa pessoa da vida social, então, ela precisa retomar isso. Voltar com atividades físicas, voltar a passar tempo com amigos e família, dedicar tempo a hobbies e atividades que geram prazer.”

por Eduardo Perin
psiquiatra especialista em terapia cognitivo-comportamental

Como jornalista, seu intuito é alertar outras pessoas sobre o problema. Ao compartilhar sua experiência, percebeu que não está sozinha no diagnóstico.  “Foi assustadora a quantidade de mensagens que recebi de pessoas que se identificaram comigo”, conta ela. No Brasil, dados  da  Associação  Internacional  de  Manejo  do  Estresse  (Isma, na sigla em inglês),  divulgados  pela  Associação Nacional de Medicina do Trabalho, estimam que 72% das pessoas em idade produtiva sofrem com estresse no trabalho. Dessas, 32% têm a síndrome  de burnout.

Síndrome de burnout: como identificar?

Segundo Eduardo Perin, psiquiatra especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), desde a inclusão da síndrome na classificação internacional de doenças, mais pessoas têm procurado atendimento psicológico e psiquiátrico com problemas relacionados ao estresse vindo do trabalho. 

“Está se falando mais sobre o burnout, então, muitas pessoas já chegam na clínica com essa suspeita. Mas nem sempre a relação dos sintomas com o trabalho está clara para a pessoa", relata o médico. "Muitos surgem com sintomas de ansiedade ou depressão e, quando se investiga o porquê desses sintomas, todos estão ligados à profissão.” 

Para Organização Mundial da Saúde, são três os principais indícios de burnout: 

• Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia;  

• Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; 

• Redução da eficácia profissional.

No caso de Bruna, ela conta que seu diagnóstico não foi simples. O corpo vinha dando alertas há um ano, indicando que o ritmo de trabalho intenso estava cobrando seu preço. “Em outubro do ano passado eu fiquei realmente mal. Foi uma época em que eu estava trabalhando demais e não parei. Até que simplesmente travei”, conta a jornalista. 

Quais são os sintomas do burnout?

Sintomas como pressão frequente na cabeça, sono excessivo ou insônia, falta de concentração, tontura, visão embaçada e até mudanças na voz são alguns dos sinais que a jornalista experienciou. 

De acordo com Perin, os sinais relatados por Bruna entram nos impactos físicos causados pela síndrome. Além desses, Perin menciona taquicardia, falta de ar, tremores, sudorese, dor na barriga ou no peito, desmaios, sensação de formigamento pelo corpo e ondas de frio e de calor. Mesmo assim, todos esses sintomas ainda não englobam a totalidade dos efeitos da doença. 

Por ser uma enfermidade ligada ao estresse, efeitos psicológicos também podem ser observados. Perin explica que, por conta da sobrecarga, a pessoa começa a ficar mais irritada, desenvolvendo uma certa aversão ao trabalho e aos colegas e outros funcionários. Também há sintomas depressivos, como desânimo, falta de vontade e um cansaço exagerado. 

“Parecia uma depressão. Eu não queria sair da cama, não queria fazer nada, não conseguia me concentrar nem em filmes ou livros. Parecia que eu estava constantemente dopada, até minha voz ficou mais pastosa e lenta”, diz Bruna Fioretti. “Mas, por já ter tido episódios depressivos no passado, eu sentia que era diferente porque estava muito mais exausta.” 

Para Perin, a expressão “burnout”, que vem do inglês e significa “queimar por inteiro”, reflete bem o que os pacientes sentem. “A pessoa que sofre com esse problema tem, exatamente, essa sensação, como se todas as energias tivessem se esgotado”, complementa.  

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    Em janeiro de 2022, a condição passou de ser descrita não apenas como um “estado de exaustão vital” – que poderia ser relacionado com questões pessoais ou da família – mas também como um esgotamento fruto do estresse crônico derivado do trabalho. 

    Foto de Cory Richards

    O que causa o burnout?

    Por ser uma doença ocupacional, segundo definição da OMS, as causas da Síndrome de burnout estão, necessariamente, ligadas ao trabalho. Mas não há um único motivo para uma pessoa desenvolver a síndrome. 

    Conforme explica Fabiano de Abreu Rodrigues, doutor em psicologia e neurociências, membro da Sociedade Brasileira de Neurociências, o burnout é multifatorial, podendo estar relacionado tanto com a forma como a pessoa conduz suas tarefas quanto com as condições de trabalho

    “Às vezes, a própria pessoa extrapola o limite de seu organismo em busca da alta produtividade. Algo que é muito cobrado atualmente é ser sempre produtivo”, diz Rodrigues. 

    Para ele, o burnout é comum em pessoas que colocam metas inalcançáveis no seu dia a dia. “Quando um indivíduo passa  horas  e  horas  realizando   tarefas  e,  ao  final  do  dia,  não  consegue  atingir  tal  meta, pode apresentar frustração e estresse, indisposição para cuidar da saúde, sensação de improdutividade e cansaço crônico”, explica o especialista em neurociência.

