No farol da praia mais extensa do mundo, a vida tem outro ritmo

Localizado no meio da praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, o farol do Albardão é um dos mais isolados do Brasil.

Por Júlio Viana
fotos de Mauricio Susin
Publicado 6 de set. de 2018, 18:09 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O farol do Albardão fica na praia do Casino, considerada pelo Guinness a praia mais extensa ...
O farol do Albardão fica na praia do Casino, considerada pelo Guinness a praia mais extensa do mundo, com 220 km.
Foto de Mauricio Susin

A 135 km da cidade de Rio Grande, no sul do país, fica um dos locais mais isolados do Brasil. Lá estão erguidos os 44 metros de concreto que constituem o farol do Albardão. A estrutura existe desde 1909 e foi criado para guiar os navegantes que chegavam pela costa sul do país, uma medida preventiva para diminuir o grande número de naufrágios que existia na região.

O prédio serve para orientar tanto aqueles que veem pelo oceano Atlântico quanto os que chegam pelas planícies litorâneas que rodeiam a Lagoa da Mangueira, do lado oeste. Uma ajuda mais que bem-vinda em vista do isolamento completo do lugar: a comunidade mais próxima, o Hermenegildo, fica a 70 km de distância do Albardão.

O farol, que opera à base de um gerador a diesel, é controlado por dois oficiais da marinha que permanecem por um período de 85 dias cada um na estrutura. “Nunca somos rendidos ao mesmo tempo, é sempre alternado para que possamos treinar quem vai assumir nossa posição”, explica o sargento Hélio Moreno, que serviu no Albardão de outubro de 2017 a janeiro de 2018.

Entre os afazeres dos oficiais está, além da manutenção do gerador e do farol em si, a limpeza constante das quatro casas de hóspedes que existem no local. “Aqui venta o tempo todo e sempre tem tempestade de areia. Precisamos ficar retirando resíduo sempre”, ele afirma.

Viajantes podem se hospeder lá, mas não dá para chegar de surpresa. É preciso entrar em contato com a marinha com antecedência. Uma vez aceita a solicitação, os oficiais a postos são avisados pelo rádio e recebem os turistas. “Há algum tempo atrás era bem solitário, mas com a popularização da rota entre turistas, tem quase sempre alguém chegando mesmo que seja para apenas visitar”, conta Moreno.

Além de marcar a proximidade com a fronteira entre Brasil e Uruguai, o Albardão também abriga uma grande diversidade de espécies da fauna e da flora litorânea. Devido ao fundo rochoso que existe no lugar, muitas algas e organismos marinhos podem se fixar na faixa costeira da região.

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    Interior do farol do Albardão.
    Foto de Mauricio Susin

    Por isso, o Ministério do Meio Ambiente indicou, em 2004, o Albardão como área prioritária para conservação. Mas desde 2008, quando uma proposta para a criação do Parque Nacional do Albardão foi enviada para o órgão responsável pelo assunto, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), nenhuma medida foi tomada. Questionado sobre a situação, o ICMBio respondeu por e-mail que desde 2017 uma consultoria externa foi contratada para subsidiar o órgão na criação do parque.

    Cenas de solidão

    Apesar da biodiversidade e da beleza peculiar da região, foi o isolamento que chamou a atenção do fotógrafo Mauricio Susin. Gaúcho de Porto Alegre, ele primeiro viajou até a cidade de Rio Grande. Lá, pegou uma carona na camionete do oceanólogo Lauro Barcellos, diretor do Museu Oceanográfico de Rio Grande e co-autor do livro Areias do Albardão, e os dois partiram no fotógrafo chamou de uma "mini-aventura".

    O caminho desde Rio Grande até o farol é feito todo pela praia, mas as inconstâncias do tempo podem virar a maré e inundar a faixa de areia em poucas horas, deixando os viajantes ilhados entre o mar e a lagoa. Por sorte, Susin não teve problemas com o clima, mas disse ter sofrido uma espécie de vertigem. "Tu vais te desligando dessa vida urbana, da poluição e dos pensamentos da rotina na cidade e vai entrando nessa paisagem surreal. Tu ficas 120 km sem ver nada nem ninguém", disse Susin. "Quando o farol surge no horizonte, parece uma miragem."

    O fotógrafo passou cinco dias acompanhando a rotina do sargento Moreno e do cabo Estevão de Souza, período suficiente para passar por uma experiência de autoconhecimento. "Tu ficas muito isolado da civilização em um ambiente meio lunar", disse Susin. "Esse isolamento é uma chance única de ter uma perspectiva dos marinheiros, do trabalho deles, daquele local e de mim mesmo."

    *Colaborou e supervisionou Miguel Vilela

    Luz do farol do Albardão ilumina a noite estrelada do Rio Grande do Sul.
    Foto de Mauricio Susin

    Veja mais do trabalho de Mauricio Susin em seu site e no Instagram.

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