Misteriosas cabeças humanas empaladas há 8 mil anos intrigam cientistas

Para arqueólogos, esse fenômeno assustador era inédito na Escandinávia na época do Mesolítico.

Por Elaina Zachos
Publicado 22 de fev. de 2018, 12:12 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Em 2009, uma nova ponte ferroviária estava programada para ser construída no sul da Suécia, no lago Motala Ström. Mas arqueólogos começaram a encontrar artefatos de milhares de anos nesse local. Durante os dias seguintes, ossos de animais, ferramentas feitas com chifres, estacas de madeira e pedaços de crânios humanos foram encontrados nos pântanos dos sedimentos limosos.

Os restos pertenceram aos caçadores-coletores do Mesolítico, um grupo que existiu por volta de 8 mil anos atrás, entre o Paleolítico e o Neolítico. Essas sociedades são conhecidas por mostrarem respeito à integridade corporal de seus mortos. Quer dizer, até agora.

Em 2011, Frerik Hallgren, da Fundação Herança Cultura, liderou um projeto arqueológico no sítio de escavação de Kanaljorden, perto do lago Motala Ström. Quando a equipe começou a escavar o sítio, eles descobriram o primeiro exemplo conhecido de caçadores-coletores do Mesolítico que colocavam crânios humanos em estacas.

“Esperávamos encontrar ossos de animais, não um complexo tão rico”, disse Hellgren. “Isso é muito impressionante.”

As descobertas foram publicadas essa semana em um estudo na revista Antiquity, com o sábio título “Mantenha a sua cabeça ereta”.

Cabeça ereta

No sítio de escavação de Kanaljorden, os crânios de 8 mil anos de nove adultos e de uma criança foram encontrados posicionados deliberadamente sobre uma camada densa de pedras grandes. Os crânios não tinham ossos da mandíbula e dois deles estavam bem preservados, com estacas de madeira removidas de dentro deles. As estacas foram inseridas pelas grandes entradas ovais na parte debaixo dos crânios, sugerindo que eles foram montados anteriormente para serem colocados no lago. Ainda tinha uma estaca em um dos crânios.

Ossos de animais também foram organizados ao redor dos crânios, separados de acordo com o tipo de criatura a quem eles pertenciam.

“De alguma forma, eles parecem ter diferenciado os humanos dos animais, mas também organizaram os animais em diferentes categorias”, disse Hallgren.

Dois dos crânios humanos eram de mulheres, quatro de homens e dois pertenceram a pessoas com idade entre 20 e 35 anos. Os pesquisadores também encontraram o esqueleto quase inteiro de uma criança. Os ossos pequenos indicam que o indivíduo era natimorto ou um bebê que morreu logo após o nascimento.

Os crânios das vítimas mostram feridas claras. Há uma lesão produzida por ação contundente no topo das cabeças e elas também parecem ter outras feridas que mostram sinais de cura. Os crânios das mulheres têm feridas atrás e do lado direito das cabeças e os crânios dos homens têm um único golpe no topo da cabeça e na face.

“Essas não são pessoas que tiveram as suas cabeças esmagadas recentemente e depois colocadas em exibição,” disse Hallgren. “Mais da metade delas tiveram essa lesão curada na cabeça.”

Os pesquisadores ainda não sabem quais armas foram usadas para causar esse dano e as feridas não podem ser diretamente relacionadas com a causa da morte. As análises de DNA estão sendo feitas, mas eles descobriram que dois dos homens eram parentes.

“Provavelmente, eles não são irmãos, mas podem ser primos ou parentes mais distante”, disse Hallgren.

Sabemos que a equipe descobriu 400 pedaços de estacas de madeira, algumas delas foram usadas para montarem objetos que estavam caídos há muito tempo. No entanto, não sabemos as razões dessa disposição.

Em exibição

A equipe propõe algumas ideias diferentes para explicar o porquê de os crânios terem sidos montados. Parece que eles foram colocados deliberadamente em exibição e é provável que tenham sido enterrados em outro lugar primeiro. O cemitério é pequeno e, uma vez que esse é o primeiro caso desse tipo de sociedade dos caçadores-coletores do Mesolítico, não pode ser comparado a outros locais.

“Não há paralelos próximos”, disse Hallgren. “Estamos também trabalhando para situar esse sítio no contexto arqueólogo local e regional.”

Outras escavações mostraram que os caçadores-coletores do Mesolítico geralmente mostravam respeito por seus mortos, e apenas em períodos posteriores na história, que grupos começaram a ser conhecidos por decapitar inimigos.

“Não temos nenhuma evidência direta de decapitação”, escreveu a co-autora Sara Gummesson, da Universidade de Estocolmo, em e-mail à National Geographic. “É mais provável que os crânios tenham sido separados dos corpos durante a decomposição.”

A lesão produzida por ação contundente nos crânios pode ter sido causada por violência entre as pessoas, sequestro ou outro motivo. Também é possível, apesar de improvável, que as feridas tenham sido causadas por acidente.

Uma vez que os crânios dos homens e das mulheres mostram diferentes sinais de lesões, a violência pode estar relacionada com o gênero. Pode ter sido causada por uma violência doméstica, durante ataques e conflitos, ou devido a algum tipo de prática cultural. A exibição das cabeças também pode ser um ato funerário, que pretendia honrar os membros da comunidade local. Hallgren diz que os crânios também podem ser troféus, embora pense que isso seja improvável.

Mais pesquisas estão sendo feitas para resolver alguns dos mistérios sobre esse cemitério. Os pesquisadores estão escavando também pântanos para ver se há alguma similaridade. (Saiba mais sobre as múmias dessa região.)

“Há muitos aspectos que poderiam ser discutidos em relação a essas descobertas”, escreveu Gummesson, “e eu acredito que precisamos manter a cabeça aberta para os novos resultados que teremos com a continuação do trabalho.”

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