    Já segundo Perin, esse comportamento, por vezes, é acompanhado de ambientes de trabalho insalubres que potencializam a sensação de urgência e frustração do funcionário. “Muitas vezes, o burnout está relacionado com casos de assédio moral dentro da empresa, um chefe abusivo, ambientes com muitas discussões e cobranças para que os funcionários produzam de determinada maneira”, diz o psiquiatra. 

    No caso de Bruna, por fazer acompanhamento psicológico há muito tempo, ela conseguiu relacionar os sintomas que tinha a seu ritmo de trabalho. “Eu me acostumei a trabalhar demais e achava isso normal, afinal eu sou uma pessoa naturalmente agitada. Mas eu só vivia para e pelo trabalho, anulando todo o resto”, conta a jornalista. 

    Outra questão que influencia na exaustão profissional, segundo Rodrigues, é exatamente esse processo de se anular. “Para dar conta do trabalho, muitas vezes a pessoa se afasta da família, dos amigos e perde a capacidade de se desligar das obrigações, das metas. E isso causa um acúmulo de estresse que não é aliviado.” 

    Quem está mais propenso a ter burnout?

    Em um artigo sobre a síndrome, publicado na revista científica brasileira Saúde e Tecnologia (Recisatec), em novembro de 2021, Rodrigues afirma que a condição é identificada com mais frequência em certas profissões, principalmente as que envolvem o  contato  com  outras  pessoas,  tais  como  médicos, enfermeiros, cuidadores e professores.

    “Isso acontece por serem trabalhos que requerem que os indivíduos lidem com constante pressão. Por exemplo, durante a pandemia de Covid-19, casos de burnout em profissionais da saúde cresceram absurdamente”, relata o neurocientista. 

    Entretanto, é possível traçar um perfil geral das pessoas mais propensas a desenvolverem o burnout. Segundo Perin, além da profissão, pessoas com histórico de ansiedade ou depressão podem ser mais afetadas pelo estresse ocupacional. Outro recorte que pode ser feito é em relação à idade e ao gênero.

    O burnout afeta os mais jovens e as mulheres

    De acordo com a experiência clínica do psiquiatra, a faixa etária mais comum nos casos de burnout é a de 25 a 40 anos, idades em que as pessoas são mais ativas no mercado de trabalho. “As taxas de burnout são menores em pessoas um pouco mais velhas, talvez por aprenderem a lidar com o trabalho de uma forma um pouco menos exigente”, diz o médico. 

    Em relação ao gênero, Perin observa mais casos de burnout em mulheres, o que pode ser explicado por vários fatores. “O primeiro é que as mulheres, em geral, buscam mais ajuda médica do que os homens, principalmente na área da psicologia e psiquiatria. Outro fator é o machismo”, afirma Perin. 

    “As mulheres, muitas vezes, são as únicas responsáveis pelos cuidados da casa e dos filhos. Então, além da sobrecarga de trabalho, há também a sobrecarga das tarefas domésticas, com pouco espaço na rotina para o lazer e relaxamento", explica o psiquiatra. “No geral, ainda faltam dados para afirmar com certeza que mulheres têm mais burnout que homens. Mas esses fatores não podem ser ignorados”, complementa. 

    Bruna conta que, após seu diagnóstico, a recomendação médica foi para interromper suas atividades de trabalho. Algo que ela achou mais fácil na ideia do que na execução. 

    “Eu tentei ‘adiar o burnout’, como se eu tivesse qualquer controle sobre meu cérebro e, ao invés de diminuir o ritmo, eu aumentei”, relata Bruna. “Eu só comecei a melhorar quando me permiti mudar de ritmo, mudar de vida”, acrescenta. 

    O afastamento profissional é a principal orientação para tratar casos de burnout, diz Perin, mas muitos sentem dificuldade em realizá-lo. “Uma característica de pessoas com burnout é apresentar uma hiper responsabilidade com o trabalho. Pensam ‘como eu posso largar o trabalho agora?’, como se elas fossem as únicas responsáveis pelo funcionamento da empresa ou do setor”, diz Perin. 

    Além disso, Perin sugere que a pessoa em tratamento de burnout deve, por recomendação médica, voltar às atividades de lazer. “O trabalho afastou essa pessoa da vida social, então, ela precisa retomar isso. Voltar com atividades físicas, voltar a passar tempo com amigos e família, dedicar tempo a hobbies e atividades que geram prazer.” 

    Hoje, Bruna ainda não voltou completamente ao trabalho, mas se sente muito melhor e tenta fazer tudo que seus médicos recomendaram enquanto inspira outras pessoas a cuidarem de seus ritmos. 

    “Compartilho minha história para alertar pessoas que talvez percebam que estão entrando nesse processo de exaustão”, afirma. Ela ressalta que “cuidar da saúde não deve ser esquecido ou deixado de lado enquanto se busca crescer na carreira”. Sua experiência mostra que é possível vida pessoal e profissional caminharem lado a lado.

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