Supermães do oceano: recuperação de elefantes-marinhos deve-se a esforço brutal das fêmeas

Quase extintos devido à caça no início do século 20, a espécie está se recuperando, e essas mães formidáveis podem ajudar a explicar o porquê.

Por Carrie Arnold
Publicado 2 de out. de 2019, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma elefante-marinho-do-norte se aconchega com seu filhote.
Uma elefante-marinho-do-norte se aconchega com seu filhote.
Foto de Marc Moritsch, Nat Geo Image Collection

Todo mês de dezembro, mais de 3 mil elefantes-marinhos-do-norte se arrastam para fora das águas geladas do Pacífico para a costa do Parque Estadual do Año Nuevo, no norte da Califórnia, EUA.

Para as mães, é uma corrida contra o tempo. Os animais de 680 quilos têm apenas um mês para dar à luz, amamentar seus filhotes e fazer o desmame, antes de voltarem para o oceano para se alimentar e recuperar suas forças.

É um estilo de vida extremamente brutal, com muitas fêmeas gerando apenas poucos filhotes antes de morrerem. No entanto, de acordo com uma nova análise de meio século de dados sobre mais de 7,7 mil elefantes-marinhos-do-norte, apenas uma pequena porção das longevas “supermães” são responsáveis pela maioria dos filhotes de uma colônia. Algumas dessas mães criaram 17 filhotes em seus 23 anos de vida.

Essas supermães começam a ter bebês um pouco depois da idade média de quatro anos, o que as deixa maiores, mais saudáveis e mais experientes, e seus bebês, por sua vez, são robustos e mais propensos a terem seus próprios filhotes.

“Isso foi uma surpresa para nós”, diz Burney Le Boeuf, ecologista da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, e autor sênior do novo estudo publicado na Canadian Journal of Zoology. “Mas são essas reprodutoras que determinarão o futuro da colônia”.

Elefantes-marinhos-do-norte foram quase extintos pela caça indiscriminada no início do século 20, e compreender a estrutura de sua população pode informar os cientistas sobre como são capazes de se recuperarem.

Viver intensamente, morrer jovem

Le Boeuf e seus colegas haviam notado que a maioria das fêmeas observadas em Año Nuevo eram jovens, com poucos anos de vida. Como elas compõem a maior parte da população, os cientistas acreditavam que essas mães eram responsáveis pela maioria dos filhotes nascidos na colônia. Seus dados, no entanto, mostraram algo totalmente diferente.

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Quando os cientistas levaram em consideração quantas fêmeas filhotes sobreviviam tempo suficiente para acasalar e gerar netos, os cientistas perceberam que apenas 6% das fêmeas deu à luz a 10 ou mais filhotes, mas geraram cerca de 55% de todos os filhotes da colônia. Uma proporção ainda menor dessas supermães, menos de um por cento de todas as fêmeas, produziu até 20 filhotes em toda a sua vida.

Agora quase aposentado, Le Boeuf estuda esse viveiro de elefantes-marinhos desde que o viu pela primeira vez como um professor recém-formado pela Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, em 1967.

“Fiquei maravilhado com o que eu vi. Eu já fui escrevendo o pedido de pesquisa no caminho de volta ao campus”, diz Le Boeuf, que se tornou um dos primeiros cientistas a reconstruir a história de vida de uma espécie que passa boa parte do seu tempo no mar. Para monitorar elefantes-marinhos individualmente, Le Boeuf desenvolveu uma etiqueta plástica com uma combinação única de números e letras que poderia ser inserida de forma inofensiva na nadadeira posterior.

Os dados iniciais do projeto de longo prazo confirmaram algumas hipóteses. Quando as fêmeas chegam à maturidade, com cerca de quatro anos, elas geralmente começam a ter um filhote quase anualmente até morrerem. Algumas se tornam mães antes dos quatro anos, mas elas precisaram redirecionar energia para suas gravidezes, energia que normalmente seria direcionada ao seu crescimento e desenvolvimento, o que significou filhotes menores e com menos chances de sobreviverem. Essas mães jovens também apresentaram pesos corporais mais baixos e tinham uma maior propensão a morrerem jovens.

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A mortalidade dos filhotes também é alta devido aos predadores, à fome e ao abandono. No estudo, 75% morreram antes de geraram seus próprios filhotes. Isso é astronômico, especialmente quando comparado às melhores taxas de sobrevivência de seus primos, os elefantes-marinhos-do-sul, observa Elena Salogni, estudante de doutorado em biologia marinha  na Memorial University de Newfoundland, que já estudou ambos os grupos de elefantes-marinhos, mas não participou do estudo mais recente.

Mas as supermães tendem a criar filhotes sobreviventes. “Essas mães são maiores e mais experientes. Elas podem proteger melhor seus filhotes”, diz Salogni.

O trabalho destaca por que estudos de longo prazo sobre populações animais são tão importantes, ela adiciona: “A maioria dos estudos de curto prazo não leva em consideração a longevidade”. E neste estudo, essa é uma variável crucial. Quando só se pode ter um filhote por ano, a única forma de ter mais filhotes é vivendo mais.

E o que consiste em uma supermãe, Le Boeuf admite não ter certeza. “Se me pedissem para observar um grupo de elefantes-marinhos e apontar as supermães, acho que eu não seria capaz”, ele diz. Mas “de algum jeito, elas prosperam”.

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