Aluguel de galinhas vira moda durante a pandemia

Norte-americanos estão descobrindo que essas companheiras com penas fornecem mais do que apenas ovos a preços acessíveis.

Por Amy Thomas
Publicado 5 de mai. de 2021, 07:00 BRT
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Galinhas se tornaram animais de estimação populares durante a pandemia de covid-19. Essas aves podem viver até 10 anos.

Foto de Joël Sartore, Nat Geo Image Collection

KILLINGWORTH, CONNECTICUT, EUA “Oi, meninas”, diz John Farrugia ao abrir a porta de um galinheiro onde cerca de 50 galinhas cacarejam, arrulham e caminham empertigadas. Ele estende a mão e pega uma galinha marrom fofinha, embalando-a em seu braço. “Esta é uma galinha híbrida red cross”, diz ele, apontando para a crista e barbelas vermelhas na cabeça da ave. “Ela é um amor.”

Em breve, essa ave meiga estará aninhada nos braços de outra pessoa como uma galinha de aluguel do empreendimento de Farrugia, o CT Rent a Hen, do qual é coproprietário com a sócia Marisa Fabrizi.

Enquanto muitos norte-americanos adotaram cachorros ou gatos para lidar com as restrições de isolamento impostas pela pandemia de covid-19, outros buscam conforto na companhia de galinhas. Cuidar de aves domésticas pode suscitar uma sensação de autossuficiência e domesticidade, além de companheirismo semelhante ao que temos com mamíferos, afirmam os proprietários. Ah, e também ovos frescos todos os dias.

O conceito de aluguel de galinhas varia, mas a maioria das empresas fornece de duas a quatro galinhas poedeiras por um período de quatro semanas a seis meses (os galos geralmente são muito agressivos). Os animais são entregues com sua própria gaiola — que é à prova de predadores — comida, cama e materiais educativos. Os locatários também devem confirmar que têm espaço ao ar livre adequado para o desenvolvimento das aves.

A demanda por aluguel de galinhas aumentou em todo o país em 2020 — e 2021 parece seguir a mesma tendência, de acordo com diversas empresas. A CT Rent a Hen já alugou todas as 180 galinhas disponíveis em abril de 2021. No ano passado, a agenda estava esgotada até março, com uma lista de espera de 80 famílias. Na maioria dos anos, a disponibilidade de galinhas só acaba em junho.

“Atingimos nosso limite”, diz Phil Tompkins, dono da Rent The Chicken junto com sua esposa, Jenn Tompkins, que atualmente é a maior locadora de galinhas da América do Norte, com parceiros locais que fornecem galinhas em 26 estados dos Estados Unidos, além de diversas províncias canadenses. Normalmente, os Tompkins, que vivem em Freeport, no estado da Pensilvânia, alugam entre 45 e 55 gaiolas com galinhas por ano. Em 2020, eles alugaram 72 — um aumento de cerca de 30%.

Na RentACoop, com sede em Germantown, estado de Maryland, os aluguéis de gaiolas com galinhas mais que dobraram em 2020, passando de 50 a 60 galinhas para 120. “Foi muito difícil encontrar galinhas”, conta a coproprietária Diana Phillips, observando que os criadores estavam sem espécimes.

Diversas empresas também observaram um aumento na demanda por aluguel de aves ainda dentro dos ovos, em que os clientes podem incubá-los até a eclosão. Surpreendentemente, cerca de 10% dos locatários permaneciam com os filhotes recém-nascidos para criá-los, ressaltou Philips. “Até agora, isso nunca tinha acontecido antes”, declarou ela.

“Esses animais têm um jeito especial de conquistar as pessoas”, diz Farrugia, acrescentando que o aluguel é uma forma de baixo risco de experimentar como seria ter uma galinha.

As galinhas domésticas evoluíram do galo-banquiva originário da Ásia há cerca de oito mil anos.

Foto de Joël Sartore, Nat Geo Image Collection

“Parecem pessoas em miniatura”

Dependendo da raça — e existem dezenas delas — as galinhas podem pesar de 3,5 a 5,5 quilogramas e geralmente vivem entre cinco e 10 anos.

Sua produção de ovos é mais consistente entre as idades de cinco meses e quatro anos.

Mas vários fãs de galinhas afirmam que há muito mais nas aves do que apenas a postura de ovos. Por um lado, essas aves são compostores naturais e controlam pragas, comendo até 80 carrapatos por hora. Além disso, há o prazer de ver suas personalidades em ação.

