Este tubarão foi atacado por uma lula das profundezas – revela imagem inédita

Uma enorme lula deixou marcas na pele de um tubarão que vive na superfície, indício de uma relação ainda desconhecida com criaturas do fundo do mar.

Por Joshua Rapp Learn
Publicado 11 de jun. de 2020, 08:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Um tubarão-galha-branca-oceânico de mais de dois metros de comprimento carrega marcas de sucção do tamanho de ...

Um tubarão-galha-branca-oceânico de mais de dois metros de comprimento carrega marcas de sucção do tamanho de bolas de golfe, provavelmente deixadas por tentáculos de uma lula. Diversas espécies de lulas grandes habitam as profundezas do Pacífico, incluindo a lula-gigante.

Foto de Deron Verbeck

Nas profundezas sombrias do Oceano Pacífico, próximo do Havaí, nos EUA, um tubarão travou uma luta contra o que pode ter sido uma lula-gigante – e sobreviveu para contar aos cientistas.

Os tentáculos do enorme cefalópode deixaram marcas de sucção do tamanho de bolas de golfe na pele do tubarão, um galha-branca-oceânico de mais de dois metros.

É a primeira evidência científica já registrada de um tubarão interagindo com uma lula-gigante ou qualquer outra espécie de lulas grandes, que vivem abaixo dos 300 metros de profundidade, segundo relato de pesquisadores em um novo estudo.

Disputas épicas entre cachalotes e lulas-gigantes são famosas, mas até agora ninguém tinha evidências de confrontos entre tubarões e cefalópodes gigantes.

Tudo começou no verão de 2019, quando o fotógrafo Deron Verbeck percebeu um tubarão na costa de Kona, no Havaí, com um padrão de pontos brancos nas laterais. Ele sabia que os cientistas identificavam os tubarões pelas cicatrizes, e decidiu tirou algumas fotos.

Ao visualizar as imagens no computador e dar zoom nos pontos, ele ficou surpreso ao ver uma série de anéis de sucção.

“Eu disse: 'Caramba!'”, conta Verbeck, que publicou a foto no Facebook.

Tubarão-galha-branca-oceânico (não é o animal envolvido no confronto) nada nas Bahamas. Os tubarões-galha-branca-oceânicos geralmente caçam na superfície, o que torna essa descoberta ainda mais intrigante.

Foto de Brian J. Skerry, Nat Geo Image Collection

Yannis Papastamatiou, ecologista de tubarões da Universidade Internacional da Flórida, em Miami, nos EUA, viu a foto e imediatamente entrou em contato com Verbeck.

“Ele me disse: tire essa coisa da internet! Ninguém nunca viu isso antes”, lembra Verbeck.

Papastamatiou e colegas descreveram a aparente interação em uma pesquisa publicada semana passada no periódico Journal of Fish Biology. Eles não sabem qual espécie de lula deixou as marcas – existem lulas grandes o suficiente que podem ter sido responsáveis por isso – mas, segundo Papastamatiou, “certamente era uma enorme”.

Esse tipo de descoberta é especialmente útil para a conservação dos tubarões-galha-branca-oceânicos, que estão gravemente ameaçados de extinção por causa da pesca comercial e do comércio de barbatanas. Por exemplo, ao saber que os tubarões-galha-branca-oceânicos são capazes de caçar em águas mais profundas, cientistas podem fazer recomendações a legisladores sobre as partes do oceano que precisam de proteção.

Batalha inédita nas profundezas

Papastamatiou adverte que é difícil tirar conclusões com base em uma fotografia. “O que mais me entristece é que nunca conseguiremos ver o que aconteceu”, diz ele.

Uma briga pode ter começado após os dois predadores terem se chocado, mas, ele especula, é mais provável que o tubarão tenha ido atrás da lula – possivelmente em busca de uma refeição.

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    A dieta dos tubarões-galha-branca-oceânicos é muito variada – diversas espécies de peixes e lula menores. Mas embora esses tubarões consigam atingir águas profundas, geralmente caçam próximo da superfície.

    Também é possível que a lula tenha começado a briga, mas a coautora do estudo Heather Bracken-Grissom, bióloga da Universidade Internacional da Flórida, nos EUA, afirma que não conhece nenhum relato de lulas caçando tubarões.

    “É mais provável que essa lula estivesse sendo atacada pelo tubarão e se defendendo”, disse ela em um e-mail, acrescentando que, com base nas cicatrizes de sucção deixadas no animal, o manto da lula, seu corpo, tinha quase um metro de comprimento. (Se somar o comprimento dos tentáculos, a lula teria cerca de oito metros.) Os pontos brancos menores provavelmente são cicatrizes menores de sucção, da parte mais estreita dos tentáculos.

    Grace Casselberry, doutoranda em ciências marinhas na Universidade de Massachusetts Amherst, nos EUA, que não participou do estudo, diz que nunca ouviu falar de tubarões se chocando com lulas grandes, e nunca observou marcas de sucção em um tubarão.

    Embora seja comum ver tubarões com cicatrizes, “não é comum descobrir o que as causou”, diz ela. “É muito bacana poder documentar uma interação dessas apenas por meio de marcas na pele.”

    Lulas no cardápio

    A pesquisa pode desvendar outros mistérios envolvendo tubarões.

    Shaili Johri, pesquisadora de pós-doutorado na Estação Marítima Hopkins da Universidade de Stanford, na Califórnia, há muito tempo se pergunta o motivo de os tubarões-brancos ficarem em uma parte aparentemente vazia do oceano. Ela e seus colegas chamam esse espaço de “lanchonete dos tubarões-brancos”.

    Uma de suas teorias é que os tubarões-brancos podem estar caçando lulas-gigantes em águas profundas.

    “Essa descoberta sobre os tubarões-galha-branca-oceânicos é importante e acompanha a nossa opinião sobre os tubarões-brancos”, diz Johri.

    Johri acrescenta que a análise do DNA de amostras coletadas da água, que podem conter vestígios de criaturas que passaram ou vivem naquela área, é capaz de revelar quais espécies de lulas habitam determinada parte do oceano, restringindo a lista de possíveis vítimas (ou culpadas) dessa desavença.

    O que esse confronto entre a lula e o tubarão mostra “é como o oceano é tridimensional”, diz Casselberry. “Nem sempre pensamos sobre as interações das espécies que ocupam diferentes profundidades.”

    Os animais que vivem em ecossistemas da superfície e das profundezas, antes considerados relativamente isolados uns dos outros, podem ter interações sobre as quais ainda desconhecemos, acrescenta Papastamatiou.

    Esses desentendimentos inesperados entre criaturas marinhas podem esclarecer como a cadeia alimentar oceânica está conectada – e fornecer informações sobre como ajudar a protegê-la.

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