Recorde: descoberta espécie de peixe que vive a 8 km de profundidade

Cientistas identificaram um tipo de peixe-caracol (Liparidae) na maior profundidade já registrada, na Fossa das Marianas. Espécies relacionadas já haviam sido filmadas, mas nunca coletadas.

Por Craig Welch
Publicado 7 de dez. de 2017, 15:03 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

É bonito, quase rosa, cerca de duas vezes maior que um charuto, com o corpo tão translúcido que de fora é possível ver seu fígado. E é o peixe capturado na maior profundidade da história.

Em 29 de novembro, cientistas documentaram oficialmente (em inglês) o novo peixe que habita a maior profundidade do mundo, Pseudoliparis swirei, um peixe-caracol pequeno e estranho, pego a 7 966 metros de profundidade na Fossa das Marianas – distância 1 km menor do que a altura do Monte Everest. A nova espécie da região escura e gelada, conhecida como zona hadal, foi a primeira capturada em 2014 e novamente no início de 2017, mas apenas agora foi descrita.

Apesar de a parte mais profunda do oceano estender-se por praticamente outros 3 quilômetros abaixo, até tímidos 11 mil metros, cientistas suspeitam que dificilmente encontrarão um peixe que viva em tamanha profundidade.

Isso porque a pressão nesse nível é tão enorme que, 8 200 metros abaixo, peixes talvez sejam quimicamente incapazes de resistir aos efeitos desestabilizadores nas proteínas.

Esta imagem feita por tomografia computadorizada mostra o esqueleto de um peixe-caracol que agora é a espécie com nome oficial que habita a maior profundidade do oceano.
Foto de Adam Summers, Friday Harbor Lab, Universidade de Washington

Enquanto uma gama de animais pode prosperar nas profundezas – foraminifera, camarão decapoda, pepino-do-mar, micróbios –, nenhum peixe foi encontrado no trecho mais baixo do oceano. Em 2014, câmeras de trilha com isca foram lançadas 14 vezes para as regiões mais profundas pelo Oceano Pacífico, e retornaram sem nunca terem capturado um peixe. As duas principais empreitadas de pesca em águas profundas – uma feita por pesquisadores dinamarqueses, a outra por soviéticos, nos anos 1950– lançaram redes 134 vezes até profundidades superiores a 6 000 metros. Nenhum peixe jamais apareceu em um reboque a 760 metros abaixo da superfície.

“Há claras limitações de vida nessas fossas”, diz Mackenzie Gerringer, pós-doutor e membro do Friday Harbor Laboratories, da Universidade de Washington. Presume-se que peixes-caracol aguentem pressões equivalentes ao peso de 1 600 elefantes. “Eles possuem evoluções de adaptação a essa pressão, para manter suas enzimas em funcionamento e suas membranas em movimento.”

Evidentemente, cientistas admitem que, um dia, possam ser provados do contrário.

A VIDA SOB PRESSÃO EXTREMA

A nova espécie, Pseudoliparis swirei, é nomeada por um oficial do HMS Challenger, a expedição britânica dos anos 1870 que descobriu milhares de novas espécies oceânicas, além de liderar a descoberta inicial da fossa. Herbert Swire, o subtenente oficial do Challenger, publicou diários dessa viagem. “Nomeamos o peixe em homenagem a ele como reconhecimento às tripulações que serviram em embarcações de pesquisa oceanográfica”, diz Gerringer. “Muitas pessoas são necessárias para manter um navio em movimento, e queremos sinceramente agradecê-los.”

 É quase certo que a espécie seja endêmica na fossa, e aparentemente é abundante – cientistas observaram vários indivíduos por meio de câmeras conduzidas por veículos autônomos subaquáticos em 2014. Seus ovos são peculiarmente grandes – quase 1 centímetro de largura – e, baseado na análise minuciosa dos indivíduos capturados pelos cientistas, não falta alimento para esses peixes-caracol. Dentro das barrigas, Gerringer encontrou centenas de pequenos crustáceos em forma de tatuzinhos-de-jardim.

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    Este peixe-caracol tem cerca de duas vezes o tamanho de um charuto, mas ainda sim consegue suportar uma pressão equivalente a 1,6 mil elefantes sobre sua cabeça.
    Foto de Mackenzie Gerringer

    E esse peixes-caracol talvez não se pareça com o que a maioria das pessoas pensa quando imagina criaturas de baixíssimas profundezas.

    “O público normalmente pensa no xarroco ou no peixe-víbora”, o peixe preto de mandíbula monstruosa e lanternas pendentes sobre a cabeça, normalmente encontrado alguns milhares de metros abaixo da superfície, diz Gerringer. “Quando se chega a essa profundidade, os peixes assumem uma forma muito distinta. Eles não têm escamas, dentes grandes e não são bioluminescentes – é disso que sabemos.”

    A incerteza, evidentemente, está relacionada ao território. Essa é apenas uma das duas espécies de peixes-coral – existem mais de 350 espécies de peixes-coral conhecidas globalmente – captadas em vídeo por tal profundidade durante expedições recentes à fossa. Cientistas em diversas expedições capturaram 37 indivíduos de Pseudoliparis swirei. Eles também filmaram um a 8 178 metros de profundidade.

    Mas eles ainda não pegaram um único espécime do outro peixe, que foi filmado na mesma profundidade. Este aparece na recém-lançada série documental Blue Planet 2 (em inglês), da BBC. Ele tem um corpo tão delicado que certa vez um cientista o comparou a um “lenço de papel sendo arrastado pela água.” Ainda permanece como uma espécie ainda não descrita e sem nome oficial. Cientistas o têm chamado de “peixe-caracol etéreo”.

    “E não é que não o tenhamos procurado”, diz Gerringer.

    CONEXÕES COM A SUPERFÍCIE

    Quando se trata de entender a vida nas profundezas, “ainda estamos na fase de ‘descobrir quem está lá embaixo’”, diz Gerringer.

    Ainda há muito sobre o oceano profundo que simplesmente por enquanto não sabemos.

    “Existem fossas por todo o Anel de Fogo do Pacífico, mas não sabemos quão similares ou quão conectadas elas são”, diz Gerringer. “Não sabemos quão próximas estão em relação ao meio ambiente de cima.”

    Mesmo assim, não é que não tenhamos deixado a nossa marca. Até essas valas mal compreendidas não estão livres da nossa influência. Recentemente, cientistas descobriram quantidades surpreendentemente altas de poluentes orgânicos persistentes (POPs) em crustáceos retirados das mais profundas partes da fossa. É quase certo de que se tratam de produtos da degradação de pedaços de plástico.

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