“Falamos que é o reality show das galinhas”, brinca Whitney Gratton, de Takoma Park, no estado de Maryland, sobre assistir às suas duas galinhas limpando suas penas, tomando banhos na terra e cavando o quintal. Assim como aconteceu com muitas outras pessoas, a pandemia possibilitou que ela e seu marido trabalhassem de casa e os impediu de viajar, ou seja, acabando com os obstáculos comuns à posse de galinhas. “Eu me surpreendi por ter me apegado tanto a elas”, conta Gratton, que finalmente adotou suas duas galinhas, Lavender e Rhubarb, da RentACoop.

Natacha Springer, de Westport, no estado de Connecticut, achou que alugar galinhas seria uma boa distração para seus dois filhos, que estavam estudando em casa, com aulas on-line, durante a pandemia. “As crianças se apaixonaram logo de cara”, declarou Springer, principalmente seu filho de 13 anos, Max.

Ele assumiu a responsabilidade de cuidar das duas galinhas da Rent The Chicken, recolhendo as sujeiras, colocando-as na gaiola à noite, aplicando remédios quando pegavam ácaros e até mesmo iniciando um pequeno negócio local de venda de ovos.

Max contou que gostou de conhecer as diferentes personalidades das aves, descrevendo que variavam de “ansiosa” e “pensativa” a “superlegal”. “Elas parecem pessoas em miniatura”, compara ele.

Na verdade, as galinhas são tão complexas do ponto de vista cognitivo, emocional e social quanto outros animais de estimação, explica Lori Marino, neurocientista animal, fundadora e diretora executiva do Kimmela Center for Animal Advocacy, organização sem fins lucrativos com sede em Utah.

“As galinhas são um dos animais mais subestimados”, lamenta Marino, que revisou a literatura existente sobre a inteligência das galinhas em um artigo de 2017 publicado na revista científica Animal Cognition.

“A grande mensagem para refletirmos é que quando vemos galinhas bicando o chão, há muito mais coisas acontecendo do que se imagina.”

Por exemplo, as galinhas podem reconhecer várias outras galinhas como indivíduos, bem como acompanhar a hierarquia de cada ave na ordem de prioridade. Elas também conseguem distinguir quantidades de objetos; pintinhos recém-nascidos conseguem fazer cálculos aritméticos até o número cinco. Em um experimento, pintinhos reconheciam uma imagem parcialmente obscurecida de um triângulo vermelho, indicando que os animais conseguem imaginar objetos em suas mentes.

Propriedade responsável

Obviamente, apenas pessoas comprometidas e sérias em relação à propriedade de animais de estimação devem considerar alugar ou ter galinhas. É uma responsabilidade diária e, como outros animais, as galinhas podem ficar doentes e se machucar. Elas também atraem predadores, portanto, é fundamental garantir a segurança delas quando estiverem fora do galinheiro. “É preciso protegê-las, caso contrário, podem virar presas”, alerta Farrugia. 

Antes de cadastrar os locatários, verifica-se se eles têm condições de cuidar das galinhas, como espaço e tempo adequados. As galinhas precisam sair da gaiola para perambular livremente todos os dias, por exemplo.

Os locatários também podem ser questionados sobre outros animais da casa e do bairro — às vezes, os cães podem estressar as galinhas — o uso de agrotóxicos e muito mais.

Stephanie Rice de Columbia, estado de Maryland, adverte que “embora seja fácil cuidar das galinhas, no começo é uma curva de aprendizado”. Rice, que começou a alugar duas galinhas da RentACoop e agora possui quatro, descobriu que, por não ter um quintal cercado, teria que fazer um pequeno galinheiro que pudesse ser deslocado periodicamente para que as aves tivessem grama fresca para ciscar e explorar.

Um primeiro passo importante para alugar galinhas é conhecer as leis locais. “Mesmo que uma cidade permita a criação de aves, pode haver diretrizes específicas sobre o descarte de resíduos, a localização das gaiolas” e outros fatores, ressalta Jennifer Graham, professora associada de medicina zoológica de animais domésticos da Faculdade de Medicina Veterinária Cummings da Universidade de Tufts.

Graham, que estudou a saúde de galinhas de quintal, acrescenta que essas aves podem transmitir doenças infecciosas como a salmonela, portanto, lavar as mãos com frequência é essencial, assim como ficar atento ao contato com crianças menores de 5 anos e qualquer pessoa com sistema imunológico comprometido.

Para Rice, a alegria de abraçar uma galinha faz com que qualquer inconveniente valha a pena. Ela até pensa na possibilidade de ter mais galinhas de estimação depois que a pandemia de covid-19 se atenuar.

“Galinhas são viciantes”, justifica ela.

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