Perdemos Rodrigo Baleia, um amigo da National Geographic

O fotógrafo e ambientalista Rodrigo Baleia tinha o coração mole, generoso, e mantinha o humor e a irreverência mesmo diante dos assuntos duros.

Por Ronaldo Ribeiro
Publicado 5 de jun. de 2018, 17:55 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Lançado ao mar por navios de bandeiras diversas, o lixo vai dar, trazido pelas correntes, na costa baiana.
Foto de Rodrigo Baleia

Perdemos, durante o fechamento desta edição tão importante para o debate de uma questão ambiental, o lixo plástico, um amigo querido e combativo: o fotó-grafo gaúcho Rodrigo Baleia, de 46 anos.

Por uma dessas coincidências intrigantes, a primeira viagem que fizemos juntos para a revista, em 2005, foi jus-tamente para registrar o lixo marinho, sobretudo o plástico, que se acumulava ao longo das praias da costa norte da Bahia e era sistematicamente recolhido por abnegados ambientalistas locais, do movimento Praia Local, Lixo Global. Nós caminhamos por quilômetros de belas areias recolhendo garrafas e latas com rótulos do mundo todo. Com a gente, um time de quixotes, liderados pelo artista plástico Fabiano Barretto. Foi uma experiência memorável.

Baleia tinha o coração mole, generoso, e mantinha o humor e a irreverência mesmo diante dos assuntos duros, sobretudo a Amazônia, território onde sua fotografia militante prosperou, e o difícil mercado dos fotógrafos profissionais, o qual ele sempre contestou.

Retrato Rodrigo Baleia
Diversos temas da conservação envolviam o passional Rodrigo Baleia. Vai fazer muita falta.
Foto de Alice Mondin

E era, para nós, da revista – para os que seguem e os outros que já passaram e, assim como eu, viraram fãs do Baleia –, um garoto-propaganda voluntário da National Geographic, invariavelmente no campo usando o boné preto com o retângulo amarelo que tanto admirava, conforme mostra o retrato ao lado, feito por quem lhe sucede na arte e na atitude, a filha Alice, de 12 anos.

Sempre que surgia um novo lote de bonés na redação, eu lhe separava um. Dois dias antes do ataque cardíaco que o vitimou, conversamos pelo Facebook sobre assuntos banais, como escotismo e youtubers. E eu lhe avisei que tinha na gaveta uma nova peça, que seria dele assim que a gente se encontrasse de novo, em São Paulo ou Porto Alegre.

Não deu tempo. Que pena. Vai ficar para mim. Vou usá-lo por aí. Assim como toda esta edição, o boné será uma lembrança do eterno amigo Baleia.

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