8 filhotes de leão mortos por suposto envenenamento em Uganda

O envenenamento é uma grave ameaça à sobrevivência dos leões africanos. Nos últimos 75 anos, o continente perdeu 90% desses animais, após maior contato deles com os humanos.

Por Jani Actman, Rachael Bale
Publicado 17 de abr. de 2018, 11:52 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um dos filhotes de leão que morreram envenenados no Parque Nacional Queen Elizabeth
Este filhote é um dos oito que morreram esta semana no Parque Nacional Queen Elizabeth, provavelmente envenenado.
Foto de Alexander Braczkowski

Foram encontrados 11 leões mortos por suspeita de envenenamento no Parque Nacional Queen Elizabeth, no sudoeste de Uganda, no último dia 10 de abril. Os leões mortos, oito deles filhotes e as outras três leoas adultas, faziam parte de uma alcateia que também incluía três machos.

A alcateia tinha sido filmada junto com outros leões no parque para um programa de televisão focado em conservação, mostrando o hábito deles de escalar e ficar nos galhos das árvores. Este comportamento incomum atraiu visitantes para o parque, ansiosos em assistir as grandes acrobacias dos felinos. A maioria dos leões não sobe em árvores, embora outra alcateia no parque agrade a multidão escalando figueiras, e outros leões que escalam árvores também já tenham sido vistos na África do Sul.

Alex Braczkowski, explorador da National Geographic que tem pesquisado e filmado os leões escaladores da Uganda, estava em Las Vegas para uma convenção fotográfica quando seu assistente ligou para ele com a notícia.

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    Foto de Jimmy Kisembo

    “Eu não aguentei e comecei a chorar”, diz Braczkowski, que mora em Durban, na África do Sul. "Eu me apeguei a eles porque eu os seguia todos os dias em um veículo quando fazia as filmagens."

    Jimmy Kisembo, guarda florestal da Wildlife Authority e monitor de leões, conduziu uma equipe que descobriu algumas das carcaças, várias das quais foram limpas por hienas. "Eu fiquei muito chateado", diz ele. “Todos no local choraram". Mas, ele acrescenta, eles estão trabalhando para descobrir como proteger os leões restantes.

    Inseticida

    As carcaças e ossos, descobertos perto de uma vila de pescadores chamada de Hamkungu, foram enviados para uma cidade regional, Mweya, para testes, diz Braczkowski.

    Ele suspeita de que os leões foram envenenados com aldicarbe, um inseticida mais conhecido como Temik, que ele diz ser barato e prontamente disponível. O aldicarbe é um carbamato que funciona impedindo que determinada enzima destrua as substâncias químicas que transmitem os impulsos nervosos. O acúmulo dessa substância nas sinapses nervosas pode causar vômitos, aperto no peito, dificuldade para respirar e morte. A morte geralmente é causada por sufocamento.

    Jimmy Kisembo, oficial da Uganda Wildlife Authority, observa uma leoa. Ela também foi morta por suposto envenenamento.
    Foto de Alexander Braczkowski

    A Uganda Wildlife Authority acredita que os leões foram envenenados em retaliação por matar o gado dos aldeões. Mas, de acordo com Brackowski, ainda não há suspeitos. Ele está em contato com as autoridades do parque.

    O aldicarbe tem sido usado para envenenar animais selvagens e domésticos. Ladrões na África do Sul usam-no para envenenar cães para que não latam, e há relatos de que ele é usado para envenenar rinocerontes, abutres, leopardos e leões.

    Carcaça contaminada

    O envenenamento intencional da vida selvagem não é incomum na África oriental, pois pastores de gado e grandes carnívoros, como leões, crescentemente entram em contato com as pessoas. Em 2015, três membros da famosa alcateia de Marsh, no Quênia, morreram quando comeram a carne de uma vaca cuja carcaça havia sido contaminada com pesticidas. O envenenamento foi provavelmente uma retaliação contra os leões por matar as vacas dos pastores. Onze abutres também morreram depois de devorar a carcaça.

    Dois dos oito filhotes que morreram descansam em uma árvore. A alcateia era conhecida por ficar em árvores, tornando-se um atrativo para os turistas.
    Foto de Alexander Braczkowski

    Existem algumas aldeias de pescadores dentro dos limites do Parque Nacional Queen Elizabeth. Em uma delas, Hanjungu, os donos de gado às vezes deixam seus animais irem além dos limites da vila, onde a pastagem é melhor. Os leões da região veem a presa fácil caminhando diretamente para seu território e atacam.

    Na última contagem, em 2008, o parque tinha cerca de 120 leões, mas Braczkowski, que também está pesquisando a população, diz que ele terá números atualizados em breve.

    Em Hamkungu, um veterinário chamado Ludwig Seifert dirige o Programa de Grandes Carnívoros de Uganda, que faz pesquisa e monitoramento da vida selvagem. Também realiza programas de conservação baseados na comunidade que buscam, entre outras coisas, compensar os pastores, em valor de mercado, por quaisquer vacas mortas por predadores.

    Risco contínuo

    Braczkowski diz que quatro leões no parque Queen Elizabeth morreram envenenados em 2017, e ele teme que, se as mortes continuarem no ritmo atual, o parque fique sem leões daqui a cinco anos.

    Uma das leoas olha além de seu poleiro. Como a maioria das leoas fêmeas tem uma ninhada de crias a cada ano, contribuindo assim para a população em geral, a perda de uma fêmea reprodutora é mais devastadora do que a perda de um macho.
    Foto de Alexander Braczkowski

    Autoridades do parque planejam adotar uma postura mais dura contra o gado que pastoreia no parque e estão considerando trazer leoas adultas de outro país para incentivar a reprodução e aumentar os números.

    Os leões da África diminuíram 90% durante os últimos 75 anos como resultado da perda de seu habitat e maior contato com humanos, de acordo com a Iniciativa de Grandes Felinos da National Geographic Society.

    Os leões podem se reproduzir rapidamente, e o ecossistema do Parque Nacional Queen Elizabeth pode ajudá-los, diz Braczkowski. “O habitat ainda está lá. As presas ainda estão lá. Ainda há esperança".

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