Crise climática: “ações urgentes” são necessárias para garantir futuro habitável na Terra, alerta IPCC
Em documento publicado na segunda-feira (20), especialistas indicam que se as emissões de gases de efeito estufa não forem limitadas, os impactos podem piorar, principalmente nas regiões das Américas Central e do Sul.

Metano, um potente gás de efeito estufa, está borbulhando do solo descongelado abaixo de um lago em
Fairbanks, Alasca (EUA).
O mais recente posicionamento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) adverte que o ritmo e escala das medidas tomadas atualmente para barrar as mudanças climáticas são insuficientes. O alerta foi divulgado nesta segunda-feira, 20 de março, em um novo Relatório Síntese do ciclo de avaliações sobre o aquecimento global provocado pela ação humana do IPCC.
O documento não traz novos estudos, mas sim um resumo final do conteúdo dos seis últimos relatórios elaborados pelo painel. “A integração de uma ação climática efetiva e equitativa não apenas reduzirá as perdas e danos à natureza e às pessoas, mas também trará maiores benefícios", afirmou Hoesung Lee, presidente do IPCC, em comunicado divulgado para a imprensa. Em outras palavras, ainda é possível para a humanidade adaptar-se às mudanças climáticas – mas o prazo é curto.
Segundo o relatório, existem diversas opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa atualmente disponíveis. Entretanto, é necessário urgência. “O relatório destaca que é urgente tomar medidas mais ambiciosas e que, se agirmos agora, ainda é possível garantir um futuro sustentável e habitável para todos”, afirmou o presidente.
As alterações climáticas já estão acontecendo
O IPCC reforça que os principais causadores do aquecimento global são as atividades humanas, principalmente as que emitem gases de efeito estufa (GEE). O painel destaca que a temperatura da superfície global aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período nos últimos 2 mil anos.
Como exemplo, o painel aponta que em 2019 as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) eram mais altas do que em qualquer outro momento do planeta em pelo menos 2 milhões de anos. Já as concentrações de metano e óxido nitroso, outros GEE importantes, foram mais altas do que em qualquer outro período em pelo menos 800 mil anos.
A queima de combustíveis fósseis e o uso desigual e insustentável da energia e da terra são os principais culpados apontados pelo documento, que alerta que o aquecimento global já atingiu 1,1°C acima dos níveis pré-industriais.
Mudanças climáticas piores nas Américas Central e do Sul, onde está o Brasil
Esse cenário, de acordo com o painel, já resulta no aumento de eventos climáticos e meteorológicos extremos em todas as regiões do mundo. Isso, por sua vez, leva a efeitos adversos e generalizados que causam perdas e danos relacionados à natureza e à humanidade.
No relatório publicado na segunda-feira, os especialistas também apontam que se as emissões de gases de efeito estufa não forem limitadas, elas podem piorar e ter um impacto particular sobre as Américas Central e do Sul.
Os dados apontam, especificamente, que entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas vivem em contextos altamente vulneráveis às consequências climáticas, como a elevação do nível do mar, ondas de calor, chuvas intensas, secas e ciclones tropicais.
Além das perdas humanas diretas, estes eventos extremos também expõem milhões de pessoas a uma grave insegurança alimentar e reduz a segurança da água. O IPCC reforça que as comunidades mais afetadas são as que historicamente menos contribuíram para a mudança climática.

Vapor e fumaça sobem de torres de resfriamento e chaminés em uma usina de energia, Juliette, Geórgia (EUA).
Crise climática: perda de fauna se aproxima da irreversibilidade e novas enfermidades devem surgir
Já em relação aos danos ambientais, o painel indica uma perda global de espécies e que impactos em alguns ecossistemas estão se aproximando da irreversibilidade. É o caso do derretimento das geleiras e o descongelamento do permafrost em ecossistemas de montanha e ártico.
Fora isso, a crise climática também influencia no surgimento de doenças impactadas pelo clima, como as transmitidas por alimentos e água contaminados ou por vetores. Aumento de casos de transtornos mentais relacionados com o aumento da temperatura, traumas de eventos extremos e perda de meios de subsistência e cultura também são consequências preocupantes que já podem ser observadas.
O relatório síntese também volta a alertar que as mudanças climáticas afetam a economia de nações e a subsistência de muitas pessoas através da destruição de infraestrutura, perdas humanas e diminuição da renda média. Além disso, diz o IPCC, eventos extremos também geram milhões de refugiados do clima, que são obrigados a migrar em busca de um cenário melhor.
Medidas urgentes são necessárias para garantir um futuro habitável
Nesse contexto, o relatório síntese ressalta que reduções drásticas e rápidas nas emissões de gases de efeito estufa são necessárias em todos os setores socioeconômicos para controlar o aquecimento global. Os modelos que preveem um aumento de 1,5ºC a 2ºC na temperatura média global acima dos níveis pré-industriais envolvem atingir a neutralidade de carbono até 2050 e 2070, respectivamente.
Neste contexto, o IPCC alerta que alcançar um desenvolvimento resiliente ao clima torna-se cada vez mais difícil à medida que a temperatura global sobe. Por isso, as decisões tomadas nos próximos anos serão essenciais para determinar o futuro das próximas gerações.
"Uma ação climática eficaz é possível através de compromisso político, governança multinível bem alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias, e melhor acesso ao financiamento e à tecnologia”, diz o relatório das Nações Unidas.
Por exemplo, o painel menciona como medidas eficazes e necessárias: mais acesso à fontes de energia limpa; melhoria das culturas, gerenciamento e armazenamento de água, conservação da umidade do solo, irrigação, agroflorestação, adaptação baseada na comunidade, diversificação agrícola, abordagens de gerenciamento sustentável da terra, uso de princípios e práticas agroecológicos, e outras abordagens que trabalham com processos naturais.
Apesar de ressaltar a urgência com que as ações devem ser tomadas, a agência ambiental reconhece e algumas das principais barreiras à medidas de combate à crise climática, como: recursos limitados; falta de compromisso político, do setor privado e público; mobilização insuficiente de fundos (inclusive para pesquisa); fraco conhecimento sobre o clima; pesquisa limitada ou lenta, fraca aceitação da ciência e um fraco senso de urgência.
"As decisões e ações tomadas nesta década terão repercussões agora e nos próximos milhares de anos", conclui o relatório do IPCC.
